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O síndrome Supertramp

A crise faz parte de Portugal. Por isso qualquer anúncio sobre o fim da crise é sempre manifestamente exagerada. A crise, em Portugal, é como os vírus resistentes: é mutante e adapta-se. Alguns ainda se lembram quando em finais de 2006 o ministro Manuel Pinho decretou o fim da crise. Todos se riram da piada, menos o próprio.

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A crise faz parte de Portugal. Por isso qualquer anúncio sobre o fim da crise é sempre manifestamente exagerada. A crise, em Portugal, é como os vírus resistentes: é mutante e adapta-se. Alguns ainda se lembram quando em finais de 2006 o ministro Manuel Pinho decretou o fim da crise. Todos se riram da piada, menos o próprio.

A crise em Portugal sobrevive a todas as recuperações e recessões internacionais, porque é um vírus muito nosso. É por isso que quando Teixeira dos Santos diz, convicto, que "a crise vai ter um fim, vai acabar, não vai durar sempre", porque viu uns sinais "francamente positivos" de recuperação, é porque acredita no impossível. Portugal vai melhorar à custa de antibióticos internacionais, mas vai continuar com uma anemia genética.

Como escrevia há muitos anos Antero de Quental, os partidos "perderam a noção da realidade; e enquanto o mundo se transforma vão repetindo maquinalmente as costumadas teses duma filosofia caduca e que nem já compreendem". A crise não é só na economia do dia-a-dia. É, há muito, cultural e social. É isso que tolhe a criatividade, que impede a discussão crítica, que afoga a sociedade civil. Portugal é um país sem projecto e sobrevive de "trade offs" diários. É por isso que, nestes termos, é impossível decretar ou vislumbrar o fim da crise.

Teixeira dos Santos, geralmente um ministro com bom-senso, foi afectado pelo "síndrome Supertramp". Mas quem é que, em Portugal, pode cantar "Crisis, what Crisis" e acreditar no que está a palrar?
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