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25 de Janeiro de 2008 às 13:59

Gato no sofá (25/01/2008)

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As doenças são assim: atiram-nos, sem perguntarem se queremos, para a cama. Ou para o sofá. De lá vemos de outra forma o mundo. Com outras cores, como se fosse

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A loja de gelados e os EUA
Na série Seinfeld há uma cena memorável. Uma loja de gelados começa a fazer sucesso com sorvetes “light”. As filas são enormes porque aquele produto não engorda. Seinfeld desconfia, manda analisar os gelados e chega-se à conclusão que tinha 40% de gordura e, portanto, era uma falsificação. Seinfeld denuncia a loja de gelados e aí acontece o que não se esperava – os clientes obesos revoltam-se contra ele porque arruinaram a sua felicidade. Se olharmos para a crise espoletada pelo “subprime”, descortinaremos que a felicidade da gordura americana (e não estamos a falar do seu insaciável apetite pela “fast-food”) se baseava em axiomas deslocados da realidade. George Soros foi cruel, ao dizer que os EUA viviam do que o resto do mundo poupava e consumiam acima do que produziam. Como se fossem uma espécie de aristocratas com problemas de crédito. Mas isso era derivado da sua moeda, o dólar, ser a moeda de reserva internacional. Quando essa expansão de crédito causava tempestades, as autoridades centrais injectavam liquidez e estimulavam a economia por outros meios. O próprio coração do sistema financeiro – baseado na circulação interbancária, a começar pelo empréstimo – entrou em colapso. E os perigos de recessão (e inflação) nos EUA estão aí a bater à porta. Não é por acaso que Joaquin Almunia dava uma estocada letal no inchaço americano: “Não é sobre uma recessão global. É sobre uma recessão nos EUA (?) com o seu défice corrente, com o seu défice fiscal e a falta de poupanças”. Mas não deixa de ser curioso como a crise é vista das capitais dos mercados emergentes. Na terça-feira, num debate no canal Aljazeera, um dos intervenientes dizia que nesses países se separava cada vez mais a globalização em duas áreas: o comércio global é bom, mas a finança global não é tão boa assim. Quem falava estava em Nova Delhi.

A piada popular
O inspector-geral da ASAE foi à Assembleia da República dizer que apenas cumpre ordens. Imaginava-se que as ideias não viessem da sua cabeça. Ele é apenas um funcionário que faz com que quem pense (algures em São Bento, talvez em Bruxelas, presume-se que em Marte) possa dormir descansado porque a imoralidade não passará em Portugal. O inspector-geral diz que a sua afirmação de que metade dos restaurantes portugueses deveria, ou poderia, fechar, “não foi feliz”. Efectivamente toda a acção da ASAE não tem sido feliz. Mesmo que contratassem os célebres “senhor Feliz e senhor Contente” dos gloriosos tempos de Nicolau Breyner e Herman José, não conseguiria ser. A ASAE espalhou o medo. E isso é tudo o que não se deve ter numa democracia. Não é por acaso que Cavaco Silva, na cozinha conventual do Mosteiro de Arouca, deixou cair a piada: “E então, a ASAE ainda não veio cá”? É este o estado da ASAE neste país: passou de entidade pública a anedota privada.

Diferentes?
José Sócrates e o ministro Mário Lino disseram que só tiveram conhecimento do documento do LNEC a 9 de Janeiro. O presidente do LNEC diz que o Governo conhecia as conclusões desde 19 de Dezembro. Lá Sócrates terá de vir dizer alguma semelhante ao que disse quando demonstrou matematicamente que o Tratado de Lisboa era diferente do anterior Tratado europeu e por isso não era preciso referendar, conforme tinha sido promessa do PS: umera uma coisa, o outro era outra coisa. Igual, mas diferente. Aqui é o mesmo: o primeiro texto trazia as conclusões documentadas, o outro é um documento com conclusões. Diferentes?

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