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18 de Janeiro de 2008 às 13:59

Gato no sofá (18/01/2008)

As doenças são assim: atiram-nos, sem perguntarem se queremos, para a cama. Ou para o sofá. De lá vemos de outra forma o mundo. Com outras cores, como se fosse um arco-íris, do mais alegre ao mais sombrio. Durante algumas semanas é daqui, deste lugar conf

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Peggy Sue e o Estado Europeu

Peggy Sue é uma vaquinha americana. Tem uma diferença das outras. É clonada. É a Dolly das vaquinhas. A Food and Drug Administration americana acha que a carninha das vacas clonadas é óptima. Os europeus desconfiam, apesar das certezas dadas. A Europa comunitária vive um momento de realinhamento ideológico, onde os modelos económicos alemães e a perspectiva da economia de mercado comandada pelo Estado, de Sarkozy, parecem estar a triunfar. Isso tem a ver, também, com o regresso da ideologia do “capitalismo de Estado” (que, de uma forma desastrada, Sócrates está a tentar implementar em Portugal - afinal na China o Estado também controla os Bancos?). As regulações da “segurança” dos produtos e das actividades pessoais mostra como esse conceito está de volta através não da “terceira via”, mas de pessoas aparentemente tão estranhas ideologicamente como Sarkozy. É um tema extremamente aliciante.

Sarkozy e a paixão

No seu álbum “Quelqu’un m’a dit”, Carla Bruni canta: “Il faudrait que tout le monde réclame/Auprés des autorités/Une loi contre toute notre indifférence/Que personne ne soit oublié “. A França, e claro, Carla e Sarkozy vivem momentos de paixão. Mas há a componente política do novo idílio gaulês. A França vai presidir à União Europeia a partir de Julho e, por certo, vai tentar fazer vingar a sua concepção do que deve ser a nova Europa. Sarkozy descobriu o novo amor e também descobriu a África, e é por isso que cada vez mais fala de uma União Mediterrânica, juntando a UE aos países do norte de África. Em Portugal, claro, nenhum político discute o tema mas Ângela Merkel não morre de amores pela questão, assim como não está muito virada para a ideia de Sarkozy de limitar a independência do Banco Central Europeu. Mas um novo centro europeu está a ser construído. E Portugal não o discute.

A Posição

Sócrates continua impávido e sereno. Quando se começava a falar da razão porque não havia um referendo por causa do chamado Tratado de Lisboa, a atenção virou-se para outro lado, porque o Governo decidiu aterrar em Alcochete. Quando este tema começou a chamuscar, as atenções foram viradas para o BCP. É o que se chama gerir a informação e jogar com a oposição com a célebre política da cenoura e da marreta. A oposição segue a cenoura, leva com a marreta e Sócrates prepara calmamente a reeleição.

A oposição

O PSD opõe-se ao Governo da mesma forma que Homer Simpson compra vinho: compra o segundo menos caro da lista. Não cria factos políticos, vai atrás dos saldos do Governo. Menezes parece um zeppelin a perder altura e já só se começa a preocupar com a oposição interna. A sua célebre oposição começou com apoios ao Governo (sobre o referendo) e com dislates (pedir alguém do PSD para a CGD). A aliança de Menezes com Santana Lopes não é, para Sócrates, o “eixo do mal”: é o “eixo do medo”.

A justiça ecológica

Um dos mais deliciosos livros que li nos últimos meses foi “Dos Delitos e das Penas”, de Cesare Beccaria, escrito em 1776. É uma obra que discute o âmago do Direito Penal e as mais vastas relações do Estado com os cidadãos. No admirável texto que nos ofereceu, e que em muitas coisas continua a ser actual, escreveu por exemplo: “Que espécie de governo é aquele onde quem reina suspeita em todo o seu súbdito um inimigo e é constrangido, em nome da tranquilidade pública, a retirar a tranquilidade a cada um”? Não deixo de pensar nesta singela frase quando penso na decisão do STA que permite a co-incineração na Arrábida (um valor ecológico único na Península Ibérica) e se ignora em termos de qualidade de vida do país esta questão e, pelo contrário, o que causa dor de cabeça a muitos “ecologistas” de pacotilha é o estudo de impacte ambiental de Alcochete. Isto para já não falar do estado cerceador das liberdades individuais que está a ser criado em nome da saúde e do politicamente correcto aos olhos de Bruxelas e de São Bento.
Europa unida?

Uma das mais interessantes revistas da actualidade, a “Prospect”, inclui no último número um interessante texto sobre a nova geração de irlandeses, que enriqueceu depois da entrada na UE. Lembram-se daquele país que era mais pobre do que Portugal e que, entretanto, cresceu, cresceu, cresceu? No número de Janeiro é de ler a coluna “Brussels Diary”, sobre a campanha para a presidência da UE. O lugar para o qual Blair se quer candidatar. Ele, que estava ao lado de Bush, de Aznar e de Durão Barroso. Corrosivas as palavras citadas de um deputado europeu: “Aznar já se foi, Bush está a ir e não podemos ter os outros dois a governar a Europa”.

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