Opinião
O acordo do desacordo
Volto ao Acordo Ortográfico (AO). Por obra e graça de Vasco Graça Moura que felicito pela coragem e determinação. Assim como pela oportuna iniciativa de Mota Amaral.
Volto ao Acordo Ortográfico (AO). Por obra e graça de Vasco Graça Moura que felicito pela coragem e determinação. Assim como pela oportuna iniciativa de Mota Amaral.
Com a aprovação do 2º Protocolo Modificativo do AO, estabeleceu-se que para este entrar em vigor bastaria a ratificação por três Estados lusófonos. Uma batota legal! O Brasil - claro - foi o primeiro, seguido de São Tomé e Cabo Verde. Angola e Moçambique, além da Guiné e Timor, não o fizeram. Tal situação faz-me lembrar, noutro plano, o que seria na Europa um Acordo deixar de fora Estados mais populosos (ou fundacionais) e vigorar por força do número ou quantidade de países como Malta, Chipre, Luxemburgo, Letónia, etc.
A Resolução do CM (Jan. 2011) que determinou a aplicação do AO nos documentos oficiais refere dois objectivos: "reforçar o papel da língua portuguesa como língua de comunicação internacional e garantir uma maior harmonização ortográfica entre os oito países da CPLP." Alguém deu por alguma destas anunciadas pretensões?
Estamos perante o acordo do desacordo. Numa matéria destas é lamentável o défice de escrutínio público. A língua é assunto que deve exigir a busca de um consenso tão alargado quanto possível. Ao invés, induziu-se o artificialismo do ruído mínimo garantido. Sempre que pessoas ou organizações se atreveram a lançar críticas ou dúvidas, logo foram arrogantemente consideradas ultrapassadas ou incapazes de olhar o futuro.
Vivendo tempos em que até direitos fundamentais são questionados, estaremos, quanto ao AO condenados à desistência ou à inacção? Estaremos resignados a viver entre a troika financeira, a China accionista, a Angola económica e o Brasil linguístico?
Ainda estamos a tempo de impedir este empobrecimento da nossa língua. Não podemos ser indiferentes.
Com a aprovação do 2º Protocolo Modificativo do AO, estabeleceu-se que para este entrar em vigor bastaria a ratificação por três Estados lusófonos. Uma batota legal! O Brasil - claro - foi o primeiro, seguido de São Tomé e Cabo Verde. Angola e Moçambique, além da Guiné e Timor, não o fizeram. Tal situação faz-me lembrar, noutro plano, o que seria na Europa um Acordo deixar de fora Estados mais populosos (ou fundacionais) e vigorar por força do número ou quantidade de países como Malta, Chipre, Luxemburgo, Letónia, etc.
Estamos perante o acordo do desacordo. Numa matéria destas é lamentável o défice de escrutínio público. A língua é assunto que deve exigir a busca de um consenso tão alargado quanto possível. Ao invés, induziu-se o artificialismo do ruído mínimo garantido. Sempre que pessoas ou organizações se atreveram a lançar críticas ou dúvidas, logo foram arrogantemente consideradas ultrapassadas ou incapazes de olhar o futuro.
Vivendo tempos em que até direitos fundamentais são questionados, estaremos, quanto ao AO condenados à desistência ou à inacção? Estaremos resignados a viver entre a troika financeira, a China accionista, a Angola económica e o Brasil linguístico?
Ainda estamos a tempo de impedir este empobrecimento da nossa língua. Não podemos ser indiferentes.
Economista e ex-ministro das Finanças em governo PSD/CDS
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