Opinião
O regresso ao futebol como espectáculo
Não há hoje no Real Madrid uma equipa: há um conjunto de modelos, cuja «passerelle» é um relvado. No Barcelona há, pelo contrário, o recurso a grandes estrelas, mas todas elas actuam dentro de um espírito de equipa, para alegria dos espectadores. O do Bar
O jogo Real Madrid-Barcelona foi mais do que um grande espectáculo de futebol. Não se resumiu à competição entre o sr. Ronaldo e o sr. Ronaldinho. Não foi um puro braço de ferro entre o sr. Luxemburgo e o sr. Rijkaard. Não foi o ajuste de contas político entre o Barcelona que foi símbolo da resistência ao poder centralizador de Madrid, e o Real que o representava no aniversário do falecimento do sr. Franco, até porque o nome do seu estádio é o de um dos lugares-tenentes deste, o sr. Santiago Barnabéu. Foi, sobretudo, a recuperação de um velho debate: o futebol é um espectáculo ou é um negócio espectacular? O Real Madrid, desde a chegada à presidência do sr. Florentino Pérez à boleia do hoje esquecido sr. Figo, deixou de ser uma simples equipa de futebol. É um hipermercado de sonhos onde também estão disponíveis bolas, fintas e golos.
Os sucessivos treinadores do Real Madrid contrataram jogadores como se fossem estrelas pop: o que interessava era o seu valor comercial e quanto poderiam render em termos de venda de camisolas ou de abertura de novos mercados, como o do Oriente. Não há hoje no Real Madrid uma equipa: há um conjunto de modelos, cuja «passerelle» é um relvado. No Barcelona há, pelo contrário, o recurso a grandes estrelas, mas todas elas actuam dentro de um espírito de equipa, para alegria dos espectadores. O futebol do Barcelona é o espectáculo de um desporto de multidões. O Real Madrid é o espectáculo comercial com apenas alguns resíduos de futebol. A derrocada dos «merengues» mostra como a pura lógica comercial é incompatível com o futebol como um jogo de equipa. Quando o futebol se quis tornar um negócio como qualquer outro, muito por culpa da FIFA do sr. Havelange e da UEFA, criou o vírus da sua possível destruição. A vacina dá pelo nome de Barcelona.