Opinião
O último tango em Lisboa
Estamos perante um tempo novo na União Europeia. Concretizado o alargamento a vinte e sete, com novos desafios e oportunidades, a "reinvenção estratégica" da Estratégia de Lisboa ganha contornos de actualidade no contexto da Presidência Portuguesa no 2º S
Concretizado o alargamento a vinte e sete, com novos desafios e oportunidades, a "reinvenção estratégica" da Estratégia de Lisboa ganha contornos de actualidade no contexto da Presidência Portuguesa no 2º Semestre deste ano que deverá colocar a tónica central do seu consulado nas estratégicas questões da competitividade e qualidade social global dos cidadãos europeus. Um tempo novo suscita novos paradigmas. A necessidade de, olhando para trás, para a realidade do que foi feito, formular novas pistas de actuação. Consolidar os bons resultados, desenvolver novas soluções para o que correu menos bem.
A "ideia" do desígnio formulado em Março de 2000 em Lisboa é essencial para o futuro da União Europeia. Marca o ritmo da ambição de quem quer subir de forma clara no difícil ranking da competitividade, inovação e qualificação, as novas bandeiras da liderança no Mundo. Fazer do Conhecimento a matriz estratégica duma Plataforma Secular que se quer reencontrar nas fronteiras da Modernidade é a única aposta possível para a Europa a vinte e cinco. Por isso, em 2007, novamente em Lisboa, a oportunidade de fazer da revisão da "Estratégia de Lisboa" aprovada há sete anos o acto adequado da crença no futuro.
Um Novo Paradigma
São mais do que correctas as pistas constantes do posicionamento da nova "Estratégia de Lisboa", em fase de implantação. Ou seja:
– A estratégia decidida em Lisboa em 2000 continua a ser fundamentalmente relevante;
– Alcançar um crescimento mais forte do PIB e da produtividade e aumentar o emprego são pré-requisitos para o sucesso. Estes objectivos não são incompatíveis, antes se reforçam mutuamente;
– Os actores da Sociedade Civil têm que "agarrar" a oportunidade e fazer da sua capacidade de implementação o instrumento efectivo de operacionalização dos objectivos pretendidos com a "Estratégia".
O diagnóstico é claro. Não há outro caminho a seguir. Contudo, importa ser muito objectivo quanto aos resultados alcançados e repensar, quando necessário, a estratégia e os instrumentos utilizados. Nesta matéria, a análise atenta do que se tem passado na maior parte da União Europeia suscita conclusões muito claras:
– O modelo de criação de valor na maior parte dos sectores económicos na União Europeia continua a enfermar da falta de "leitura" estratégica dos novos "drivers" do crescimento – a "mecânica" de Porter e de outros discípulos da competitividade ainda não está suficientemente internalizada na prática da maior parte das empresas que a montante (utilização de recursos) e jusante (integração nos circuitos comerciais internacionais) patenteiam ainda falhas estruturais incompreensíveis;
– A dimensão social do paradigma europeu está esgotada. Novos desafios exigem soluções pragmáticas e claramente que a integração social e fomento da empregabilidade, próprios duma sociedade justa e equilibrada, têm que assentar na sustentabilidade do mercado económico e não (apenas) em dinâmicas artificiais de política pública meramente conjunturais. A justiça social potenciada pelo emprego tem que assentar na capacidade dos actores sociais criarem aquilo que recebem, para que o sistema funcione de forma sustentada;
– A aposta na Inovação Tecnológica tem que ser lida a partir do mercado e da fase final da Cadeia de Valor. Criar novos produtos e serviços, melhorar processos, qualificar a utilização dos circuitos internacionais, dando-lhes dimensão e escala, é o caminho exigido por quem procura. Continua a haver uma utilização inadequada de recursos e esforço em I&D a partir da Oferta, quando o pragmatismo da Economia Global o que exige é respostas claras, atempadas e marcadas pela criatividade;
– A relação dos Cidadãos com o Estado tem que, de uma vez por todas, ser clara, transparente e eficaz. Numa sociedade sem tempo, exigem-se respostas rápidas, simples e sobretudo potenciadoras do "valor" mais importante que é a noção da qualidade de vida no exercício do direito da cidadania. Por isso, importa qualificar e sustentar essa relação, cabendo ao Estado o papel central de criação das condições de salvaguarda dessa relação.
Prioridade à Execução
Há por isso ainda um longo caminho a percorrer. Mantém-se a oportunidade do desígnio, a validade da "Ideia". Não há claramente outra alternativa. Como também não há modelos únicos. Os sucessos irlandês e finlandês, tão marketizados a nível internacional, têm as suas valências endógenas que devem ser percebidas e internalizadas, mas há também que fazer assentar a riqueza do modelo global de inovação e crescimento da União Europeia no "commitment" económica e socialmente possível entre as diversidades dos diferentes países.
A capacidade dos actores da sociedade civil europeia protagonizarem uma atitude empreendedora na Economia Global é a chave da diferença. Na estratégia de afirmação das Cidades como espaços Dinâmicos de Criatividade, Competitividade e Coesão, na inteligência da articulação estratégia ente Empresas e Centros de Saber na procura de novas soluções para o mercado, estará a capacidade da União Europeia de mostrar que sabe o que quer. De ser respeitada pelos que estão na vanguarda e pelos que querem ter a sua oportunidade.
A prioridade está claramente na execução. Importa agora, mais do que nunca, criar as condições de efectiva implantação em cada um dos países dos objectivos propostos e sobretudo dar aos diferentes protagonistas da sociedade civil (Empresas, Universidades, Centros de Inovação) as condições práticas de efectiva operacionalização das suas diferentes acções. Não se pode correr o risco de fazer da "estratégia" uma mera bandeira política e de não conseguir que os cidadãos, seus beneficiários e protagonistas, a não "agarrem", limitando dessa forma o desiderato global que se pretende para esta nova União Europeia.
A União Europeia não pode fugir ao desafio. Manuel Castells está mais do que nunca presente. É essencial reforçar níveis de cooperação, articular estratégias de actuação, partilhar apostas de criação de valor. É preciso dar ao conhecimento o seu papel central.
Há um tempo novo para a "Estratégia de Lisboa". Um desafio global de todos os que ainda acreditam numa Europa para o futuro. Uma oportunidade, única e decisiva, de construir uma Rede Global que faça do mais velho continente o admirável mundo novo onde vale a pena viver. Lisboa não pode perder a oportunidade em 2007. Um último tango para poder perdurar durante muito tempo.