Opinião
O ruído de Cavaco
O silêncio presidencial é um conto de fadas. A fada boa diz que ele é demasiado silencioso. A fada má que ele fala demais. É claro que, na política portuguesa, as fadas são interpretadas sucessivamente por diferentes actores. PS e PSD trocam, geralmente, de...
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O silêncio presidencial é um conto de fadas. A fada boa diz que ele é demasiado silencioso. A fada má que ele fala demais. É claro que, na política portuguesa, as fadas são interpretadas sucessivamente por diferentes actores. PS e PSD trocam, geralmente, de personagem: quando um faz de fada boa, o outro faz de má. Está na altura de o PS fazer de fada boa. A tese foi muito bem explicada por António Vitorino, cada vez mais a voz que, estando fora do núcleo duro de José Sócrates no Governo, tem a candeia que ilumina o caminho. Aparentemente, para o PS, o silêncio de Cavaco é ensurdecedor. Para o PS, o silêncio de Cavaco é tão ensurdecedor como um concerto dos Metallica. Compreende-se o drama: como os lábios selados do Presidente produzem o ruído de mil camartelos, o Governo está incapaz de se concentrar para governar. Se juntarmos o silêncio ensurdecedor de Cavaco ao ruído do Parlamento, Portugal parece-se, para o PS, com o som das cataratas do Niagara. O PS, que, em maioria absoluta, sempre achou que podia governar afrontando Cavaco, pede agora uma palavra ao Presidente, para que este mande calar as oposições. Agora quer que ele trave o "ímpeto legislativo" da oposição. Compreende-se: o PS quer silêncio para governar. Quer também ter a ratoeira pronta para retirar o queijo do Governo quando for necessário. E dizer que a armadilha não funciona porque não tem condições para isso. O drama estará pronto para ser representado: o País está ingovernável e os culpados são as oposições e Cavaco. À falta de Hitchcock, o realizador será Quentin Tarantino.
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