Opinião
Os Cisnes Negros
Nassim Nicholas Taleb considera-se mais um "epistemologista do acaso" do que um homem de negócios.
Nascido em 1960, este americano-libanês "reformou-se" do seu "emprego" de "trader" ao fim de vinte anos e editou, em 2007, o livro "O Cisne Negro" ("The Black Swan", no original), que o "Sunday Times" considerou uma das mais influentes obras do pós-guerra.
Do que o trabalho de Taleb trata é da conturbada relação do ser humano com o imprevisto e do seu determinante papel nas nossas vidas, tendo como ponto-de-mira a "gestão do risco e a criação de valor": para Taleb, temos uma má apreciação, enquanto seres humanos, dos riscos que vamos encontrando, tendendo sempre para respostas emocionais em vez de racionais, associadas a uma reincidente tendência para cometermos o erro de nos basearmos na experiência passada como forma de análise do risco futuro. Por hipótese indutiva, um indivíduo tende a confiar mais na sua própria percepção subjectiva do risco do que nos dados fornecidos pelo ambiente que o rodeia; como resultado, sobrestimamos as possibilidades e subestimamos os riscos. A metáfora do "Cisne Negro", com que Taleb deu título ao seu "best-seller", vem do facto de durante muito tempo, a Ciência estar convencida de que só haveria realmente cisnes de cor branca, até que (alargando-se a amostra), se descobriu que existiam realmente animais daqueles de cor negra; com a globalização e a interligação dos sistemas de capitais em todo o mundo desenvolvido, e a consequente dependência da política em relação aos negócios globais, a percepção do perigo dos "Cisnes Negros" vê-se tolhida por uma sociedade em frenesim comunicacional; e a vantagem associada a este risco - que seria a de alavancarmos a eficácia dos processos de decisão na assunção do improvável, criando valor e competitividade - fica comprometida.
Um "Cisne Negro" pode ser ao mesmo tempo uma fatalidade devastadora, ou um trunfo em potência, dependendo se conseguimos, como colectivo, admitir a dúvida e a incerteza como consequências naturais do aumento das nossas esperanças e ambições, ou se reincidimos em fazermos o diagnóstico baseados em factos cuja velocidade do tempo rapidamente torna obsoletos; procurando vã defesa no preconceito, pondo-nos à mercê, o crescendo de insegurança é inevitável. No panorama português, onde já basta de tanta superstição fatalista e redutora para refúgio dos néscios do costume, a Cultura é um "Cisne Negro". Esta semana, Pedro Passos Coelho chamou para si a importância da política cultural (*), afirmando que ela estará debaixo da sua alçada, por ser "transversal". Resta saber que ímpeto haverá, que visão do seu papel na recuperação da Economia e na estratégia de consolidação da nossa identidade, caso Passos chegue a primeiro-ministro; isto porque da afirmação da transversalidade nada se depreende de distintivo ou qualificante - que área da governação não deve ser transversal? Depois de seis anos de José Sócrates, compreende-se a declaração de Passos Coelho como franca, apesar de não mais do que voluntariosa, pelo menos para já - com efeito, estamos perante mais um caso em que um Executivo PS (incluo aqui autarquias) arrasa com o que de mais cívico e elementar existe no modelo de decência do Estado, para que depois qualquer desvario neo-qualquer-coisa - desde que assumido com "verdade" - possa ter lugar, legitimado apenas pelo desvario sócio-algo-pior que o precedeu. José Sócrates, ele próprio um "Cisne Negro" saído da degradação do projecto dos Estados Gerais às mãos do que de mais sinistro tem o aparelho do seu Partido, não verá, por vaidade ou resiliência, ou ambas, que o gigante dano causado pelas suas políticas só é ultrapassado em devastação pelo que se perdeu em dignidade, cidadania e, sobretudo, legitimidade democrática para sectores cruciais como, precisamente, a Cultura. Foram seis anos a preferir a percepção subjectiva do risco e a confiar na experiência passada como forma de analisar o risco futuro. Agora, os "cisnes" são em bandos.
(*) Na minha humilde opinião, o PSD tem, no desenvolvimento de uma política cultural
moderna e descomplexada, muito mais hipóteses de ganhar uma maioria absoluta à Esquerda,
do que na briga com Paulo Portas à Direita, por exemplo.
Do que o trabalho de Taleb trata é da conturbada relação do ser humano com o imprevisto e do seu determinante papel nas nossas vidas, tendo como ponto-de-mira a "gestão do risco e a criação de valor": para Taleb, temos uma má apreciação, enquanto seres humanos, dos riscos que vamos encontrando, tendendo sempre para respostas emocionais em vez de racionais, associadas a uma reincidente tendência para cometermos o erro de nos basearmos na experiência passada como forma de análise do risco futuro. Por hipótese indutiva, um indivíduo tende a confiar mais na sua própria percepção subjectiva do risco do que nos dados fornecidos pelo ambiente que o rodeia; como resultado, sobrestimamos as possibilidades e subestimamos os riscos. A metáfora do "Cisne Negro", com que Taleb deu título ao seu "best-seller", vem do facto de durante muito tempo, a Ciência estar convencida de que só haveria realmente cisnes de cor branca, até que (alargando-se a amostra), se descobriu que existiam realmente animais daqueles de cor negra; com a globalização e a interligação dos sistemas de capitais em todo o mundo desenvolvido, e a consequente dependência da política em relação aos negócios globais, a percepção do perigo dos "Cisnes Negros" vê-se tolhida por uma sociedade em frenesim comunicacional; e a vantagem associada a este risco - que seria a de alavancarmos a eficácia dos processos de decisão na assunção do improvável, criando valor e competitividade - fica comprometida.
(*) Na minha humilde opinião, o PSD tem, no desenvolvimento de uma política cultural
moderna e descomplexada, muito mais hipóteses de ganhar uma maioria absoluta à Esquerda,
do que na briga com Paulo Portas à Direita, por exemplo.