Opinião
Os dois Josés da Europa
O futebol pode, de vez em quando, ser uma comédia que precisa de bons e vibrantes actores. Bem mais interessante do que os intrincados argumentos que são realizados em Bruxelas e desempenhados por estagiários cinzentos.
Essa é, talvez, a grande diferença como se olha para Portugal nos jornais europeus. Porque o nosso país é representado, lá fora, por duas personalidades opostas: o sr. José Barroso e o sr. José Mourinho. Sendo os dois «Josés», representam dois países que convivem no mesmo rectângulo à beira-mar especado. O sr. José Barroso é o símbolo do país que cresce convencionalmente, que é eleito por exclusão de partes e que gere de forma convencional, acompanhado à guitarra e à viola. O sr. José Mourinho é a junção do carácter com o génio naquilo que ele mais tem de surpreendente: a capacidade de risco.
O que é que liga estes dois homens? Unicamente o país onde nasceram.
A forma como o sr. José Mourinho tem causado em Inglaterra uma verdadeira tempestade à volta da sua figura tornou-o o «enfant terrible» de adeptos e jornalistas na chamada pátria do «fair-play». Muitos saudaram-no como o homem que ele era capaz de trazer ar fresco a um ambiente insalubre onde todos os que vêm de fora se adaptam à realidade futebolística britânica. À «cultura» que, exceptuando excêntricos como o foi o sr. Malcolm Allison, que chegava a dormir no banco durante os jogos de futebol porque eles estavam a ser «boring», sempre recusou contaminações exteriores. O sr. Mourinho trouxe essa vivacidade ao futebol britânico, porque não é o tipo de português que o sr. Barroso representa em Bruxelas. Mas, se este se esconde num jogo de sombras, o sr. Mourinho está talvez a ter a tentação de ser o actor principal, deixando para segundo plano aquilo em que é mestre: a sua capacidade de motivar jogadores e de criar equipas. E de fazer com que elas acreditem que podem triunfar.
Talvez daqui a uns anos todos se irão lembrar, na Europa, do sr. Mourinho e esquecer o sr. Barroso num parágrafo da sua história.Mas agora talvez o sr. Mourinho necessitasse de deixar de ser o actor principal de uma equipa que vive da sua dinâmica fora do relvado principal. Como lhe explicou o sr. Bobby Robson.