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28 de Dezembro de 2005 às 13:59

O pior serviço do mundo

Se, à entrada, tivesse encontrado um letreiro que me explicasse que «apenas vendemos o que está ao alcance das suas mãos», teria tratado de me fazer acompanhar por um qualquer agrupamento de trapezistas de circo ou de assaltantes de casas.

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Nestas circunstâncias, o grande armazém Ikea de Lisboa trata os seus clientes com sadismo: comprem, se puderem! ;-) eheheheh

Na passada semana, por necessidade de reequipar o escritório em que trabalho, decidi visitar o grande armazém Ikea de Lisboa. Depois de ter seleccionado um conjunto de meia dúzia de elegantes secretárias de trabalho e de mais uns quantos módulos de gavetas, dirige-me e de acordo com as instruções de uma prestável funcionária, a um corredor para escolher mais uma meia dúzia de cadeiras, que serviriam para emparelhar com o dito material de escritório. Acontece que as cadeiras em questões residiam na prateleira de um silo metálico, a cerca de quatro metros do solo. Confrontado com a impossibilidade física de as levar comigo, expliquei a questão a um outro funcionário, que me disse que só na manhã seguinte seria possível ter acesso às ditas cadeiras, uma vez que a empilhadora não funciona, por motivos de segurança, durante o horário de atendimento ao público do grande armazém Ikea de Lisboa. Meio baralhado com o facto de já arrastar meia dúzia de secretárias e de mais uns quantos módulos de gavetas e não conseguir saltar quatro metros acima do solo para levar comigo o que pretendia, dirige-me à caixa de pagamento, na esperança de que o empregado que me tinha vedado o acesso às cadeiras padecesse de um qualquer desequilíbrio mental. A simpática senhora da caixa, a quem naturalmente interroguei sobre a minha necessidade de juntar às secretárias e módulos de gavetas as respectivas cadeiras, explicou-me novamente que a política do grande armazém Ikea de Lisboa é a de vedar aos seus clientes o acesso à mercadoria que reside acima do metro e meio do solo, tendo-me adiantado que poderia voltar na manhã do dia seguinte, que provavelmente poderia adquirir as cadeiras que me ficariam em falta. Percebendo que o desequilíbrio mental residia não nos simpáticos funcionários da grande superfície, mas na gestão da mesma, solicitei a presença de um gerente de loja, o que foi prontamente resolvido com a presença de uma supervisora de caixa. A diligente menina explicou-me, pela terceira vez, que as cadeiras só na manhã seguinte, o que me obrigou – definitiva e irremediavelmente – a deixar para trás a meia dúzia de cadeiras e de módulos de gaveta que tinha previamente seleccionado. Entristecido com o facto de ter empenhado a minha hora de almoço para nada ter comprado, voltei para atrás e peguei num lindo cavalinho de peluche, «made in» China, apenas 9,90 euros e paguei-o desconsoladamente na caixa, na convicção de que o meu filho de dois anos o apreciaria devidamente.

Serve esta historieta para ilustrar o impacto de uma má comunicação junto do público: no caso do público «clientes». Porque o grave, nem é tanto a gerência da dita grande superfície tratar os seus clientes como idiotas, colocando-lhes as mercadorias que simula vender ao alcance dos seus olhos, mas fora da possibilidade real da compra. O que é aborrecido é que isto não é explicado senão pelos funcionários, quando interrogados sobre a situação. É uma questão de gestão das expectativas: se, à entrada, tivesse encontrado um letreiro que me explicasse que «apenas vendemos o que está ao alcance das suas mãos», teria tratado de me fazer acompanhar por um qualquer agrupamento de trapezistas de circo ou de assaltantes de casas, tanto uns como os outros mais habilitados a escalar alturas para de lá retirar proveito ou mercadoria. Nestas circunstâncias, o grande armazém Ikea de Lisboa trata os seus clientes com sadismo: comprem, se puderem! ;-) eheheheh

Bom proveito, meus senhores. Pela parte que me toca, parece-me que a conveniência dos vossos preços é assassinada pela inconveniência do vosso serviço. Ensina-se, na teoria geral do comércio e do marketing, que o cliente é rei. No Ikea, é o palhaço de serviço. Resta-me a alegria com que o meu rapaz recebeu o cavalinho de peluche, «made in» China, apenas 9,90 euros. E a inocência das crianças perdoa qualquer coisa. Boas entradas e Próspero Ano Novo.

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