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04 de Abril de 2008 às 13:59

O Quatro-Rodas de Mosley

Hoje fiquei a saber que o Ministro Finlandês dos Negócios Estrangeiros foi demitido por assédio sexual – concretizando, por enviar SMS a uma stripper. Isto quando, ainda por cima, o dito ministro – Ikka Kanerva – era membro do partido conservador, e se já

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Kanerva até parece que andava kanervado, porque enviou mais de 200 dos ditos, e provavelmente estaria confundido, pois um deles perguntava à senhora se tinha cuidado bem do seu jardim – o homem pensava que estava a falar com o jardineiro, ou quê?

Devo confessar, meus queridos leitores, que fiquei admirado. Não por o homem ter deixado de ser ministro, mas por um diplomata de profissão ser enviador de SMS nas horas vagas. Porque carga de água não agarrou o homem no telefone para telefonar, sendo os diplomatas reconhecidamente peritos no talking e mais avessos ao writing? Ou já agora, e em coerência com a tese da rapariga como jardineira, não o disse antes com flores? Os SMS eram para quê, para dar um ar moderno? Ou porque, também na Finlândia, se paga 0 e ele quis poupar no orçamento? Só se estivesse rouco, assim tipo Jerónimo em debate político, é que se pode entender. Pior que esta só a do jornal inglês que noticia que o senhor Max Mosley, patrão da Fórmula 1, foi filmado em cenas sadomasoquistas com cinco mulheres – como se pode acreditar em tal coisa, por parte do patrão das quatro rodas?

Voltando ao nosso ministro finlandês, resta, claro, a questão do assédio. Assédio até porque estes avanços se deram em várias frentes, pois o senhor também enviou SMS à irmã da dita stripper. A pergunta é: podemos criticá-lo por enviar SMS a uma stripper que ainda por cima integra um agrupamento de dança exótica chamado Bonecas Escaldantes? É verdadeiramente assédio? É esta situação um caso virgem, perdão, uma situação nova?

Meus queridos amigos, há que reconhecer que o assédio não morreu de velho porque não morreu. São inúmeros os exemplos ao longo da história de casos que qualquer tribunal americano dos dias de hoje não deixaria de assim classificar. E não é exclusivo dos homens, pois há-os (casos) patrocinados por mulheres. Aqueles que não me acreditam que se relembrem do caso de Cleópatra, que assediou César (o Júlio) de acordo com o princípio da salsicha: enrolada num tapete. E reza a história que foi bem sucedida, pois não foi o Júlio que lhe tirou o tapete, foi o Octávio.

O assédio não olha a classes sociais nem ao nível cultural dos povos, é feito entre os ricos e os pobres – por exemplo, diz o Manual do Mau Comportamento, do queniano Vayt ‘Mbora que "nos países desenvolvidos, o assédio é praticado entre os meninos maus das boas famílias e as meninas boas das más famílias". Não tem fronteiras geográficas, acontece em todos os continentes: relata o mesmo autor que nas sociedades tradicionais africanas de há três séculos atrás que a maneira mais comum porque se iniciava uma situação de assédio era pronunciando a expressão "Kétaztu Afazer", cuja tradução literal para a nossa língua (não havia SMS) é: "na tua palhota ou na minha?"

O assédio não escolhe profissões. Conta-se que a origem da expressão "entre marido e mulher não ponhas tu a colher" está numa pequena aldeia da Brutolávia, onde o cozinheiro era useiro e vezeiro em assediar as clientes. Diz-se também que na sociedade americana de hoje para designar o assédio está a nascer a expressão "charutada".

E as consequências do assédio, prova-o a História, podem ser devastadoras – veja-se o exemplo da guerra de Tróia, não a de Setúbal, a da Ásia Menor, onde o assédio à Bela Helena levou à destruição de uma cidade.

Em conclusão, meus queridos leitores, o assédio existe, é velho como o Homem (e a mulher) e está para durar, pois faz parte da natureza humana. Mas não para ser feito por SMS. Até porque o nosso ex-ministro Kanerva podia-se enganar numa tecla e mandar o SMS a perguntar se "tens cuidado do teu jardim?" a um finlandês de dois metros e dez e depois era bom que corresse bem depressa.

Frederico Bastião é Professor de Teoria Económica das Crises na Escola de Altos Estudos das Penhas Douradas. Quando lhe perguntámos o que tem a dizer sobre o senhor Mosley ser alegadamente sadomasoquista, Frederico respondeu: "Tenho muita pena que seja masoquista e não consigo compreender porque vai ele viver para Setúbal."

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