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O jovem, esse desconhecido

O que é a Sociedade Lomográfica Nacional? Tem uma embaixada em Portugal? Onde fica localizada? Cada vez que dirijo estas perguntas a uma plateia, descubro sempre duas ou três pessoas, invariavelmente jovens, que conhecem as respostas. Quando às outras, fi

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Em que pensam e o que sabem, afinal, esses seres exóticos a quem damos o nome de jovens? O que lhes vai no espírito? Como ocupam os seus tempos livres?

Ou ainda: qual a importância de tantos e tantos dos nossos jovens ignorarem quem foi o primeiro Chefe de Estado democraticamente eleito, quantos países integram a União Europeia e se o Partido Socialista dispõe ou não de maioria absoluta no Parlamento?

Aparentemente, os jovens desconhecem factos que os políticos reputam importantíssimos. Sê-lo-ão mesmo? E, ademais, invertendo o sentido do questionamento, não será também verdade que os políticos ignoram coisas que os jovens consideram de enorme relevância? O simples facto de necessitarem de recorrer a inquéritos por amostragem para saberem o que pensam os cidadãos juniores parece sugerir que sim.

De tão obcecados que andamos com a globalização, tendemos a esquecer um outro fenómeno de importância ao menos idêntica que corre a par dela. Refiro-me à crescente fragmentação dos modos de vida, dos interesses pessoais e das culturas.

Há uma escassa trintena de anos, os críticos sociais preveniam-nos contra os perigos da crescente uniformização e massificação dos modos de vida. Em vez disso, porém, a sociedade sofreu um acelerado processo de parcelamento, de modo que, após uma primeira fase de individualismo extremo, assistiu-se ao reagrupamento das pessoas em grupos relativamente pequenos, multiformes e instáveis. Alguns sociólogos chamam-lhes tribos urbanas: tribos, porque o cimento que as une não é primordialmente de natureza convencionalmente sócio-demográfica, mas cultural; urbanas, porque, ao contrário das comunidades primitivas assentes em laços de sangue e na partilha de um território, estas são fruto de escolhas individuais e a filiação nelas é cancelável a qualquer momento.

O lado maravilhoso desta nova realidade é a aliciante combinação de liberdade e pertença que ela proporciona ao cidadão, que já não se sente aprisionado a vínculos familiares, religiosos, ideológicos, profissionais ou geográficos limitativos do desenvolvimento da sua personalidade.

O problema é que, do mesmo passo, a sociedade esfarela-se em micro-comunidades que, embora as mais das vezes convivam pacificamente, pouco têm a dizer umas às outras, crescendo entre elas vastos espaços de indiferença. Paradoxalmente – ou talvez não – apenas trivialidades como o futebol, o culto das celebridades ou a cobertura mediática de crimes odiosos parecem hoje capazes de proporcionar aos cidadãos um terreno de interesses comuns. Muitos observadores inferem daqui erradamente que só essas superficialidades mobilizam as pessoas, mas esse equívoco resulta de os seus interesses mais profundos não se exprimirem no espaço público tradicional.

A primeira vítima do esvaziamento em extensão e profundidade do espaço público é, naturalmente, a política, na exacta medida em que a linha de demarcação entre “nós” e “eles” se torna mais fluida, provisória e até, para alguns, carente de sentido. Daí a preferência contemporânea dos jovens pela micro-política em desfavor das mobilizações de massa movidas por grandes princípios.

A preocupação com as consequências deste estado de coisas para a saúde da democracia é, pois, compreensível e legítima. O ponto de partida do debate não deveria, porém, ser aquilo que os jovens não sabem, mas aquilo que eles sabem e os restantes desconhecem, porque é aí que se oculta o potencial de transformação positiva da sociedade.

Voltando ao princípio, o que é então a Sociedade Lomográfica Internacional que mencionei a abrir este texto? Ora, nem queiram saber... Até porque nem toda a gente tem o direito de saber.

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