Opinião
O BCP
Presidente histórico fala pela primeira vez da nova estrutura de poder no BCP, dominada pelo capital angolano. "Não se espere que da integração de sectores muito diferentes, quando um deles é financeiro, resulte franca homogeneidade na geração de valor. Mas a realidade é o que é, e é com ela que temos de viver."
Presidente histórico fala pela primeira vez da nova estrutura de poder no BCP, dominada pelo capital angolano. "Não se espere que da integração de sectores muito diferentes, quando um deles é financeiro, resulte franca homogeneidade na geração de valor. Mas a realidade é o que é, e é com ela que temos de viver."
Em Dezembro de 2007, ao cessar funções nos órgãos sociais do BCP, expressei o desejo que a minha saída fosse pelo bem do Banco, então o maior Banco privado português com 4,6 milhões de clientes, 21 mil colaboradores e 10,5 mil milhões de euros em capitalização bolsista. A instituição prevaleceria em relação às pessoas – pesavam a sua história e a relevância que conquistou na economia portuguesa. Era o que me dizia o conhecimento da Casa e das pessoas que a fizeram. E o BCP tem toda uma vida que vale a pena recordar, pois é dela que parte o próximo futuro. Faço-o quando tenho muita pressão para comentar as alterações recentes de governance e de liderança. Seria fácil, mas cruel, carregar sobre o novo Presidente a carga de uma recuperação, quando esta só se pode processar no reviver da própria história do Banco.
A fundação
O Banco nasce em 1985 com a abertura da actividade bancária à iniciativa privada. Vivia-se um ambiente positivo em Portugal, num ciclo económico favorável, com a internacionalização da economia portuguesa, a estabilidade política e o processo de integração na então Comunidade Económica. Apesar da abertura a projectos inovadores, o país estava "confortado" com a banca pública e céptico quanto ao aproveitamento de oportunidades decorrentes da liberalização do sector.Deixei a presidência do então maior Banco português (o Banco Português do Atlântico) para presidir ao menor dos menores - um Banco por constituir, sem sucursais, sem colaboradores, sem clientes, sem resultados. Com uma proposta de valor totalmente inovadora, o BCP abre ao público em 1986 com 2 sucursais. Começava do zero um banco comercial privado de capitais nacionais, mas que reunia, desde o primeiro minuto, uma vontade firme, determinada e convicta do seu grupo de promotores e investidores. E a iniciativa privada não desiludiria o País. A tecnologia e as pessoas eram a base de uma estratégia revolucionária para a segmentação, com que o BCP veio perturbar o mercado. Ofereceu um atendimento integrado ao Cliente, remunerou as contas à ordem e introduziu em Portugal a figura do "Gestor de Conta". Constantemente o BCP esteve à frente do seu tempo. Entre muitas outras operações lançadas em Portugal e no exterior, incluindo seguros e crédito especializado, o BCP lançou a NovaRede em 1989, o Banco 7 em 1994, o Banco Expresso Atlântico em 1996 e o ActivoBank7 em 2001 - tudo novidades.
Um projecto interrompido
Em oito anos, o BCP atinge organicamente uma quota de mercado de 9%, idêntica a outras grandes instituições da altura. Com a aquisição, restruturação e integração de diversas instituições financeiras em Portugal, o BCP reforçou o seu posicionamento e atingiu massa crítica, tornando-se o maior grupo financeiro português cotado em Bolsa e com capacidade de afirmação europeia.Através de uma cuidada estratégia de alianças e parcerias, a internacionalização começa em 1990 por acordos com o Grupo Cariplo, de Itália, com dois grupos seguradores europeus Friends Provident e Avero Central Beheer e com o Banco Popular Espanhol para o lançamento de start-ups em Portugal e nos países dos parceiros. Em 1998 celebrou-se a parceria com o polaco BBG, criando-se as bases de expansão na Polónia. Tudo contribui para a diversificação do Risco e para o aumento dos resultados do Grupo, que em 2005 marcava presença na Polónia, Grécia, Turquia, França e Luxemburgo, Estados Unidos e Canadá, Moçambique e Angola.
Nesta estratégia houve sempre toda uma preocupação pela reciprocidade, de tal forma que nós e os parceiros nunca sentimos perda de soberania nos respectivos mercados, preservando-se assim a independência estratégica de cada um, com a clara vantagem de poder intervir em mercados muito maiores.
Mas na base do sucesso do projecto BCP estiveram sobretudo dois factores muito críticos – a forma de governo da sociedade e a gestão das pessoas por via da forte coesão e cultura de Grupo, esta mais relevante do que a cultura profissional de Banco.
Era desígnio fundacional a clara independência entre a propriedade e a gestão do Banco. Um administrador executivo não recebia qualquer interferência do accionista e respondia ao Presidente pelo dia-a-dia do negócio. Só desta forma é possível garantir a estabilidade e servir equitativamente todos os accionistas de uma instituição.
Pioneiro também em matéria organizacional, o BCP soube cultivar o factor de sucesso intemporal e do qual um Presidente executivo nunca pode ser ausente – a gestão das pessoas.
Quebrando o que era norma, nunca houve no Banco, para além da gestão administrativa, uma direcção de recursos humanos. A gestão das pessoas era atribuída a quem melhor está habilitado a compreender os seus problemas – a hierarquia directa - mas sempre constituindo pelouro do Presidente executivo. Foi criada para cada colaborador a figura do "Patrono", sempre um membro da Alta Direcção do Banco, com o intuito de reforçar o acolhimento e a gestão de conflitos que sempre podem acontecer.
Com as aquisições efectuadas, milhares de colaboradores receberam formação de integração. Em 2000, o BCP passou a empregar 28% dos colaboradores bancários em Portugal. Enquanto Presidente executivo, visitei todas as sucursais do Banco. Conheci todos os colaboradores do Grupo e sempre recebi quem o solicitou. Mais tarde, em 2003, deu-se início ao ciclo de "Encontros Millennium" e o Banco abriu-se mais aos stakeholders em cada comunidade, exibindo marca única mas respeitando a história e tradição de todas as Casas absorvidas.
Os benefícios atribuídos aos colaboradores BCP foram sempre distintivos, e alargados às Casas acolhidas. Os apoios na saúde e sociais, a remuneração fixa e variável, as contribuições para o fundo de pensões, o Clube de actividades culturais e recreativas, eram reflexo de todo um espírito de partilha e de genuíno respeito que sempre sobrou da cultura do Grupo.
O acolhimento no BCP estabelecido no primeiro dia de trabalho de cada colaborador era com o Presidente do Banco, o que deixou uma memória forte em todos. Era fundamental o sucesso de equipa – uma cultura empresarial marcada pela liderança, excelência, rigor e coesão, predominando a clareza de actuação tão crucial para a motivação.
Com um caminho persistente no sentido da liderança, o BCP, de 1986 a 2007, cresceu anualmente 23% em colaboradores, 30% em sucursais, 42% em crédito a clientes, 35% em recursos e 41% em resultados líquidos.
Com um peso e influência na economia portuguesa em crescendo, o Grupo, sensível à função dos Bancos nas economias e em particular aos Centros de Decisão Nacionais, via a sua responsabilidade para com o mercado, a sociedade e o país aumentar exponencialmente.
Em 20 anos os stakeholders do BCP viram inovação, liderança, estabilidade e coesão, mas um só Presidente executivo. Em 6 anos (de 2005 até hoje), o Banco somou três Presidentes e muito sofreu gratuitamente. Este não será o melhor caminho para a instituição prevalecer.
O próximo futuro
O BCP é pois hoje um projecto interrompido. Já com início em 2006, a estabilidade veio dar lugar à instabilidade, a coesão à desagregação, e a visão e capacidade de decisão à indefinição.
As pessoas de bem fizeram o possível e o impossível para evitar a interrupção deste projecto e os correspondentes custos para o País. Em Dezembro de 2007, a proposta de eleição de Filipe Pinhal e sua equipa tenta preservar o BCP. Não foi possível por razões já hoje descortinadas e que se destinaram exclusivamente a afastar pessoas com campanhas mediáticas, que habilidosamente foram convertidas em processos que ainda estão em curso.
A partir de 2008 provoca-se declaradamente a desagregação entre a instituição e as pessoas. Quando o Banco se ausenta da defesa dos seus ex-administradores e, para mais, não trata devidamente da sua própria defesa enquanto instituição, apesar do brio profissional dos seus mandatários judiciais, acontece um golpe muito duro na coesão da Casa.
A defesa das pessoas e da instituição devia ser una e indivisível, e levada a cabo pelos mesmos especialistas; as apólices de seguro dos ex-administradores deviam ser devidamente respeitadas. Mas tal não aconteceu. O simples intuito de forçar as defesas ao nível individual prejudicou a eficácia, provocando deliberadamente a desagregação.
Que confiança ou futuro pode trazer este "modus operandi"? Toda esta postura, toda esta falta de coesão, demonstram a ausência de um dever de diligência que jamais se podia ter admitido, e que para mim foi um sintoma de um período insatisfatório na vida do BCP. Os accionistas tardaram em percebê-lo.
Foi feita muito má utilização do bem social que é o BCP, em prejuízo de toda uma sustentabilidade que o sector financeiro e a economia mereciam.
Em preparação do próximo futuro, accionistas do BCP instalaram um novo modelo de governo e novas equipas de gestão. Sonhos à parte, e mérito seja dado à equipa executiva, deseja-se boa a notícia pelo que sinaliza do atentar a um projecto.
Evidente que o sonho fundacional não era nem um projecto interrompido nem a perda de uma independência estratégica. Não vale lamentar. Foi sempre minha convicção que o mercado natural do BCP era o de centenas de milhões de europeus. Consolidar uma presença na Europa permitiria partir então para outros voos e ganhar maior dimensão mundial com agenda estratégica independente e a partir de Portugal.
Mas se o "fado" do BCP fosse a apropriação por uma Casa-mãe, devo sinceramente advertir que todo o sentido apontaria então para uma Casa da mesma família sectorial – e, claro, seria imposto um manual de procedimentos. Não se espere que da integração de sectores muito diferentes, quando um deles é financeiro, resulte franca homogeneidade na geração de valor. Mas a realidade é o que é, e é com ela que temos de viver.
Os desafios são agora muitos mas todos dependem de um mesmo – mobilizar as pessoas.
É sim possível estabelecer um novo ponto de partida, e com novas pessoas na liderança. Mas o BCP terá de ser uno e indivisível de 1985 até hoje, honrando efectivamente o seu passado para então construir o futuro. A mobilização acontecerá - pelo menos enquanto existir no Banco uma memória, última que seja, do acolhimento e depois do crescimento que era dado ao colaborador BCP. Condições de coesão e mobilização são necessárias para que a rentabilidade regresse e a acção recupere.
Perante as adversidades que Portugal enfrenta, imagine-se a oportunidade que seria o retomar de um projecto como o do BCP. As pessoas estão lá – em toda a sua memória, competência e profissionalismo. Só precisam ser mobilizadas.
Em Dezembro de 2007, ao cessar funções nos órgãos sociais do BCP, expressei o desejo que a minha saída fosse pelo bem do Banco, então o maior Banco privado português com 4,6 milhões de clientes, 21 mil colaboradores e 10,5 mil milhões de euros em capitalização bolsista. A instituição prevaleceria em relação às pessoas – pesavam a sua história e a relevância que conquistou na economia portuguesa. Era o que me dizia o conhecimento da Casa e das pessoas que a fizeram. E o BCP tem toda uma vida que vale a pena recordar, pois é dela que parte o próximo futuro. Faço-o quando tenho muita pressão para comentar as alterações recentes de governance e de liderança. Seria fácil, mas cruel, carregar sobre o novo Presidente a carga de uma recuperação, quando esta só se pode processar no reviver da própria história do Banco.
O Banco nasce em 1985 com a abertura da actividade bancária à iniciativa privada. Vivia-se um ambiente positivo em Portugal, num ciclo económico favorável, com a internacionalização da economia portuguesa, a estabilidade política e o processo de integração na então Comunidade Económica. Apesar da abertura a projectos inovadores, o país estava "confortado" com a banca pública e céptico quanto ao aproveitamento de oportunidades decorrentes da liberalização do sector.Deixei a presidência do então maior Banco português (o Banco Português do Atlântico) para presidir ao menor dos menores - um Banco por constituir, sem sucursais, sem colaboradores, sem clientes, sem resultados. Com uma proposta de valor totalmente inovadora, o BCP abre ao público em 1986 com 2 sucursais. Começava do zero um banco comercial privado de capitais nacionais, mas que reunia, desde o primeiro minuto, uma vontade firme, determinada e convicta do seu grupo de promotores e investidores. E a iniciativa privada não desiludiria o País. A tecnologia e as pessoas eram a base de uma estratégia revolucionária para a segmentação, com que o BCP veio perturbar o mercado. Ofereceu um atendimento integrado ao Cliente, remunerou as contas à ordem e introduziu em Portugal a figura do "Gestor de Conta". Constantemente o BCP esteve à frente do seu tempo. Entre muitas outras operações lançadas em Portugal e no exterior, incluindo seguros e crédito especializado, o BCP lançou a NovaRede em 1989, o Banco 7 em 1994, o Banco Expresso Atlântico em 1996 e o ActivoBank7 em 2001 - tudo novidades.
Um projecto interrompido
Em oito anos, o BCP atinge organicamente uma quota de mercado de 9%, idêntica a outras grandes instituições da altura. Com a aquisição, restruturação e integração de diversas instituições financeiras em Portugal, o BCP reforçou o seu posicionamento e atingiu massa crítica, tornando-se o maior grupo financeiro português cotado em Bolsa e com capacidade de afirmação europeia.Através de uma cuidada estratégia de alianças e parcerias, a internacionalização começa em 1990 por acordos com o Grupo Cariplo, de Itália, com dois grupos seguradores europeus Friends Provident e Avero Central Beheer e com o Banco Popular Espanhol para o lançamento de start-ups em Portugal e nos países dos parceiros. Em 1998 celebrou-se a parceria com o polaco BBG, criando-se as bases de expansão na Polónia. Tudo contribui para a diversificação do Risco e para o aumento dos resultados do Grupo, que em 2005 marcava presença na Polónia, Grécia, Turquia, França e Luxemburgo, Estados Unidos e Canadá, Moçambique e Angola.
Nesta estratégia houve sempre toda uma preocupação pela reciprocidade, de tal forma que nós e os parceiros nunca sentimos perda de soberania nos respectivos mercados, preservando-se assim a independência estratégica de cada um, com a clara vantagem de poder intervir em mercados muito maiores.
Mas na base do sucesso do projecto BCP estiveram sobretudo dois factores muito críticos – a forma de governo da sociedade e a gestão das pessoas por via da forte coesão e cultura de Grupo, esta mais relevante do que a cultura profissional de Banco.
Era desígnio fundacional a clara independência entre a propriedade e a gestão do Banco. Um administrador executivo não recebia qualquer interferência do accionista e respondia ao Presidente pelo dia-a-dia do negócio. Só desta forma é possível garantir a estabilidade e servir equitativamente todos os accionistas de uma instituição.
Pioneiro também em matéria organizacional, o BCP soube cultivar o factor de sucesso intemporal e do qual um Presidente executivo nunca pode ser ausente – a gestão das pessoas.
Quebrando o que era norma, nunca houve no Banco, para além da gestão administrativa, uma direcção de recursos humanos. A gestão das pessoas era atribuída a quem melhor está habilitado a compreender os seus problemas – a hierarquia directa - mas sempre constituindo pelouro do Presidente executivo. Foi criada para cada colaborador a figura do "Patrono", sempre um membro da Alta Direcção do Banco, com o intuito de reforçar o acolhimento e a gestão de conflitos que sempre podem acontecer.
Com as aquisições efectuadas, milhares de colaboradores receberam formação de integração. Em 2000, o BCP passou a empregar 28% dos colaboradores bancários em Portugal. Enquanto Presidente executivo, visitei todas as sucursais do Banco. Conheci todos os colaboradores do Grupo e sempre recebi quem o solicitou. Mais tarde, em 2003, deu-se início ao ciclo de "Encontros Millennium" e o Banco abriu-se mais aos stakeholders em cada comunidade, exibindo marca única mas respeitando a história e tradição de todas as Casas absorvidas.
Os benefícios atribuídos aos colaboradores BCP foram sempre distintivos, e alargados às Casas acolhidas. Os apoios na saúde e sociais, a remuneração fixa e variável, as contribuições para o fundo de pensões, o Clube de actividades culturais e recreativas, eram reflexo de todo um espírito de partilha e de genuíno respeito que sempre sobrou da cultura do Grupo.
O acolhimento no BCP estabelecido no primeiro dia de trabalho de cada colaborador era com o Presidente do Banco, o que deixou uma memória forte em todos. Era fundamental o sucesso de equipa – uma cultura empresarial marcada pela liderança, excelência, rigor e coesão, predominando a clareza de actuação tão crucial para a motivação.
Com um caminho persistente no sentido da liderança, o BCP, de 1986 a 2007, cresceu anualmente 23% em colaboradores, 30% em sucursais, 42% em crédito a clientes, 35% em recursos e 41% em resultados líquidos.
Com um peso e influência na economia portuguesa em crescendo, o Grupo, sensível à função dos Bancos nas economias e em particular aos Centros de Decisão Nacionais, via a sua responsabilidade para com o mercado, a sociedade e o país aumentar exponencialmente.
Em 20 anos os stakeholders do BCP viram inovação, liderança, estabilidade e coesão, mas um só Presidente executivo. Em 6 anos (de 2005 até hoje), o Banco somou três Presidentes e muito sofreu gratuitamente. Este não será o melhor caminho para a instituição prevalecer.
O próximo futuro
O BCP é pois hoje um projecto interrompido. Já com início em 2006, a estabilidade veio dar lugar à instabilidade, a coesão à desagregação, e a visão e capacidade de decisão à indefinição.
As pessoas de bem fizeram o possível e o impossível para evitar a interrupção deste projecto e os correspondentes custos para o País. Em Dezembro de 2007, a proposta de eleição de Filipe Pinhal e sua equipa tenta preservar o BCP. Não foi possível por razões já hoje descortinadas e que se destinaram exclusivamente a afastar pessoas com campanhas mediáticas, que habilidosamente foram convertidas em processos que ainda estão em curso.
A partir de 2008 provoca-se declaradamente a desagregação entre a instituição e as pessoas. Quando o Banco se ausenta da defesa dos seus ex-administradores e, para mais, não trata devidamente da sua própria defesa enquanto instituição, apesar do brio profissional dos seus mandatários judiciais, acontece um golpe muito duro na coesão da Casa.
A defesa das pessoas e da instituição devia ser una e indivisível, e levada a cabo pelos mesmos especialistas; as apólices de seguro dos ex-administradores deviam ser devidamente respeitadas. Mas tal não aconteceu. O simples intuito de forçar as defesas ao nível individual prejudicou a eficácia, provocando deliberadamente a desagregação.
Que confiança ou futuro pode trazer este "modus operandi"? Toda esta postura, toda esta falta de coesão, demonstram a ausência de um dever de diligência que jamais se podia ter admitido, e que para mim foi um sintoma de um período insatisfatório na vida do BCP. Os accionistas tardaram em percebê-lo.
Foi feita muito má utilização do bem social que é o BCP, em prejuízo de toda uma sustentabilidade que o sector financeiro e a economia mereciam.
Em preparação do próximo futuro, accionistas do BCP instalaram um novo modelo de governo e novas equipas de gestão. Sonhos à parte, e mérito seja dado à equipa executiva, deseja-se boa a notícia pelo que sinaliza do atentar a um projecto.
Evidente que o sonho fundacional não era nem um projecto interrompido nem a perda de uma independência estratégica. Não vale lamentar. Foi sempre minha convicção que o mercado natural do BCP era o de centenas de milhões de europeus. Consolidar uma presença na Europa permitiria partir então para outros voos e ganhar maior dimensão mundial com agenda estratégica independente e a partir de Portugal.
Mas se o "fado" do BCP fosse a apropriação por uma Casa-mãe, devo sinceramente advertir que todo o sentido apontaria então para uma Casa da mesma família sectorial – e, claro, seria imposto um manual de procedimentos. Não se espere que da integração de sectores muito diferentes, quando um deles é financeiro, resulte franca homogeneidade na geração de valor. Mas a realidade é o que é, e é com ela que temos de viver.
Os desafios são agora muitos mas todos dependem de um mesmo – mobilizar as pessoas.
É sim possível estabelecer um novo ponto de partida, e com novas pessoas na liderança. Mas o BCP terá de ser uno e indivisível de 1985 até hoje, honrando efectivamente o seu passado para então construir o futuro. A mobilização acontecerá - pelo menos enquanto existir no Banco uma memória, última que seja, do acolhimento e depois do crescimento que era dado ao colaborador BCP. Condições de coesão e mobilização são necessárias para que a rentabilidade regresse e a acção recupere.
Perante as adversidades que Portugal enfrenta, imagine-se a oportunidade que seria o retomar de um projecto como o do BCP. As pessoas estão lá – em toda a sua memória, competência e profissionalismo. Só precisam ser mobilizadas.
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07.03.2012