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O cartola e os galácticos

O sr. Ibrahimovic, que custou 23 milhões de euros, vai ganhar 14 milhões de euros por ano no Paris Saint-Germain, com dinheiros do Qatar. A França, mais próxima da austeridade, assusta-se enquanto os adeptos festejam. O futebol é assim. Cheio de contradições típicas desta época sem certezas

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Enquanto os dirigentes dos clubes portugueses começam a estar nervosos porque ainda não conseguiram vender os craques necessários para dar fôlego às suas monumentais dívidas, o dinheiro não parece faltar na Europa. O PSG, imponente após a chegada do Sr. Al-Khelaifi do Qatar, esbanja dinheiro em reforços "galácticos" para tornar Paris o paraíso do futebol. O Sr. Ibrahimovic, que custou 23 milhões de euros, vai ganhar 14 milhões de euros por ano.

A França, mais próxima da austeridade, assusta-se enquanto os adeptos festejam. O futebol é assim. Em Inglaterra, os cheques vão aparecer para comprar mais craques. E, na China, começa a haver muito dinheiro para aliciar o Sr. Drogba e outros. O mundo está em crise, mas o futebol não se queixa. Afinal vivemos na sociedade do espectáculo.

O futebol é, hoje, mais do que um negócio. Porque também já é mais do que um espectáculo. Olhe-se para a queda livre que arrastou o Sr. João Havelange e o Sr. Ricardo Teixeira, que dominaram o futebol brasileiro nas últimas cinco décadas e a poderosa FIFA durante quase tanto tempo. Não foi uma irmandade feita de acasos: o Sr. Teixeira casou com a filha do Sr. Havelange. Ambos, na linguagem brasileira, eram considerados cartolas, ou seja, dirigentes desportivos influentes com uma conotação pejorativa. Eram populistas e desprezavam a opinião dos outros. Há pouco tempo o Sr. Havelange confessava: "Quando eu era presidente da FIFA choviam telegramas e presentes. Agora todos sumiram".

Ambos caíram por diferentes razões. O Sr. Joseph Blatter, actual presidente da FIFA, e que foi fiel aliado do Sr. Havelange durante duas décadas, e determinante para a escolha do Brasil para o Mundial de 2014, sentiu-se traído. O Sr. Teixeira queria o lugar do Sr. Blatter e não só apoiou um candidato alternativo a ele como excluiu a FIFA da organização do Mundial no Brasil. A resposta foi célere: o relatório sobre as ligações entre o Sr. Havelange e o Sr. Teixeira e a ISL, empresa já desaparecida, e que ficou com os direitos de transmissão dos mundiais de futebol e dos Jogos Olímpicos (o Sr. Havelange também esteve ligado ao Comité Olímpico Internacional deste a década de 1930) é demolidor. Havia muitas provas de que milhões de suíços francos voaram através do Liechenstein para bolsos quentes.

O Sr. Ricardo Teixeira caiu da Confederação Brasileira de Futebol em Março. O Sr. Havelange deixou o cargo de presidente honorário da FIFA. A Sra. Dilma Rousseff, que queria afastar o Sr. Teixeira e calar a "bancada da bola", de deputados brasileiros ligados aos interesses da CBF, esfregou as mãos com a depuração. Mas o certo é que este futebol global está cada vez mais dependente de milhões flutuantes, que compram craques e adquirem interesses. O futebol como desporto e como espectáculo é hoje, sobretudo, um negócio. Nem sempre transparente.

fsobral@negocios.pt

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