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19 de Janeiro de 2007 às 13:59

A PT, a Tailândia e o excesso de liquidez

O que é que a introdução de um maior controlo na movimentação de capitais por parte do governo da Tailândia – e que se traduziu numa forte queda da bolsa Tailandesa – tem a ver com o preço da OPA da Sonae sobre a Portugal Telecom?

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Aparentemente nada. Mas, analisando com um pouco mais de atenção, existe, na realidade alguma ligação. O ponto em comum – decisivo, como veremos – é o excesso de liquidez. É raro pensarmos que o excesso de liquidez pode ser um problema. Para o Banco Central da Tailândia, a entrada excessiva de capitais no seu país põe em risco o controlo da massa monetária e a inflação, levando ainda a uma apreciação exagerada da moeda – 13,6% contra o dólar em 2006. O excesso de liquidez existente nas bolsas e particularmente nos fundos de investimento e nos fundos de capital de risco tem levado a um apetite voraz por operações de aquisição e ao aumento dos prémios pagos. A própria lógica de montagem dessas operações favorece essa inflação no prémio pago. Os fundos estrangeiros, que ao fim e ao cabo é que irão decidir o sucesso da OPA, contarão com mais esta operação de aquisição para reforçar as mais-valias realizadas, tentando maximizar o prémio a receber. Pensamos ser um sinal muito importante sobre o actual "estado da arte" um artigo de opinião publicado recentemente na "Lex Column" do Financial Times. Após umas contas simples o jornal chegava a um valor de 9 euros para a PT. Que, de repente e sem nenhuma base cientifica, passa para 11 euros. É o tal prémio - 22% face ao valor proposto para a PT, mas cerca de 34% face ao valor da PT antes da OPA. Mas o FT, cuja opinião é muito relevante - na medida em que, de certa forma, espelha a maneira de pensar da comunidade financeira - acrescenta um ponto importante: depois do anúncio da OPA as acções da Sonaecom subiram 68% o que reflecte uma opinião clara do mercado sobre o preço da OPA. Ou seja, os tempos não são favoráveis ao comprador, isto é, à Sonaecom. Mas apesar do excesso de liquidez que se vive nos mercados, os prémios pagos não se têm afastado assim tanto dos valores de bolsa anteriores à oferta, ao contrário do que alguns analistas e comentadores defendem. O quadro a seguir publicado apresenta as maiores operações de aquisição realizadas nos últimos dois anos e o prémio entre o preço final pago pelo comprador e a cotação existente em bolsa previamente ao anúncio da operação. O valor médio do prémio pago foi de 23,5%. No meio desta discussão, do ruído de fundo e dos vários episódios (mais típicos de uma telenovela), nem sequer se fala daquilo que é, na nossa opinião, um dos factos mais relevantes para a operação. Nos primeiros nove meses de 2006, face aos homólogos de 2005, o EBITDA da PT caiu 5,6% enquanto o EBITDA corrente da Sonaecom apresentou apenas uma ligeira melhoria de cerca de 1%. Esse é que devia ser o factor chave da avaliação porque quem compra e quem vende está a valorizar "cash-flows" futuros e não passados. Uma nota final só para afirmar que não temos qualquer interesse accionista nem na Sonaecom nem na Portugal Telecom. Em Fevereiro - ver artigo denominado "O Preço da PT" - defendemos que a PT estava muito "cara" face à concorrência e, nesse sentido, decidimos começar a comprar acções da France Télécom que foram saudavelmente subindo dos 16/18 euros até aos 22 euros. Quem não tem, nem nunca sonhou ter "golden shares" tem de comprar acções com dinheiro, e por isso convém gastar o menos possível...
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