Opinião
10 de Novembro de 2009 às 11:28
O preço de (demasiado) menos Estado
Nunca o Estado esteve tão gordo. Nunca se falou tanto, pelo menos no passado recente, em emagrecer o Estado. Em Portugal e na Europa. Os excessos pagam-se sempre caro. Nos mercados, o pânico segue-se à euforia, numa repetição crónica com pelo...
Nunca o Estado esteve tão gordo. Nunca se falou tanto, pelo menos no passado recente, em emagrecer o Estado. Em Portugal e na Europa.
Os excessos pagam-se sempre caro. Nos mercados, o pânico segue-se à euforia, numa repetição crónica com pelo menos dois séculos documentados.
Na gestão da economia, a recente fé cega no poder auto-corrector de um mercado supostamente povoado por compradores e vendedores muito bem informados e racionais conduziu-nos à situação actual, tão grave hoje como durante os últimos dois anos.
A dimensão da dívida pública na Zona Euro - que poderá ser igual ao seu PIB em breve - é, em grande parte, a factura que a economia está a passar aos excessos de desregulamentação.
Ninguém defende obviamente a economia do "Estado em tudo" como acontecia na ex-União Soviética. Mas aprendemos, com uma dor que ainda vai durar algum tempo, que a desqualificação do Estado e a sua desresponsabilização, justificada em princípios de liberdade individual, são portadoras da catástrofe.
O Estado e o mercado têm falhas, têm virtudes e têm defeitos. O excesso de Estado produz colapsos como aqueles a que assistimos simbolicamente há duas décadas com a queda do muro de Berlim. O excesso de mercado, sem olhar às suas limitações, desenvolve a crise a que assistimos, que só não foi até agora mais grave graças... ao Estado. Nada nos garante que a situação não possa ser ainda mais dramática.
Quando nos confrontamos com as previsões da Comissão Europeia e com as exigências que faz de redução do défice público, não podemos ter uma visão animadora do futuro.
Países como a Espanha pagam o preço do encolher de ombros do Estado regulador em relação à loucura imobiliária. No Reino Unido, na Alemanha, em França... tal como nos Estados Unidos, o Estado engorda para compensar a dieta dos cidadãos e das empresas.
Em Portugal, a dimensão do défice público é a imagem - parcial - de mais de uma década durante a qual famílias e empresas viveram acima das possibilidades, com a benção do Estado.
Por aqui, o Estado engorda não apenas para evitar impor uma dieta, mas sim para combater a inanição em que o País entrou.
A recessão, proclama-se, acabou. Sim, de facto terá acabado seguindo a regra mediatizada da queda do PIB durante dois trimestres consecutivos. Mas tal como acontece quando se vive uma catástrofe, este é o momento em que nos confrontamos com a desgraça gerada pela recessão.
O abalo financeiro que vivemos durante os últimos dois anos continua a ser uma ameaça. Ainda não estamos completamente livres dele por causa da subida do crédito malparado. E os danos que causou e ainda vai causar na vida das empresas e das famílias só não é mais brutal porque os Estados moderaram, até agora, essa dor.
Basta pensar em Portugal. O Governo terá cada vez menos dinheiro para distribuir pelo País.
Por imposição de Bruxelas e por exigências de sensatez. A dívida pública portuguesa está a subir a uma velocidade perigosamente elevada para quem precisa de financiamento.
Na Europa, como em Portugal, uma nova recessão pode ser o inevitável preço de ter evitado uma Grande Depressão.
helenagarrido@negocios.pt
Os excessos pagam-se sempre caro. Nos mercados, o pânico segue-se à euforia, numa repetição crónica com pelo menos dois séculos documentados.
A dimensão da dívida pública na Zona Euro - que poderá ser igual ao seu PIB em breve - é, em grande parte, a factura que a economia está a passar aos excessos de desregulamentação.
Ninguém defende obviamente a economia do "Estado em tudo" como acontecia na ex-União Soviética. Mas aprendemos, com uma dor que ainda vai durar algum tempo, que a desqualificação do Estado e a sua desresponsabilização, justificada em princípios de liberdade individual, são portadoras da catástrofe.
O Estado e o mercado têm falhas, têm virtudes e têm defeitos. O excesso de Estado produz colapsos como aqueles a que assistimos simbolicamente há duas décadas com a queda do muro de Berlim. O excesso de mercado, sem olhar às suas limitações, desenvolve a crise a que assistimos, que só não foi até agora mais grave graças... ao Estado. Nada nos garante que a situação não possa ser ainda mais dramática.
Quando nos confrontamos com as previsões da Comissão Europeia e com as exigências que faz de redução do défice público, não podemos ter uma visão animadora do futuro.
Países como a Espanha pagam o preço do encolher de ombros do Estado regulador em relação à loucura imobiliária. No Reino Unido, na Alemanha, em França... tal como nos Estados Unidos, o Estado engorda para compensar a dieta dos cidadãos e das empresas.
Em Portugal, a dimensão do défice público é a imagem - parcial - de mais de uma década durante a qual famílias e empresas viveram acima das possibilidades, com a benção do Estado.
Por aqui, o Estado engorda não apenas para evitar impor uma dieta, mas sim para combater a inanição em que o País entrou.
A recessão, proclama-se, acabou. Sim, de facto terá acabado seguindo a regra mediatizada da queda do PIB durante dois trimestres consecutivos. Mas tal como acontece quando se vive uma catástrofe, este é o momento em que nos confrontamos com a desgraça gerada pela recessão.
O abalo financeiro que vivemos durante os últimos dois anos continua a ser uma ameaça. Ainda não estamos completamente livres dele por causa da subida do crédito malparado. E os danos que causou e ainda vai causar na vida das empresas e das famílias só não é mais brutal porque os Estados moderaram, até agora, essa dor.
Basta pensar em Portugal. O Governo terá cada vez menos dinheiro para distribuir pelo País.
Por imposição de Bruxelas e por exigências de sensatez. A dívida pública portuguesa está a subir a uma velocidade perigosamente elevada para quem precisa de financiamento.
Na Europa, como em Portugal, uma nova recessão pode ser o inevitável preço de ter evitado uma Grande Depressão.
helenagarrido@negocios.pt
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