Opinião
O aviador
Só poderia ser em horário nobre. Seria sempre com a expectativa que a notícia foi produzindo. Ele, o artista, julga-se distinto e merecedor da distinção. E quando alguém sente o dom, o momento pede encenação. Foi no CCB, um palco com pergaminhos – foi dal
Ontem, à hora em que milhões se colam ao televisor, ele voltou. Como se alguma vez tivesse partido! Passaram dois anos desde que o início de um novo ciclo fundamentou o afastamento – sempre gerido a uma conveniente distância.
Passou tempo desde que se afastou, aproximou, afastou-se de novo daqueles com que, de forma distinta, coexistiu. Durão e Santana já foram chefes de governo, Cavaco é Presidente da República. Ele sentiu o perfume do poder e a mágoa da perda. O tempo é outro, também para ele. Volta com uma agenda em que o ambiente e a economia dão o tom – dizia o jornal, o DE, que o fotografou na asa do avião (a secretária, lindíssima, onde escreve). Da asa de um velho Douglas DC3 saiu a intervenção lida no CCB.
Na sala Fernando Pessoa. Na nova mensagem não há espaço para a lavoura, a pesca ou a Defesa que o encantou. A feira agora é outra, por obrigação a uma agenda que se quer mediática e alegadamente inovadora. E na asa onde retoca a sua imagem não há lugar para um outro aviador, mesmo que o voo sugerisse outros nomes. António Pires de Lima, Luís Nobre Guedes. Não, ele precisa de se sentir único, imprescindível. Agora já sem receio de tropeçar na sua própria criação. Mas ainda sem coragem para um voo em que se afirmem temas fracturantes da sociedade contemporânea.
Paulo Portas voltou. Para quê? Para se sentir o aviador.