Opinião
Gato no sofá (07-03-2008)
Começa a ser uma verdadeira dor de cabeça para o comum dos portugueses perceberem o que pensa Luís Filipe Menezes. Porque, às vezes, não diz o que pensa e, na maioria das vezes, não pensa o que diz. Não há, no seu discurso, um pensamento estratégico para
As ideias de Menezes
Começa a ser uma verdadeira dor de cabeça para o comum dos portugueses perceberem o que pensa Luís Filipe Menezes. Porque, às vezes, não diz o que pensa e, na maioria das vezes, não pensa o que diz. Não há, no seu discurso, um pensamento estratégico para Portugal que, por exemplo, possa funcionar como alternativa à “agit prop” de Sócrates. Depois da sonolenta entrevista que deu à SIC, onde não falou das suas “ideias” para o país, e da fascinante ideia de, depois de ter ouvido Sarkozy, ter vindo defender o fim da publicidade na RTP como a solução final para o serviço público de televisão, só se espera ver o que será o seu projecto político para Portugal. Uma espécie de “rotativismo” em versão século XXI, mas com metade da piada da do tempo da monarquia, que Eça de Queiroz tanto ironizava. Sarkozy, que Menezes não leu na totalidade (só deve ter tido tempo para ler o cabeçalho das notícias) enquadrava o fim da publicidade num conceito de promoção da “civilização francesa”, e de “verdadeira revolução cultural”. Prometendo o financiamento público da televisão estatal e um conceito de fim do “critério puramente mercantilista” (que existe na nossa RTP) e num conceito político mais vasto (de capitalismo de Estado – veja-se os confrontos indirectos com a CE de Durão Barroso – de uma “Europa mediterrânica” e de uma nova política africana) onde a língua francesa seria central, Sarkozy tem um conceito. Menezes tem um “tricot” de ideias que não chega para fazer a camisola de um partido vencedor. E esse é, novamente, o dilema de um PSD que está a montar o palco de Sócrates, no “Rock in Portugal 2009”.
Born in the USA
John Kerry disse, um dia, que estava certo antes de estar errado, mas após mais uma dose de renhidas primárias nos Estados Unidos, a que é que se assiste? O que é que poderá estar certo, antes de se descobrir o erro? McCain é candidato. Hillary Clinton e Obama ainda disputam a única cadeira da dança democrática. Muito provavelmente Obama ganhará. O que não quererá dizer que quem tem como sólido princípio ideológico o conceito profundo de “Yes, We Can”, não possa ganhar as presidenciais. Mas só na Casa Branca se verá se a imagem se transforma em conteúdo. Hillary e Obama, num ponto, estão de acordo: os acordos Nafta são uma nova versão do “eixo do mal”. Mais: quer Obama, quer Hillary, já mostraram ser contra o contrato de fornecimento de aviões de reabastecimento pela EADS europeia (Airbus) ao exército americano. Ambos perfilam-se como bons proteccionistas, no pior estilo americano: viva o liberalismo económico, quando isso defende o interesse das empresas americanas! E ainda não chegámos à segunda fase do acordo de “céus abertos”, como avisava há dias Richard Branson?
A manifestação de apoio
Há dias, quando vi a edição do número do “Público” que nunca saiu, reparei numa das “tiras” do célebre Guarda Ricardo, de um dos maiores criadores de “cartoons” da imprensa portuguesa: o infelizmente já desaparecido Sam. E, reencontrando nos meus arquivos, um dos livrinhos que foram editados com alguns dos melhores momentos do Guarda Ricardo nos tempos quentes de 1975, encontrei um, francamente delicioso. Fora da esquadra, desenrolava-se uma manifestação. O chefe perguntou a Ricardo o que se passava e este respondia: “chefe, é uma manifestação de apoio ao apoio que temos dado às manifestações de apoio que nos têm apoiado”. Dias depois li que o PS está a preparar uma manifestação nacional de apoio ao Governo. E, ainda não sei porquê, voltei a ver a explicação de Ricardo?
Cuba e o futuro
Cuba mudou de Castro, e todos os líderes de opinião já se interrogaram se a “ditadura” vai continuar ou não e se o bloqueio americano (exceptuando a zona de “liberdade” de Guantanamo) deve manter-se ou não. Indiferentes a isso, cerca de uma centena de habitantes do concelho de Vila Real de Santo António foram, ou vão, a Cuba para fazer operações aos olhos, derivados de cataratas e de outras maleitas que ameaçam torná-los invisuais. Neste país, onde não há “ditadura”, o SNS tem-nos numa lista de espera que pode chegar a vários anos. São dilemas como este que nos fazem pensar sobre as diferenças entre “liberdade” a nível da saúde e a “ditadura” política.