Opinião
Pobre Douro
Dos que já ouviram falar de Portugal poucos hão de ser os que possam sequer imaginar que a região em que se faz o celebérrimo Port Wine seja a mais pobre não só de Portugal, mas da Europa a Quinze, segundo nos revela o mais recente estudo do Eurostat sobr
Se há coisa que a natureza nos permite e que sabemos, os portugueses, fazer, ainda é o vinho. E o melhor (também o pior, mas não é isso que importa) vinho que se faz em Portugal é o que vem do Douro. E se há uma marca portuguesa de sucesso é a do Vinho do Porto. Mais serão neste planeta os que conhecem o Vinho do Porto do que os que algum dia tenham ouvido falar de um tal Portugal. Dos que já ouviram falar de Portugal poucos hão de ser os que possam sequer imaginar que a região em que se faz o celebérrimo Port Wine seja a mais pobre não só de Portugal, mas da Europa a Quinze, segundo nos revela o mais recente estudo do Eurostat sobre o PIB «per capita» das várias regiões europeias.
Haverá, seguramente, explicações económicas, históricas, antropológicas, sociais, políticas, eventualmente religiosas, parapsicológicas ou metafísicas, mas a explicação cuja necessidade se impõe sobre todas as outras é a moral: como se explica moralmente o facto de a região que produz a mais globalmente conhecida riqueza de Portugal ser a mais pobre não só de Portugal mas também da Europa a Quinze? Como se explica que os portugueses – durienses ou não – aceitem semelhante vexame, tamanha demonstração de incompetência para tornar PIB o que é preciosíssima riqueza?
Alimento de orgulho, o Vinho do Porto converte-se, diante da pobreza duriense, em razão de vergonha para qualquer português que tenha na coesão um valor que vá além das suas implicações economicistas e entre nos terrenos da equidade, da justiça e da felicidade humana.
E não vale atirar a culpa aos ingleses. O que os ingleses têm na história do Vinho do Porto é mérito – mérito na concepção do próprio produto, na sua divulgação mundo afora e na persistência com que, apesar de tudo, têm investido no Douro. O problema é nosso, está em nós, e cabe a nós enfrentá-lo. Sabemos que o Douro produz uma enorme riqueza, não sabemos como a transformar em conforto, esperança, segurança, cultura, educação, filhos ou, numa palavra, PIB.
Não se trata, evidentemente, de ajudar os pobrezinhos-do-norte, - coitadinhos, mas de identificar e resolver um problema que aflige (ou deveria afligir) o país. E nisso se inclui a cobrança das devidas responsabilidades – a começar pelas que cabem aos que lá vivem (é notável, por exemplo, a quantidade de lixo que se estende – deitado por quem? – ao longo das péssimas mas lindas estradas do Douro). A pobreza do nordeste português é um problema nacional (tanto quanto o Vinho do Porto é uma riqueza nacional) e como tal deve ser tratada. Sem paternalismos, mas com envolvimento e responsabilização de todos. O problema é nosso.
PS: No momento em que vos escrevo já chega a 109 o número de pessoas mortas pela Polícia de São Paulo na sequência dos ataques e assassinatos de polícias, na semana passada, pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), em São Paulo.
PPS: Nessa contabilidade não se incluem a mãe e o irmão de um dos líderes PCC, chacinados em casa na semana passada.
PPPS: O Governo de São Paulo recusa-se a divulgar os nomes dos mortos pela polícia na resposta ao ataque do PCC sob a alegação de que a identificação comprometeria as investigações. Sería risível se não fosse cínico.
PPPPS: O pior do massacre promovido pela Polícia de São Paulo é que já se sabia.
PPPPPS: Carros, rua!