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14 de Outubro de 2012 às 23:30

O melhor do mundo

Há semanas o Sr. Messi foi certeiro e mortal ao dizer: "Prefiro que me recordem como uma boa pessoa do que como o melhor futebolista do mundo". Terminava assim o célebre duelo em que se tenta entronizar apenas um futebolista. E elevou a discussão para o nível da moral e da ética, e não apenas para o dos resultados.

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Há poucas semanas, numa entrevista ao "El País", o Sr. Leo Messi foi certeiro e mortal. Dizia ele: "Prefiro que me recordem como uma boa pessoa do que como o melhor futebolista do mundo". Terminava assim o célebre duelo em que se tenta entronizar um futebolista, como se o futebol não fosse sobretudo um jogo colectivo. Mas o Sr. Messi elevou a discussão para o nível da moral e da ética e não apenas para o dos resultados, algo que o Sr. Cristiano Ronaldo nunca conseguirá fazer. Para o Sr. Messi uma boa pessoa é melhor do que um bom jogador. Para outros é mais importante ser o melhor mesmo que em termos morais não se seja. E isso diz tudo sobre as diferentes visões da sociedade que têm alguns defensores do Sr. Messi e alguns defensores do Sr. Ronaldo. Mas o Sr. Messi marcou pontos num tabuleiro onde o Sr. Ronaldo nem sequer joga. E com isso, indiferente a ser o melhor do mundo, o Sr. Messi ganhou o jogo moral.

Como o Sr. José Mourinho elegantemente disse, esta discussão sobre o "melhor do mundo", deveria ser proibida. Quer o Sr. Messi, quer o Sr. Ronaldo, são jogadores de outro planeta. Diferentes, mas igualmente determinantes. Com formas díspares de jogar com os seus colegas de equipa, com atitudes diferentes no balneário, com ideias diferentes do que deve ser a sua vida privada. Até porque esta discussão cheira mal. E perde de vista a beleza que qualquer um destes jogadores (mas também o esquecido Sr. Neymar, porque joga no Brasil) traz ao futebol, o desporto global por excelência. O jogo Barcelona-Real Madrid mostrou a irrealidade dessa discussão. Os clubes empataram. Cada um marcou dois golos. O Sr. Ronaldo e o Sr. Messi são igualmente bons, igualmente determinantes, igualmente de outra galáxia. Ninguém ganhou em Camp Nou. Ninguém? Não é o caso: ganharam os mais de 99 mil adeptos que estavam no estádio do Barcelona e os milhões que, em casa, viram um dos mais fabulosos jogos dos últimos anos. Mas mais do que os golos (e se assim fosse teríamos de chamar para esta discussão o Sr. Radamel Falcão) importa a classe. E é impossível discutir os dois sem as equipas que os cercam e os possibilitam a transcendência.

O jogo entre o Real Madrid e o Barcelona era também mais do que um duelo entre os dois grandes jogadores. Era um choque entre o nacionalismo catalão e o centralismo de Madrid com o seu ideal de Espanha, desenhado pelo conde de Olivares e que o Sr. Francisco Franco levou até às mais trágicas consequências. Mas essa luta era pequena comparada com a vitória do futebol global. O Sr. Messi e o Sr. Ronaldo transcendem a política e o nacionalismo. Dão prazer a quem gosta de futebol. É por isso que a discussão idiota sobre quem é o melhor do mundo é irreal. E a fixação nessa discussão uma desculpa para não se ver a arte do futebol despojada de sentimentos totalitários.
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