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29 de Dezembro de 2011 às 23:50

O regresso do presidente "botóxico"

Quando um czar é ridicularizado, em vez de ser tratado com profundo respeito, é hora de pensar em abandonar o cargo ou preparar-se para um golpe palaciano. O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, que pretende encenar um regresso glorioso ao Kremlin como presidente nas eleições agendadas para Março de 2012, deveria reflectir nesta escolha.

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Este ano começou com uma vigorosa (de acordo com os padrões russos) petição online exigindo que Putin seguisse a primeira opção. Mais tarde todo o país se riu dele, quando, durante a habitual visita ao patriótico campo de verão gerido pela Nashi (movimento de jovens pró Putin), demonstrou a sua destreza física ao subir uma parede de escalada e depois perceber que não conseguia descer.

Agora os russos perguntam o que aconteceu à face do seu líder. Com uma pela mais lisa surgiram rumores de que Putin pode ter aplicado botox ou mesmo ter recorrido à cirurgia plástica. As piadas não se fizeram esperar. Recentemente, durante um mergulho em Krasnodar, no sul da Rússia, Putin recuperou, miraculosamente, duas antigas urnas gregas. Os risos dos russos tornaram-se homéricos quando o porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, revelou, inexplicavelmente, que as urnas tinham sido ali colocadas para dar a Putin um sentimento de importância.

Se eu não acreditasse na incompetência do estado russo, poderia suspeitar que existe uma conspiração para desacreditar Putin. Mas uma coisa é certa: Putin foi desacreditado. Após um recente combate de artes marciais entre os Estados Unidos e a Rússia, Putin, um apaixonado pelo judo, subiu ao ringue para felicitar o vencedor russo, membro do partido Rússia Unida. A audiência gritou: "Putin, vai para casa" até ele ir. A multidão parece dizer aos políticos para se afastarem dos desportos - e a Putin para sair da política.

Putin pensa que as suas proezas são essenciais para governar. Ele beijou golfinhos e bebés, salvou tigres e jornalistas, surgiu a cavalo de trono nu e a pé no deserto da Sibéria. Mas Putin, o artista, não tolera uma crítica negativa. Embaraçado pelo fiasco no combate de artes marciais, cancelou todas as aparições públicas não planeadas.

De facto, desde o incidente, Putin só compareceu em um evento - o Congresso da Rússia Unida - onde 600 delegados votaram, de forma unânime, a sua nomeação para candidato presidencial às eleições de 2012. Mas as eleições parlamentares de 4 de Dezembro, onde a Rússia Unida teve apenas 50% (normalmente o partido costuma ter cerca de 70%), tiveram que ser ferozmente controladas por um forte contingente policial. Os observadores foram assediados e obstruídos e os sites de monitorização foram encerrados ou atacados pelo governo. A missão de observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa registou que "a maioria dos partidos expressou uma falta de confiança na justiça do processo eleitoral".

A extravagante vaidade de Putin destruiu, em grande parte, a imagem de homem forte que Putin levou 12 anos a construir. As proezas e os liftings narcisistas - que deram resultado com o seu amigo Silvio Berlusconi (até deixarem de dar) - não inspiram medo ou respeito entre os russos, para quem um líder com mão-de-ferro sempre foi a escolha preferida. A imagem do homem duro da política perdeu-se para sempre. É sempre difícil assumir uma aparência despótica quando nem sequer se consegue mexer as sobrancelhas.

De facto, os russos interromperam Putin não porque ele transformou a Rússia numa república das bananas industrial, onde as exportações de petróleo e outras matérias-primas sustentam um estado quase autoritário mas porque ele já não desempenha o seu papel de forma convincente. No entanto, a origem do descontentamento com Putin é irrelevante. O desejo de liberdade tem que começar em algum lado. Desde que os russos sintam que têm poder para enfrentar o regime, mesmo que apenas com risos e desprezo, há esperança na mudança. E agora que os resultados eleitorais motivaram os maiores protestos desde o colapso da União Soviética, a esperança está a crescer. Quando um czar perde a sua imagem de omnipotência, perde também a sua autoridade.

Após o longo melodrama de Putin, as opções do Kremlin para uma sequela são bastante limitadas. Todos esperam que o actual presidente, o fantoche Dmitry Medvedev, troque de papel com Putin após as eleições de Março. Mas à espera está o antigo ministro das Finanças Alexei Kudrin, que pode substituir Medvedev caso a Rússia precise de um factótum sincero sobre as reformas económicas. A reputação de calma e competência de Krudin pode permitir a Putin obter mais algum tempo no poder.

Mas aos olhos de Putin, este cenário é muito pouco provável. O antigo e futuro presidente garante que já tornou a Rússia mais forte e que, à medida que a instabilidade financeira alastra em grande parte do mundo desenvolvido, o país tornou-se numa ilha de estabilidade invejada por muitos. Talvez, mas é difícil ser um líder heróico e, ao mesmo tempo, o alvo de piadas populares.

Putin é muitas vezes comparado a Estaline, mas nos nossos dias, e à medida que se aproxima o 20º aniversário do colapso da União Soviética, ele parece cada vez mais Leonid Brejnev - o símbolo de um sistema político que há muito atingiu o prazo limite. Só lhe falta a papada.

Nina Khrushcheva, autora de "Imagining Nabokov: Russia Between Art and Politics, é professora de assuntos internacionais na The New School e membro do Instituto de Política Mundial em Nova Iorque.

© Project Syndicate, 2011.

www.project-syndicate.org

Tradução: Ana Luísa Marques

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