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Impacto da pressão inflacionária na China

Na China, a inflação do índice de preços ao consumidor (IPC) atingiu, em Outubro, um máximo de 4,4%, num período de 25 meses, acima da previsão consensual de 4,0%, depois de ter alcançado os 3,6% em Setembro.

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Dois dias antes da divulgação dos dados da inflação referentes a Setembro, o Banco Popular da China (BPC) aumentou inesperadamente as taxas de juros em 25 pontos base e, um dia antes da divulgação dos dados referentes ao IPC de Outubro, o BPC subiu o rácio de requisito de reservas para todos os bancos em 50 pontos base. Após o anúncio dos dados do IPC, alguns bancos receberam inclusivamente instruções para aumentarem o respectivo rácio de reservas em mais 50 pontos base.

Acredita-se amplamente que as medidas do banco central surgiram em resposta à crescente pressão inflacionária na China, bem como ao anúncio da Reserva Federal dos EUA sobre uma segunda ronda de alívio quantitativo, o que poderia fazer crescer as pressões de preços nas economias asiáticas.

O objectivo de inflação permanente de Pequim é de 3%. Contudo, a inflação do IPC deverá situar-se acima do objectivo e até mesmo subir mais durante o resto do ano, devido à incerteza quanto aos preços dos Alimentos frescos à medida que se entra no Inverno, bem como quanto às expectativas de subida dos preços das mercadorias globais que também foram exacerbadas pelo anúncio de alívio quantitativo da Reserva Federal.

Um recente inquérito do banco central mostrou que os consumidores sentem uma inflação muito superior aos números do IPC. Com os indicadores económicos a mostrarem que o crescimento interno da China se mantém forte, acreditamos que as autoridades chinesas se sintam mais confortáveis em fazer aplicar uma maior restrição monetária, utilizando subidas nas taxas de juros e no rácio de reservas de modo a gerir as expectativas quanto à inflação. Além das medidas monetárias, as autoridades chinesas também anunciaram medidas administrativas destinadas a combater a inflação, incluindo preços controlados na alimentação e noutros bens de necessidade básica.

A subida na inflação geral registada nos últimos meses tem sido quase inteiramente atribuível aos mais altos preços alimentares, que contribuíram para três quartos da subida no IPC de Outubro. Antes do anúncio das novas medidas administrativas para estabilizar os preços alimentares, os controlos de preços já tinham sido postos em prática em algumas cidades chinesas. Por exemplo, Fuzhou impôs um controlo de preços por grosso e a retalho sobre quatro tipos de vegetais, reduzindo os preços a retalho em 15% a 50%. O governo local subsidiou os supermercados e cortou as rendas aos grossistas de modo a moderar o impacto negativo nas margens. É provável que sejam anunciadas mais intervenções deste género em diversas cidades/províncias a curto prazo.

Apesar da possibilidade do IPC geral poder subir ainda mais nos próximos meses tendo em conta o aumento dos preços dos alimentos, acreditamos que o risco de um cenário de inflação galopante é baixo. Uma inflação geral de cerca de 4% a 5% ainda está num nível razoável, bem abaixo dos altos valores com um algarismo no ciclo de pico anterior. Entretanto, um período de moderação do crescimento económico está a desenvolver-se. O crescimento do investimento em activos fixos já moderou nos últimos trimestres. Dado que o crescimento das despesas de capital foi o principal motor da forte recuperação económica de 2009, a desaceleração deve ajudar a arrefecer a actividade global, bem como a pressão inflacionista.

O governo também já instituiu medidas para controlar tanto o crescimento do crédito como da moeda. A História mostra-nos que o mais lento crescimento monetário e do crédito leva a uma queda na inflação, com um desfasamento de cerca de seis a nove meses. Se forem necessárias novas medidas, as autoridades demonstraram que estão dispostas e capazes de responder através da política administrativa e monetária, como indicámos anteriormente.

A "Dinâmica dos Preços na China" de Nathan Porter, um artigo de pesquisa do FMI, publicado em Setembro de 2010, mostra que os principais motores da inflação do IPC não alimentar na China são: pressões de custos, que se reflectem nos bens nacionais e estrangeiros e os preços no produtor; a procura externa por produtos chineses; inflação desfasada (passada); e as expectativas de inflação.

Portanto, a menos que os preços de bens e das matérias-primas aumentem acentuadamente, as pressões inflacionárias não alimentares na China devem continuar a ser modestas ao longo dos próximos anos, a procura externa deverá continuar a ser fraca e o governo começou a gerir as expectativas de inflação do público através da subida da taxa de juro e de medidas administrativas.

No longo prazo, a expansão mais lenta da oferta (devido à consolidação de indústrias com excesso de capacidade) e mais rápida expansão da procura (devido à intenção do governo de reequilibrar a economia para um modelo de crescimento, impulsionado pelo consumo económico), combinado com o crescimento persistentemente forte dos salários, são susceptíveis de ter um impacto duradouro sobre as perspectivas de inflação estrutural na China.

Actualmente, a pressão inflacionária na China está, em grande parte, concentrada em bens e preços dos alimentos. Não há ainda sinais de que a inflação se esteja a difundir. Assim, esperamos que a inflação permaneça em níveis razoáveis. Além disso, as autoridades chinesas mantêm um olhar atento sobre as pressões inflacionárias, efectuando o endurecimento e as medidas administrativas necessárias para reduzir o risco de deterioração significativa na inflação de curto e médio prazo.


*Sales Executive do JPMorgan AM
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