Opinião
Os ubíquos Pina e Vitorino
A questão já foi levantada por Miguel Sousa Tavares: afinal, quem representa o deputado Pina Moura? Adivinha-se a resposta do presidente da Iberdrola Portugal: os eleitores da Guarda, círculo por onde foi cabeça-de-lista nas últimas legislativas.
Formalmente, estamos perante uma verdade factual.
Mas, embora a memória nos possa atraiçoar, não nos lembramos de qualquer iniciativa de Pina Moura enquanto representante do povo da Guarda. Ao contrário, a actividade profissional/privada do deputado tem eco frequente na comunicação social. Dir-nos-ão que – lendo o estatuto do deputado – uma função não é incompatível com a outra. O facto não invalida outras questões: é bom ser-se deputado e simultaneamente presidente de uma empresa que compete no mercado nacional?
Pina Moura dirá que sabe distinguir os planos das suas responsabilidades e, portanto, é indiferente. Poderá dizer – se for o caso – que ocupa parte do seu tempo no distrito por onde foi eleito. Mas não seria preferível orientar a sua reconhecida competência para uma única função? Seria, obviamente. Neste balancear entre a política e os negócios, há outros exemplos. Muitos não têm a exposição pública de Pina Moura. Ou a de António Vitorino, que decidiu suspender o seu mandato de deputado e deixar a presidência da Comissão de Assuntos Europeus para ocupar um lugar na União Europeia.
A pergunta é pertinente: por que razão Pina e Vitorino não dão lugar a outros? Não acham estranho que, estando no Parlamento, só se representem a eles próprios?
E o que pensa Sócrates e o PS destas ubiquidades?