Opinião
Greve à função pública
A função pública fez greve por melhores condições salariais. Acontece que a massa salarial (aumentos de tabela mais compensações diversas) da função pública tem crescido acima da inflação nos últimos anos.
José Diogo Madeira
O número de trabalhadores da função pública também tem estado em expansão. Ou seja, a produtividade da função pública portuguesa tem-se degradado. Como resultado, hoje, a função pública portuguesa é o primeiro obstáculo à competitividade empresarial de Portugal, não só porque desgasta as finanças públicas como cria um «modelo» de ineficiência, que influencia nefastamente a esfera privada da economia.
Por tudo isto, já é evidente que a função pública está obrigada–quanto mais não seja pela restrição orçamental–a aumentar a sua produtividade. E a única forma de o fazer implica menos gente para fazer o mesmo trabalho. Pelos que ficarem, então os aumentos poderão ser mais generosos.
Ora, os sindicatos não podem ficar indiferentes às condições económicas do país–de que eles são também co-responsáveis–, e tentarem resolver a questão com o recurso à chantagem da greve.
Primeiro, a greve da função pública já não assusta ninguém: a administração e os serviços públicos já funcionam tão mal e tão devagarinho, que se fecharem uma ou duas semanas não prejudicarão nada de realmente importante (faremos de conta que foram gozar mais umas pontes entre feriados).
Segundo: os portugueses já estão tão fartos desta administração pública, da sua ineficiência e da má qualidade de serviços aí prestados, que estão prontos a marchar contra os grevistas e suportar o Governo–mesmo este, que tem sido pródigo em esbanjar recursos–numa cruzada contra o desperdício de recursos.
Em Portugal, atingimos um ponto crítico para o nosso desenvolvimento económico. Com a agravante das actuais condições dos mercados internacionais, não é mais possível continuar a subsidiar o emprego e a procura privada com gastos não produtivos na administração pública e nos seus funcionários.
Todos, enquanto portugueses, terão de perceber isso e reorganizarem-se em consequência. Não há mais nenhum caminho disponível. Por isso, chegou o momento de revertermos os discursos e anunciarmos uma greve dos cidadãos contribuintes à função pública.
José Diogo Madeira, director do «Jornal de Negócios».