Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
Rui Alpalhão 08 de Maio de 2007 às 13:59

Global Paroquial

Nas Escolas de Gestão, a maior parte dos professores ensina Gestão, e matérias relacionadas, na maior parte do seu tempo. Uma cada vez mais pequena parte dos professores gere empresas na maior parte do seu tempo, e ensina o que pratica na parte remanescen

  • ...

The last but not the least, uma pequena parte dos professores gere as Escolas de Gestão na maior parte do seu tempo. Na gestão das Escolas de Gestão, as decisões que esses professores tomam são as que ensinam os seus alunos a tomar: posicionamento concorrencial, product mix, financiamento.

No mercado nacional das Escolas de Gestão, o mercado alvo tem sido até à data paroquial. Na paróquia lisboeta, de longe a de maior "catchment" em Portugal, têm estado em concorrência directa pelos melhores alunos da paróquia três escolas públicas (por ordem de entrada em cena, a Técnica, o ISCTE e a Nova) e uma privada, a Católica. No ano passado foi anunciado, com pompa e circunstância, um protocolo entre as quatro escolas lisboetas e a Sloan School of Business do Massachussets Institute of Technology, que, entre outros objectivos, consagrava o de criar, com o apoio da Sloan, um programa de Mestrado em Gestão em Lisboa cujo mercado alvo fosse o mercado global, com arranque apontado para o ano lectivo 2008-2009. O catalisador deste protocolo foi, através do seu Governo, a República, proprietária de três das quatro escolas portuguesas que o subscreveram. Em jargão mais empresarial, este tentativo movimento de expansão e internacionalização foi comandado pelo accionista, e não pelos gestores seus agentes. Não sendo inédito, também não é dos fenómenos mais habituais. Poder-se-ia mesmo pensar que os gestores das Escolas envolvidas encontrassem menos mérito no movimento, dado o que não haviam proposto eles próprios, no exercício normal das suas funções. Não foi assim, no entanto. Os comentários públicos à iniciativa governamental foram generalizadamente encomiásticos, e não foram só os comentários. Duas das escolas envolvidas, por ordem alfabética a Católica e a Nova, apresentaram ao público já para o próximo ano lectivo um programa conjunto de Mestrado em Gestão de Empresas, baptizado Global MBA, unindo esforços um ano antes num primeiro programa, à maneira de um warm up para a grande corrida do ano seguinte. Na cuidada brochura apresentada, uma apurada selecção de antigos alunos das duas escolas, a maior parte dos quais gestores de sucesso comprovado, converge em comentários sobre as vantagens para cada uma das escolas, bem como para a Nação, de um programa conjunto e global, capaz de atrair excelentes alunos de todo o mundo.

Este processo de globalização tentada é intelectualmente interessante para quem, como eu, ensina Gestão, e vale a pena acompanhar o seu desenvolvimento. Para quem partilhe do meu interesse e queira constituir-se observador atento das novidades que hão-de vir, fica uma referência aos antecedentes, tantas vezes ignorados pelos decisores. De facto, já houve entre nós uma tentativa de lançar no mercado um programa de Mestrado em Gestão de Empresas com vocação global e com apoio de uma escola internacional de primeira linha. Esta iniciativa coube à Direcção da Nova, à época presidida pelo Prof. Alfredo de Sousa, e materializou-se no primeiro Mestrado português com características de Master of Business Administration, oferecido pela primeira vez em 1980-81 nas instalações do Palacete Mendonça, que a escola tem vindo a preferir designar Palácio Ventura Terra, promovendo a obra a palácio e destacando o nome do ilustre projectista e não do dono da obra. Este programa foi lançado por iniciativa da Direcção da escola e contou com o apoio pedagógico da Wharton School da Universidade da Pensilvânia. No Palacete Mendonça, ensinaram então mestres de reputação mundial, como Russell Ackoff, Robert Altman, Marshall Blume, Randolph Westerfield, Marshall Sarnat e Franklin Allen. A época era ainda apropriada para a imposição de um programa (o INSEAD arrancou em 1957, e entre as iniciativas espanholas de maior sucesso internacional, o IESE da Universidade de Navarra começou em 1964 e o Instituto de Empresa de Madrid em 1973), o parceiro internacional de primeiríssima linha, o corpo docente impecável. No entanto, o programa não se internacionalizou. Razões?

Certamente muitas, das quais destaco uma para concluir: os condicionalismos decorrentes da propriedade da escola. Salários iguais para todos os professores da mesma categoria, independentemente do seu mérito científico e pedagógico. Uma estrutura de categorias de tipo piramidal, onde tem necessariamente de haver um número de professores catedráticos inferior ao de professores associados, e um número de professores associados inferior ao de professores auxiliares. A má notícia é que todos estes condicionalismos subsistem.

Ver comentários
Mais artigos do Autor
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio