Opinião
O futebol como diplomacia
Em períodos de crise, o desporto torna-se um bom refúgio. Até porque pode potenciar outros negócios. A aquisição do Manchester City por um grupo do Abu Dhabi (desejoso de criar um "hub" desportivo no emirato) apenas seguiu sinais anteriores da compra de alguns dos maiores clubes ingleses por empresários estrangeiros.
Foi o que sucedeu com o Manchester United e o Chelsea, e essa tendência poderá ser seguida pela aquisição do Newcastle por empresários nigerianos. Ninguém se pode espantar. O futebol, enquanto negócio, deixou de ter nacionalidade. A ligação dos clubes às localidades ou aos países que os viram nascer deixou de fazer sentido. Não surpreende que os jogadores se tenham tornado legionários ou, numa expressão mais divertida, activos. São produtos da sociedade de consumo, e não atletas da idade da produção industrial. Nesse aspecto, o futebol, em Portugal, aproxima-se do absurdo: os clubes, mesmo as SADs, têm uma forte base de sócios, mas as equipas parecem-se cada vez mais com a Legião Estrangeira. Veja-se quantos estrangeiros jogam com as cores do FC Porto, do Benfica ou do Sporting. Os clubes tornaram-se centros de fluxos financeiros e de imagens sem pátria. Mas aí reside outro paradoxo do futebol português: nenhum emir se interessará por comprar um clube nacional, mas estes, mesmo pejados de jogadores de outras nacionalidades, têm feito mais pela presença portuguesa em África do que muitas iniciativas diplomáticas. Quando é que se perceberá este valor cultural?
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