Opinião
Inteligência artificial: as empresas portuguesas entram na competição?
No seu mais recente livro - "AI Superpowers - China, Silicon Valley and the new world order" - Kai-Fu-Lee, antigo presidente da Google China, faz uma análise incisiva sobre a competição entre as empresas tecnológicas dos Estados Unidos da América e da República Popular da China pelo domínio das potencialidades da inteligência artificial (IA).
Segundo o autor, apesar da atual liderança dos EUA, a China sai a ganhar no que toca ao ambiente social, económico, político e regulatório.
Ora, num contexto de competição entre as maiores potências globais pela liderança em IA será que há espaço para os países mais pequenos e periféricos, como Portugal?
Mesmo reconhecendo os inúmeros desafios, as empresas portuguesas já demonstraram ter (como dizia o poeta) a arte e o engenho para fazer muito com pouco, para com criatividade e esforço ganhar o seu espaço entre concorrentes bastante mais poderosos.
Recuemos a 2008 e à falência da Lehman Brothers, considerada por muitos o marco de início da crise económica que em Portugal culminou, de forma traumática, com a intervenção da troika, a partir de 2011.
Enquanto outras economias ultrapassavam a crise e voltavam ao "business as usual", agarrando uma das maiores oportunidades de crescimento económico da década, assente na disrupção provocada pela maturidade da economia digital, Portugal era dado como um caso perdido. Hoje, constatamos que o tecido empresarial e social português não baixou os braços, pois as histórias de sucesso acumulam--se na área tecnológica e adjacentes.
Fundos públicos e privados de capital de risco, da Portugal Ventures, Caixa Capital, Armilar, Pathena e Sonae IM souberam apostar em empresas de foco tecnológico com futuro promissor, nalguns casos apenas suportadas por uma ideia inovadora. A Web Summit, descontando alguns exageros, contribuiu para estimular a veia empreendedora dos portugueses, complementada pela proliferação de incubadoras, aceleradoras e entidades afins e pela qualificação de recursos humanos formados nas nossas Universidades.
Também as nossas grandes empresas procuraram capitalizar a sua experiência e conhecimento do mercado para apoiar projetos inovadores complementares ao seu negócio-base ou mesmo outros com relação mais tangencial, mas potencialmente disruptivos. Sonae, EDP e Semapa são apenas algumas das empresas com subsidiárias ou programas focados na inovação e startups.
Outsystems, Farfetch e TalkDesk são hoje unicórnios portugueses, avaliadas em pelo menos mil milhões de dólares, e os nomes mais visíveis desta dinâmica.
Este processo gerou uma força criativa que tem atravessado de forma transversal a economia portuguesa, gerando valor, emprego e realização pessoal. O mercado de fusões e aquisições em Portugal está ao rubro, destacando-se não só os 111 milhões de euros levantados pelos fundos para startups da HCapital, Indico Capital e Armilar, mas também um crescente interesse por parte de fundos de investimento internacionais.
O tempo o dirá, mas tendo em conta o exposto, estou convencido de que em Portugal também haverá empreendedores e empresas a dar o seu contributo para a disseminação de soluções e negócios assentes em IA.