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O curto prazo

Os japoneses gostam de apreciar as cerejeiras em flor. E, por isso, perdem um tempo infinito com o ritual do "hanami". Mas perdem ou, pelo contrário, ganham? É que por isso a sua visão do mundo é diferente da nossa. As sociedades...

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Os japoneses gostam de apreciar as cerejeiras em flor. E, por isso, perdem um tempo infinito com o ritual do "hanami". Mas perdem ou, pelo contrário, ganham? É que por isso a sua visão do mundo é diferente da nossa. As sociedades modernas ocidentais tornaram-se reféns do curto prazo. As empresas vivem ao ritmo dos relatórios trimestrais e dos ganhos dos accionistas. A classe política hipnotizada com as sondagens e com os ciclos eleitorais. O longo prazo é uma chatice, pensam. Tornámo-nos uma sociedade de accionistas e de consumidores e não de cidadãos que poupam. O curto prazo transformou-se no monstro das bolachas de políticos, empresários e consumidores. Poucos recordam Oscar Wilde, quando este dizia: "a obra de arte deve dominar o espectador. O espectador não deve dominar a obra de arte". Por isso a mensagem de Ram Charan, em Lisboa, foi uma flecha de Guilherme Tell: acertou no alvo. Quando se pensa apenas no curto prazo, esquece-se a sociedade. Esquecemos que as crises financeiras, como as epidemias, ceifam primeiro os que não têm meios de defesa. No meio da crise de confiança, há sobretudo uma janela de oportunidade para recentrar o debate social. Por isso a decisão da EDP em aumentar os salários acima da inflação é um sinal de inteligência e visão. Sem dinheiro não há consumo nem há democracia. Há que não ser nem Tio Patinhas nem Bernard Madoff. O problema é que a ideologia do curto prazo ainda é hegemónica no Ocidente: devoramos cerejas, mas não temos tempo para as ver crescer.
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