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04 de Maio de 2012 às 12:48

O Merceeiro do Povo

Eis o meu relato da Guerra Civil das Promoções.

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"As pessoas deviam sentir que não têm direito ao emprego, mas sim ao trabalho"
Alexandre Soares dos Santos


"O samurai parece insignificante ao lado da sua armadura de dragão negro com escamas."
Tomas Tranströmer



Eis o meu relato da Guerra Civil das Promoções.

O Pingo Doce, no dia do trabalhador, resolveu "dar" 50% de desconto por cada cem euros de compras. Soares dos Santos foi Chávez por um dia. Depois da banqueira do povo, temos o merceeiro do povo.

Houve pessoas a lutar por comida. Feridos. As lojas Pingo Doce tiveram que fechar às 18.00 por segurança. Afinal, o Pingo Doce não conhece assim tão bem os portugueses. A confusão estava instalada em tantos supermercados que os homens da luta não sabiam a que Pingo Doce haviam de ir. Havia pancada, feridos e ambulâncias no Porto - deixo uma ideia: Jerónimo Martins Saúde. As pessoas indignavam-se: esta gente muda assim de cadeia de supermercados?! "Peseteros" - exclamava Belmiro.

São vários os relatos de lojas que fecharam as portas e de consumidores que começaram a bater nos vidros para a loja voltar a abrir. E pessoas que atropelavam outras, e indivíduos que roubavam carrinhos a outros clientes. Diz o Pingo Doce no seu livro de regras: "num ambiente de compra agradável com a garantia de elevada segurança alimentar e de um bom serviço ao cliente…" Ups! como o cliente era categoria D, o Pingo Doce baixou 80% a qualidade do serviço. Para o Pingo Doce, eram clientes marca branca - é tão bom quem ganha tão pouco.

Resumindo: juntaram a fome com a vontade de vender e tudo o povo levou. Só ficaram nas prateleiras meia dúzia de embalagens de champô para gatos persa e todos os livros do Carlos Cruz. A minha tia comprou Wc Pato que dá para pôr na borda do dilúvio. Só o Alberto João é que foi ao Pingo Doce do Funchal e gastou noventa e nove euros e noventa e nove cêntimos, porque é alérgico a poupar.

Para causar o caos final era só lançar o boato que o Continente estava a dar o dobro em dinheiro pelos produtos adquiridos no Pingo Doce. Acho que teria havido mortos no Pingo Doce se o Gaspar tem dito que os subsídios regressavam em 2014. O que é certo é que este dia vai baralhar a troika - fomos Hong Kong por umas horas. Por outro lado, lá para dia quinze as pessoas vão começar a pagar a bica com um pacote de fraldas.

Perguntam-me: esta campanha prejudica-me enquanto cidadão? Prejudica muito - mas não se mede em euros. Em euros, convém-me porque tenho duas crónicas escritas sem mexer uma palha. Prejudica-me no sentido em que demonstra que qualquer tipo com muito dinheiro brinca com o que é importante para muitos. Eu, se amanhã ganhar o euromilhões, ofereço quinhentos euros em marisco a quem não for votar .

Foi triste ver Arménio Carlos a dizer: Camaradas, hoje, vi tantas bandeiras vermelhas na secção de congelados! Agora, era giro os sindicatos marcarem, todos os anos, uma greve geral a 23 de Setembro, só para dar cabo do dia de anos do Alexandre Soares dos Santos.

A moral desta história é a seguinte: assim se prova como um feriado pode fazer muito pela economia do país. É inventar mais 10 feriados santos e upa, upa! Queremos o feriado de Todos os Soares dos Santos. É apostar no regresso do feriado do 1 de Dezembro com descontos de 50% para espanhóis. Uma campanha - Invadam-nos por um dia! - e vamos lá.







Piadas com 50% de descontos

1. Três horas seguidas de debate em directo entre Sarkozy e Hollande - Ainda bem que é o Hollande o candidato da esquerda. O Strauss-Kahn não conseguia estar tanto tempo sem… coiso. Ainda pensei que, na segunda parte, entrava a Merkel para o lugar do Sarkozy.

2. Uma coisa é certa: percebo melhor o Hollande em francês que o Seguro em português.

3. TDT: Desligamento definitivo do sinal analógico regista 2.264 chamadas - é desligar o sinal do telefone.

4. Já há números seguros da manifestação do 1 de Maio? A CGTP falava em 100 mil, o Pingo Doce dizia 5000.



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