Opinião
18 de Março de 2009 às 12:00
O efeito "boomerang"
A Organização Internacional do Trabalho prevê que, em 2009, mais 11 milhões de pessoas venham a cair na situação de desemprego. O número supera a população total de Portugal e, ainda assim, nada garante que a situação não venha...
A Organização Internacional do Trabalho prevê que, em 2009, mais 11 milhões de pessoas venham a cair na situação de desemprego. O número supera a população total de Portugal e, ainda assim, nada garante que a situação não venha a ser pior se as previsões que ontem foram conhecidas se confirmarem.
O Fundo Monetário Internacional deu razão às vozes mais cépticas e reviu, novamente em baixa, as suas projecções. A economia global vai experimentar uma retracção e a Ásia é a única excepção a este cenário. Resiste ao naufrágio das economias desenvolvidas e contraria as expectativas que davam como certa a impossibilidade de enfrentar, sem dor, a travagem mundial. Quanto aos dados positivos esgotam-se aqui.
Naquela que é a pior notícia que Teresa Ter-Minassian poderia trazer na manga na sua deslocação a Portugal, a Zona Euro vai ter um desempenho pior do que os Estados Unidos. Como as empresas portuguesas vendem mais bens e serviços para os parceiros europeus do que para o mercado norte-americano, parece óbvio poder concluir-se, como fez José Silva Lopes, que a economia nacional poderá encerrar este ano com um desempenho pior do que o ritmo negativo de 1,6% que ainda está nos registos oficiais do Governo e Banco de Portugal.
A quebra da actividade doméstica para a casa dos 3%, rondando aquilo que é esperado para a Zona Euro, antecipa um agravamento da pressão para o aumento da taxa de desemprego. Vítor Bento, que ontem também interveio na conferência em que participaram Silva Lopes e a conselheira especial do FMI, chamou àquela possibilidade a "via liberal" para a redução dos salários. No entanto, a avaliar pela forma como as empresas estão a reagir à crise, em Portugal e nos mercados europeus, o trilho dos despedimentos nem sempre tem sido seguido como primeira prioridade por quem tem a possibilidade de optar por outras vias quando se trata de cumprir o objectivo de ajustar os custos à descida do volume de negócios.
Os encargos gerados pelos despedimentos podem apresentar-se como demasiado pesados para serem encarados como primeira escolha. E a dispensa de mão-de-obra pode vir a abrir, a prazo, lacunas difíceis de preencher perante a retoma das economias. Nestas situações, despedir esbarra na racionalidade das decisões de quem quer estar em actividade quando o pior da crise passar.
Aparentemente, o facto de uma boa parte das empresas portuguesas inquiridas num estudo da Mercer revelar não estar a fazer planos para reduzir os seus efectivos é um sinal de que um dos desafios actuais de quem gere é o de evitar contribuir para agravar a crise. O receio de criar um efeito "boomerang" condiciona as decisões. Mais desempregados, com escassas hipóteses de serem reintegrados no mercado de trabalho a curto prazo, significam menos consumidores disponíveis para assegurarem a sustentabilidade dos negócios.
A questão está em saber até que ponto as empresas terão a possibilidade de se sustentarem antes de terem que recorrer à extinção de postos de trabalho, quando as circunstâncias não lhes derem outra margem de manobra. Os novos números do FMI sobre o crescimento acrescentam mais ameaças do que alívio.
O Fundo Monetário Internacional deu razão às vozes mais cépticas e reviu, novamente em baixa, as suas projecções. A economia global vai experimentar uma retracção e a Ásia é a única excepção a este cenário. Resiste ao naufrágio das economias desenvolvidas e contraria as expectativas que davam como certa a impossibilidade de enfrentar, sem dor, a travagem mundial. Quanto aos dados positivos esgotam-se aqui.
A quebra da actividade doméstica para a casa dos 3%, rondando aquilo que é esperado para a Zona Euro, antecipa um agravamento da pressão para o aumento da taxa de desemprego. Vítor Bento, que ontem também interveio na conferência em que participaram Silva Lopes e a conselheira especial do FMI, chamou àquela possibilidade a "via liberal" para a redução dos salários. No entanto, a avaliar pela forma como as empresas estão a reagir à crise, em Portugal e nos mercados europeus, o trilho dos despedimentos nem sempre tem sido seguido como primeira prioridade por quem tem a possibilidade de optar por outras vias quando se trata de cumprir o objectivo de ajustar os custos à descida do volume de negócios.
Os encargos gerados pelos despedimentos podem apresentar-se como demasiado pesados para serem encarados como primeira escolha. E a dispensa de mão-de-obra pode vir a abrir, a prazo, lacunas difíceis de preencher perante a retoma das economias. Nestas situações, despedir esbarra na racionalidade das decisões de quem quer estar em actividade quando o pior da crise passar.
Aparentemente, o facto de uma boa parte das empresas portuguesas inquiridas num estudo da Mercer revelar não estar a fazer planos para reduzir os seus efectivos é um sinal de que um dos desafios actuais de quem gere é o de evitar contribuir para agravar a crise. O receio de criar um efeito "boomerang" condiciona as decisões. Mais desempregados, com escassas hipóteses de serem reintegrados no mercado de trabalho a curto prazo, significam menos consumidores disponíveis para assegurarem a sustentabilidade dos negócios.
A questão está em saber até que ponto as empresas terão a possibilidade de se sustentarem antes de terem que recorrer à extinção de postos de trabalho, quando as circunstâncias não lhes derem outra margem de manobra. Os novos números do FMI sobre o crescimento acrescentam mais ameaças do que alívio.
Mais artigos do Autor
As desculpas do costume
19.11.2013
A concorrência é uma maçada
18.11.2013
A Irlanda mostra como é
15.11.2013
O silêncio da artilharia
11.11.2013
(Des)emprego a duas velocidades
08.11.2013
Uma almofada na crise
04.11.2013