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22 de Setembro de 2003 às 14:15

Optimistas e pessimistas

Um plano para 2010 é um plano para duas legislaturas - ou menos. Como se os problemas estruturais da economia portuguesa fossem enquadráveis nos ciclos eleitorais.

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Dizia há dias António Borges, num jornal televisivo, que o Mundo estava, em termos de opinião e de análises sobre o futuro, dominado pelos pessimistas.

Talvez seja, mas no último fim de semana Borges conseguiu dois notáveis aliados. O FMI e o clube dos países mais ricos decretaram o fim da recessão e que a retoma está em curso. Claro que se trata de uma afirmação genérica mas garante a inversão da tendência: os optimistas passaram a dominar.

É uma mensagem de confiança para os agentes económicos e as famílias. O sinal de que “o pior já passou” e é altura de recomeçar a investir e a consumir. Apesar de a economia americana continuar a crescer sem gerar emprego, o que não pode deixar de desanimar as famílias americanas. Apesar de as duas maiores economias europeias não darem sinal de recuperação e o desemprego continuar a crescer na Europa .

A afirmação de que “a retoma está em curso” é moderada com a recomendação de políticas orçamentais sustentáveis – em directo para Washington, mas com alguns destinatários na Europa – e do avanço e aprofundamento das reformas estruturais nas economias europeias.

Não é ainda altura para embandeirar em arco. E no que nos diz respeito ainda menos. Ernâni Lopes, que, ao contrário de Borges, alinha nos pessimistas, dizia em Coimbra que o modelo estratégico da economia portuguesa está esgotado, embora tenha traçado saídas alternativas. Para que não lhe chamassem pessimista, presume-se.

O “esgotamento” de que fala Ernâni Lopes remete para as declarações de Frank Barry ao jornalista Luís Madureira, a propósito das condições que permitiram o “milagre irlandês” e o falhanço português na educação (ver pág. 4). Para Barry este é o factor crítico e Portugal está e continuará a estar atrasado em relação aos concorrentes europeus.

A Irlanda apostou estrategicamente na educação nos finais dos anos 60 e só 30 anos depois a economia irlandesa fez o “turn around”. Uma volta que lhe permitiu abandonar o grupo dos “pobres” da Europa, passar dos picos do desemprego para importador de mão de obra. Depois dos tigres asiáticos, afirmou-se o “tigre celta”. É verdade que algumas das condições para o milagre irlandês, como a língua, as afinidades históricas com os Estados Unidos e a coincidência da expansão da economia mundial com a abertura do mercado único europeu, são irrepetíveis, mas mesmo assim é possível aprender com ele.

Já há países do alargamento a aproximarem-se do modelo, tirando proveito dos altos níveis de formação da população e da maior proximidade ao centro da Europa, para atrair investimento em indústrias sofisticadas. Já se diz que os novos “tigres” virão do Leste.

Em Lisboa, o Governo apresenta um plano para 2010. Um plano para duas legislaturas. Como se os problemas estruturais da economia portuguesa fossem enquadráveis nos ciclos eleitorais (ou não fosse esse uma parte do problema). Os 30 anos que a Irlanda demorou a definir o plano, pô-lo em prática e recolher os resultados não nos ensinam alguma coisa?

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