Opinião
O “businão” de Sócrates?
As greves dos camionistas já são uma banalidade mas nem por isso têm menos impacto. Desde que, em 1972, um protesto das empresas de transporte de mercadorias criou o caos no Chile e deu argumentos ao golpe que derrubou Allende, que os camionistas perceberam a sua força e passaram a usá-la.
As greves dos camionistas já são uma banalidade mas nem por isso têm menos impacto. Desde que, em 1972, um protesto das empresas de transporte de mercadorias criou o caos no Chile e deu argumentos ao golpe que derrubou Allende, que os camionistas perceberam a sua força e passaram a usá-la.
Os bloqueios de camionistas são uma arma terrível. Cada vez mais terrível, tendo em conta o peso crescente do transporte rodoviário no movimento de mercadorias, uma tendência que, apesar da pesada factura em termos energéticos e ambientais, os governos nunca foram capazes de contrariar, promovendo a alternativa ferroviária.
Com a escalada dos preços do petróleo, os transportadores são dos mais directamente atingidos. Se o custo do combustível representa 60% dos custos de um camião, é inevitável que os aumentos se repercutam no preço dos fretes. E num mercado aberto, também se percebe que os transportadores portugueses perdem competitividade com o diferencial do preço do gasóleo em relação a Espanha.
O aumento dos combustíveis, a comparação com Espanha e um tecido empresarial muito pulverizado produzem o caldo de cultura para a acção de protesto iniciada à meia noite de hoje. O facto de ser uma acção decidida por um grupo de transportadores de pequena e média dimensão e à revelia da organização sectorial, que continua a negociar com o Governo, é um sinal da dimensão da crise e da conflitualidade que dela emergiu. Como se se tivessem ultrapassado todos os limites da paciência e as vias institucionais de representação já não fossem suficientes para acomodar a revolta.
Mas ao contrário do que sucedeu da pesca, que uniu os armadores e os pescadores, neste caso não há consenso entre os empresários e os motoristas. De tal forma, que os sindicatos apelam aos seus associados para não se associarem à paralisação e lutarem pelo direito ao trabalho. Pelos contornos que o protesto está a tomar, poderemos estar a caminho de uma situação de "lock out", o que é inconstitucional.
O que se passa em Portugal está longe de ser caso único. Paralisações de camionistas e outras formas de luta estão em curso um pouco por todo o lado: organizadamente em Espanha e França e espontaneamente em Inglaterra onde, há dias, uma manifestação de camionistas provocou o caos nos acessos a Londres. No Chile, de novo, uma greve de vários dias chegou ao fim no passado sábado, depois de os camionistas terem conseguido do Governo a redução do imposto sobre o gasóleo.
Perante este cenário o Governo não tem vida fácil. Este é o tipo de exercício que exige firmeza sem arrogância. Porque os profissionais dos transportes enfrentam uma conjuntura particularmente difícil mas não é legítimo que as suas formas de luta possam prejudicar ainda mais outras empresas, que também já são prejudicadas pela deterioração da situação económica e a alta dos combustíveis.
A última coisa que o Governo deve fazer é ceder nas exigências de descida dos impostos, que significaria sempre dar sinais errados ao mercado. Numa altura que os combustíveis atingem picos - e o pior ainda pode estar para vir - todas as medidas devem apontar para a necessidade de racionalizar o consumo.
Outro sinal errado é falar do recurso a verbas do QREN para apoiar conjunturalmente o sector. Já se desconfiava que o QREN ia acabar ao serviço da gestão da conjuntura em vez de cumprir os seus objectivos de contribuir para a requalificação da economia portuguesa.
O "buzinão" dos camionistas na Ponte 25 de Abril marcou o princípio do fim dos governos de Cavaco Silva. O que se passar a partir de hoje nas estradas portuguesas pode dizer-nos alguma coisa sobre o futuro dos governos de José Sócrates.
Os bloqueios de camionistas são uma arma terrível. Cada vez mais terrível, tendo em conta o peso crescente do transporte rodoviário no movimento de mercadorias, uma tendência que, apesar da pesada factura em termos energéticos e ambientais, os governos nunca foram capazes de contrariar, promovendo a alternativa ferroviária.
O aumento dos combustíveis, a comparação com Espanha e um tecido empresarial muito pulverizado produzem o caldo de cultura para a acção de protesto iniciada à meia noite de hoje. O facto de ser uma acção decidida por um grupo de transportadores de pequena e média dimensão e à revelia da organização sectorial, que continua a negociar com o Governo, é um sinal da dimensão da crise e da conflitualidade que dela emergiu. Como se se tivessem ultrapassado todos os limites da paciência e as vias institucionais de representação já não fossem suficientes para acomodar a revolta.
Mas ao contrário do que sucedeu da pesca, que uniu os armadores e os pescadores, neste caso não há consenso entre os empresários e os motoristas. De tal forma, que os sindicatos apelam aos seus associados para não se associarem à paralisação e lutarem pelo direito ao trabalho. Pelos contornos que o protesto está a tomar, poderemos estar a caminho de uma situação de "lock out", o que é inconstitucional.
O que se passa em Portugal está longe de ser caso único. Paralisações de camionistas e outras formas de luta estão em curso um pouco por todo o lado: organizadamente em Espanha e França e espontaneamente em Inglaterra onde, há dias, uma manifestação de camionistas provocou o caos nos acessos a Londres. No Chile, de novo, uma greve de vários dias chegou ao fim no passado sábado, depois de os camionistas terem conseguido do Governo a redução do imposto sobre o gasóleo.
Perante este cenário o Governo não tem vida fácil. Este é o tipo de exercício que exige firmeza sem arrogância. Porque os profissionais dos transportes enfrentam uma conjuntura particularmente difícil mas não é legítimo que as suas formas de luta possam prejudicar ainda mais outras empresas, que também já são prejudicadas pela deterioração da situação económica e a alta dos combustíveis.
A última coisa que o Governo deve fazer é ceder nas exigências de descida dos impostos, que significaria sempre dar sinais errados ao mercado. Numa altura que os combustíveis atingem picos - e o pior ainda pode estar para vir - todas as medidas devem apontar para a necessidade de racionalizar o consumo.
Outro sinal errado é falar do recurso a verbas do QREN para apoiar conjunturalmente o sector. Já se desconfiava que o QREN ia acabar ao serviço da gestão da conjuntura em vez de cumprir os seus objectivos de contribuir para a requalificação da economia portuguesa.
O "buzinão" dos camionistas na Ponte 25 de Abril marcou o princípio do fim dos governos de Cavaco Silva. O que se passar a partir de hoje nas estradas portuguesas pode dizer-nos alguma coisa sobre o futuro dos governos de José Sócrates.
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