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18 de Setembro de 2012 às 23:30

Má vizinhança

A Sul, o assassinato do embaixador americano na Líbia foi a barbaridade mais notória nas reacções contra filme ignaro e infame, difamatório do Profeta Maomé, feito por cristãos americanos fanáticos e anunciado na internet.

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A Europa não perdeu jeitos de quem mandou no mundo. A olhar para o umbigo, esquece-se de que não é tão forte quanto foi e não liga como devia ao que se passa fora dela. Não se pode distrair muito mais porque em duas das suas quatro fronteiras os perigos crescem.

Não a Norte. A zona árctica poderá vir a dar arrelias, mas no futuro previsível não apresenta riscos. Nem a Oeste onde estão o Atlântico Norte e, para lá dele, os Estados Unidos, nosso maior parceiro comercial (e nós deles) e aliados connosco na OTAN, a mais poderosa aliança militar do mundo. Desse lado também não vêm preocupações; recebemos de lá, pelo contrário, conforto e respaldo. É a Leste e a Sul que está o busílis.

A Leste, percebe-se porque é que De Gaulle em vez de União Soviética dizia sempre Rússia. Putin tomou o seu lugar numa linha de autocratas, ora atraídos pelo Ocidente ora atraídos pelo Oriente, que precedeu de muitos séculos a União Soviética e, embora sem estar imbuído do espírito de cruzada dos seus predecessores marxisto-leninistas demonstra sempre que pode gosto e capacidade de desmando fora de portas (invasão da Geórgia, ataque cibernético à Estónia, apoio a Assad, recusa de submeter práticas comerciais da Gasprom ao escrutínio da Comissão Europeia) e aproxima-se do poder absoluto em casa. Opositores são expulsos da Duma ou presos, como as três Pussy Rocks ou o campeão de xadrês Kasparov; manifestações de protesto contra Putin são reprimidas violentamente pela polícia, as autoridades judiciais não cooperam com congéneres estrangeiras e protegem russos suspeitos de assassinatos políticos. Dizia-se que o ministro Potemkin fizera construir uma aldeia falsa com figurantes para aplaudirem a Imperatriz Catarina (1729-1796). Autoproclamado protector do ambiente, Putin fez-se filmar colocando coleira de emissão para satélites num tigre da Sibéria, só que o tigre tinha sido trazido de um zoo para o efeito (fez parecido com um urso polar). Espécie de Pomtemkin em pior porque agora é o Czar que inventa a aldrabice. A Rússia de Putin não mete o medo que metia a URSS de Estaline, mas inquieta.

A Sul, o assassinato do embaixador americano na Líbia foi a barbaridade mais notória nas reacções contra filme ignaro e infame, difamatório do Profeta Maomé, feito por cristãos americanos fanáticos e anunciado na internet. A indignação dos fiéis entende-se; as expressões brutais que tomou, não. Que não haja nos países onde grassaram senso comum que as tivesse evitado nem governos, ditos moderados, que as tenham contido e condenado, assusta. O ódio ao Ocidente e aos seus valores que incendia o Médio Oriente ameaça a nossa segurança. Já alguém disse que ignorância e arrogância dão uma má mistura e que há demais das duas no mundo árabe. Juízo tão lapidar é provavelmente injusto e, seja como for, vizinhos não se escolhem. A Sul e a Leste da nossa sociedade aberta devemos dialogar, mas temos também de saber dar-nos ao respeito. Se quisermos evitar o pior.

Embaixador

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