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O cobrador de fraque

Resolver o eterno problema da dívida, que Luanda acorda mas nunca paga, é condição “sine qua non” para os investidores portugueses levarem Angola a sério. É por isso que esta viagem de Barroso fracassou.

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José Manuel Durão Barroso saiu ontem de Angola por entre abraços, sorrisos e juras de amizade eterna. Mas com a dívida por saldar.

Dito de outra forma, o assunto político eventualmente mais embaraçante nas relações bilaterais voltou tal qual estava antes da partida. Por mais explicações que dê, por muito que lhe custe reconhecer, o primeiro-ministro fracassou.

Fracassou, porque esta foi a grande ofensiva diplomática que Durão Barroso do seu mandato. Dificilmente o primeiro-ministro voltará a encher aviões com cinco centenas de representantes da nata empresarial e financeira portuguesa, convencendo-os a passar quatro dias naquele ou num outro qualquer país. Fracassou, porque resolver o eterno problema da dívida, que Luanda acorda mas nunca paga, é condição “sine qua non” para investidores portugueses levarem Angola a sério.

Aliás, até há bem pouco tempo, a resolução da dívida angolana – cujo acordo de princípio foi assinado em Novembro e, desde então, há um ano, rigorosamente nada aconteceu – era condição “sine qua non” para que esta mesma viagem se realizasse.

Político experiente e conhecendo aquele país, Durão Barroso sabia que, mais que retórica, precisava de coisas concretas para os empresários acreditarem que Angola é um país novo, portanto, confiável.

É por isso que esta viagem de Barroso fracassou. Porque retórica e dívida são os resultados políticos que traz. Outra retórica e a mesma dívida. Outra retórica, porque naturalmente surgiram perspectivas de novos negócios.

Há, efectivamente, empresários nacionais que acreditam na irreversibilidade da paz. Mas a diferença entre os “negócios desta viagem” e outros, muitos outros que já germinavam antes, é que, desta vez, havia jornalistas a assistir. Sendo Angola uma prioridade assumida pela nossa diplomacia, tendo levado tanta gente importante consigo, por que quis Durão Barroso realizar esta viagem agora, se noutras ocasiões já a tinha adiado pela fragilidade de garantias? E sendo Angola amiga de Durão Barroso, sendo ele tratado de “camarada”, ao que dizem com carinho, pelo “establishment” do MPLA, por que raio o deixaram partir com uma mão vazia e outra cheia de nada?

Bem, a pressa desta visita deve-se ao facto de Lula da Silva iniciar dentro de dias um périplo africano, com passagem por Luanda, à frente de uma delegação com muitos ministros e empresários. Várias reuniões de negócios estão marcadas, em sectores que nos interessam especialmente: energia, construção e outras indústrias.

A nossa comitiva empresarial, em cumplicidade com o Governo, aceitou mobilizar-se às pressas para se anteciparem aos brasileiros. Aqui começou o problema: enquanto Lisboa preparava a “jogada de antecipação”, Luanda percebia que isto era “ir a reboque”.

A situação ideal para a vingança: é que os angolanos não entendem, não perdoam, o regime excepcional de regularização de imigrantes ilegais que Portugal recentemente concedeu aos brasileiros. Só aos brasileiros?!! Então, se é a dívida que queres camarada, será a dívida aquilo que não levas.

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