Opinião
O plano tecnológico deve fazer a volta a Portugal
Aí está a Presidência Portuguesa da União Europeia. Neste novo acto que o nosso país uma vez mais vai protagonizar, a oportunidade para algumas reflexões sobre os novos desafios que mais do que nunca estão em cima da mesa. Um tempo novo suscita novos para
Consolidar os bons resultados, desenvolver novas soluções para o que correu menos bem.
Em tempo de Agenda de Lisboa, o Plano Tecnológico está mais do que nunca na ordem do dia. Marca o ritmo da ambição de quem quer subir de forma clara no difícil ranking da competitividade, inovação e qualificação, as novas bandeiras da liderança no Mundo. Fazer do Conhecimento a matriz estratégica duma Plataforma Secular que se quer reencontrar nas fronteiras da Modernidade é a única aposta possível para um Portugal que não pode deixar fugir a oportunidade. Por isso, em 2007, tendo por mote a nova Presidência, o Plano Tecnológico deve ter a ambição, como Agenda de Mudança, de dar a Volta a Portugal e estabelecer um “diálogo aberto” de discussão do futuro com os cidadãos deste país.
Um Plano para os Cidadãos
A Volta a Portugal que o Plano Tecnológico ao fim deste ano e meio de implantação deve protagonizar tem que se assumir acima de tudo como um Fórum Aberto de clarificação das apostas concretas que a Política Pública, em articulação com os diferentes Actores da Sociedade Civil, deve definir em sede do modelo de desenvolvimento económico e social para o território. Não se pode ter mais do mesmo e o tempo é de mudança ao nível da definição dos Pólos de Competitividade que devem ser seleccionados e dos recursos efectivos que devem ser alocados a uma estratégia voltada para a criação de valor centrada na inovação e conhecimento.
O diagnóstico é claro. Não há outro caminho a seguir. Contudo, importa ser muito objectivo quanto aos resultados alcançados e repensar, quando necessário, a estratégia e os instrumentos utilizados. Nesta matéria, a análise atenta do que se tem passado no nosso país suscita conclusões muito claras:
– O modelo de criação de valor na maior parte dos sectores económicos do país continua a enfermar da falta de “leitura” estratégica dos novos drivers do crescimento – a “mecânica” de Porter e de outros discípulos da competitividade ainda não está suficientemente internalizada na prática da maior parte das empresas que a montante (utilização de recursos) e jusante (integração nos circuitos comerciais internacionais) patenteiam ainda falhas estruturais incompreensíveis;
– A dimensão social do paradigma nacional está esgotada. Novos desafios exigem soluções pragmáticas e claramente que a integração social e fomento da empregabilidade, próprios duma sociedade justa e equilibrada, têm que assentar na sustentabilidade do mercado económico e não (apenas) em dinâmicas artificiais de política pública meramente conjunturais. A justiça social potenciada pelo emprego tem que assentar na capacidade dos actores sociais criarem aquilo que recebem, para que o sistema funcione de forma sustentada;
– A aposta na Inovação Tecnológica tem que ser lida a partir do mercado e da fase final da Cadeia de Valor. Criar novos produtos e serviços, melhorar processos, qualificar a utilização dos circuitos internacionais, dando-lhes dimensão e escala, é o caminho exigido por quem procura. Continua a haver uma utilização inadequada de recursos e esforço em I&D a partir da Oferta, quando o pragmatismo da Economia Global o que exige é respostas claras, atempadas e marcadas pela criatividade.
– A relação dos Cidadãos com o Estado tem que de uma vez por todas ser clara, transparente e eficaz. Numa sociedade sem tempo, exigem-se respostas rápidas, simples e sobretudo potenciadoras do “valor” mais importante que é a noção da qualidade de vida no exercício do direito da cidadania. Por isso, importa qualificar e sustentar essa relação, cabendo ao Estado o papel central de criação das condições de salvaguarda dessa relação.
Uma Agenda de Mobilização
Há por isso ainda um longo caminho a percorrer. Mantém-se a oportunidade do desígnio, a validade da “Ideia”. Não há claramente outra alternativa. Como também não há modelos únicos. Os sucessos irlandês e finlandês, tão marketizados a nível internacional, têm as suas valências endógenas que devem ser percebidas e internalizadas, mas há também que fazer assentar a riqueza do modelo global de inovação e crescimento de Portugal no “commitment” económica e socialmente possível entre as diversidades dos actores do território.
A capacidade dos actores da sociedade civil portuguesa protagonizarem uma atitude empreendedora na Economia Global é a chave da diferença. Na estratégia de afirmação das Cidades como espaços Dinâmicos de Criatividade, Competitividade e Coesão, na inteligência da articulação estratégia ente Empresas e Centros de Saber na procura de novas soluções para o mercado, estará a capacidade da União Europeia de mostrar que sabe o que quer. De ser respeitada pelos que estão na vanguarda e pelos que querem ter a sua oportunidade.
A prioridade está claramente na execução. Importa agora, mais do que nunca, criar as condições de efectiva implantação em cada um dos países dos objectivos propostos e sobretudo dar aos diferentes protagonistas da sociedade civil (Empresas, Universidades, Centros de Inovação) as condições práticas de efectiva operacionalização das suas diferentes acções. Não se pode correr o risco de fazer da “estratégia” uma mera bandeira política e de não conseguir que os cidadãos, seus beneficiários e protagonistas, a não “agarrem”, limitando dessa forma o desiderato global que se pretende para um Portugal voltado para o futuro.
Portugal não pode fugir ao desafio. Manuel Castells está mais do que nunca presente. É essencial reforçar níveis de cooperação, articular estratégias de actuação, partilhar apostas de criação de valor. É preciso dar ao conhecimento o seu papel central.
Há um tempo novo para o “Plano Tecnológico” Um desafio global de todos os que ainda acreditam num Portugal para o futuro. Uma oportunidade, única e decisiva, de construir uma Rede Global que faça deste país um admirável mundo novo onde vale a pena viver. Todos acreditamos no “Plano Tecnológico”. Como Agenda de Mudança, tem que estar presente em cada acto do dia-a-dia dos cidadãos deste país. Por isso, acreditamos e fazemos votos para que uma Volta a Portugal do Portugal Tecnológico seja mais um passo na afirmação de modernidade do país.