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16 de Setembro de 2010 às 11:41

Mercados errados ou Portugal em risco de "default"?

Não acreditamos na tese dos mercados perfeitos. Acreditamos que muitas vezes o mercado está errado e que os investidores podem tirar partido destas imperfeições ao comprar os preços errados do mercado e vendendo depois de esses preços corrigirem.

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Os sinais do mercado


Não acreditamos na tese dos mercados perfeitos. Acreditamos que muitas vezes o mercado está errado e que os investidores podem tirar partido destas imperfeições ao comprar os preços errados do mercado e vendendo depois de esses preços corrigirem.
Mas a tese oposta é também totalmente absurda.


Os sinais do mercado, sobretudo os preços que aí se formam, são muito importantes e, se bem que no curto prazo possam estar errados, no longo prazo tendem sempre para o equilíbrio e para aquilo que poderemos considerar o racional e o justificável. E ao contrário do que se passou em alguns períodos - vide na bolha tecnológica de 2000 - nos tempos mais recentes os mercados têm estado geralmente certos separando o trigo do joio. Quando as cotações dos bancos caíram cerca de 45% nos meses que antecederam a falência da Lehman, o mercado estava correcto como se veio a provar na subsequente queda dos lucros (extraordinários e também nos recorrentes) e nas necessidades de aumentos de capital com ou sem intervenção dos Estados.

Portugal em risco de "default"?


Neste momento, o mercado está a dar sinais muito importantes sobre Portugal, que olimpicamente o País vai ignorando, entretido com as intrigas da política interna e com os escândalos permanentes do futebol e do aparelho de justiça. Há muitos meses que o mercado interbancário e o mercado da dívida obrigacionista estavam fechados para os países "mal comportados" da zona euro: Grécia, Portugal, Espanha e Irlanda. Mas no início de Setembro alguns bancos espanhóis conseguiram novamente colocar dívida. Os bancos Portugueses continuam sem crédito nos mercados e estão totalmente dependentes do apoio do Banco Central Europeu (que tem o limite natural do colateral que os bancos tiverem ainda disponível para dar, além de consideráveis riscos políticos e de reputação). Por sua vez o Estado português teve de pagar 5.9% na última colocação de dívida, taxa fixa a 10 anos.


O Estado alemão para o mesmo prazo paga 2.2% o que significa que em 10 anos nós pagamos 38% a mais de juros que os alemães; aplique-se a matemática que se quiser, mas esta taxa de juro implica uma probabilidade muito forte do Estado português entrar em incumprimento. Isto na prática significaria um acordo de reescalonamento de dívida com perdão parcial (nos "stress test" do BCE considerou-se um incumprimento da dívida portuguesas de 14.1%). Mais significativa ainda, é na nossa opinião a total divergência entre a taxa das obrigações portuguesas e as espanholas. Desde o início do ano, a diferença entre spreads [favorável à Espanha] passou de 0.1% para 1.58%.

Porquê estes sinais do mercado? Na nossa opinião o mercado está a reagir à execução orçamental dos países. Enquanto a Grécia surpreendeu os próprios mercados com cortes acima do esperado na despesa e a Espanha, pelo menos de acordo com o BBVA, reduziu para metade o défice público, em Portugal a despesa pública de Janeiro a Julho cresceu 3.8%, e o défice do sector estatal passou de 8.556 para 8.903 milhões de euros - ver aqui

A contabilidade pública é feita numa óptica de tesouraria, o que distorce a análise em prazos curtos, mas o caminho que o País toma tem de ser rapidamente invertido. Até porque não é só o risco de "default" que está em cima da mesa; é também, e até principalmente, a taxa de crescimento inferior à da esmagadora maioria dos países europeus. E mais despesa pública em auto-estradas, em rotundas com obras de arte, em estações de metro revestidas a aço inox, em subsidiação de importações e em milhares de iniciativas, programas e fundações sem nenhuma repercussão no tecido produtivo só trazem mais dívida sem qualquer acréscimo do PIB a prazo. E é por isso que essa dívida provavelmente não poderá ser paga.



CEO da Sartorial
Sociedade Gestora de Patrimónios, SA


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