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Gato no sofá (03/04/2008)

Há anos Miguel Esteves Cardoso, talvez como nenhum outro, mostrou-nos como eram os hábitos sociais dos portugueses. Mas hoje, o que comanda a vida de todas as pessoas, como diria o outro, “it’s the economy, stupid”. Por isso são muito interessantes os dad

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Os hábitos nacionais

Há anos Miguel Esteves Cardoso, talvez como nenhum outro, mostrou-nos como eram os hábitos sociais dos portugueses. Mas hoje, o que comanda a vida de todas as pessoas, como diria o outro, “it’s the economy, stupid”. Por isso são muito interessantes os dados do INE sobre os orçamentos das famílias portuguesas. 26,5% é gasto na habitação e a alimentação desceu para uns módicos 15,5%. Grande parte do dinheiro disponível deslocou-se para o consumo e os custos da saúde já começam a fazer mossa na bolsa. Quase todos os portugueses têm telemóvel. Isto é: a sociedade portuguesa atirou-se para os braços do consumo, mas quando se olha à volta, percebe-se porque é que vivemos numa ilusão de riqueza que, afinal, não é criada no montante que é necessário. Muitas das discrepâncias da sociedade portuguesa começam aqui e, talvez assim, se perceba também melhor a classe política que temos e as ideias que ela tem para o país.

Pluralismo à portuguesa

A ERC (vulgo Entidade Reguladora para a Comunicação Social) fez um estudo sobre o “pluralismo politico-partidário” do serviço público de televisão. E chegou à conclusão que o PS e o Governo têm um “excesso de presença” e o PSD uma “sistemática sub-representação”. Claro que o estudo causou logo o habitual amuo do PSD, semelhante à do lugar vago na presidência da administração da CGD. Um caso de “rotativismo” diletante, que o PSD e o PS, consoante estão na posição ou estão na oposição, vão buscar aos saudosos tempos da monarquia constitucional. Mas o mais interessante no relatório é a conclusão que podemos fazer de que, fora dos dois maiores partidos, a presença de comentadores independentes é quase nula e que a opinião ou a presença de forças da sociedade civil que não pagam quota partidária, em debates, é irrelevante. Como se vê nos programas de política dos canais públicos. Mas esse é o pluralismo à portuguesa.

A ironia de Jaime Gama

Edite Estrela, reapareceu para dizer que acredita que os elogios de Jaime Gama a Alberto João Jardim, foram em “tom irónico”. Nas imagens viu-se que o que passava mais pelas palavras de Gama era a ironia. Eram, aliás, montanhas de ironia. Quem deve ter achado piada à ironia foi o próprio Alberto João Jardim. Que ainda deve estar a rir. Do PS, nacional e local.

A defesa do português

Enquanto por cá se debate a questão do acordo ortográfico, numa empolgante guerra de alecrim e manjerona, ninguém parece prestar atenção à aplicação prática do aumento de influência da língua no mundo. Em termos simples: a Venezuela colocou o português como língua opcional nas escolas. Conclusão: são precisos 20 professores de português nas escolas daquele país. Incógnita: o Ministério da Educação prepara-se para colocar 2000 professor no quadro de mobilidade. Resultado: não há dinheiro para enviar 20 professores para a Venezuela. Conclusão: pelos vistos vai ser o Brasil a enviar os professores. E ainda se fala da política cultural do Estado português. A despropósito: o que têm a dizer, sobre o tema, o Ministro da Cultura e a Ministra da Educação?

A Madonna da Nato

No último número da “Nato Review”, Peter van Harn, director do Instituto de Relações Internacionais da Holanda, comete uma heresia deliciosa. Segundo ele a Nato tem de se reinventar. E o seu modelo deve ser Madonna. Porquê? Porque a aliança militar deve ter em conta os desafios do século XXI: o “cyber” terrorismo, as armas de destruição maciça e a competição pelos recursos naturais. Segundo Harn, a Nato comporta-se como os Rolling Stones: um grupo que só ainda não se reformou devido ao número de fãs que tem. Para ele a Nato deveria estreitar relações com países como a Austrália e organizações como a UE, o Banco Mundial e a ONU. De acordo com ele, a Nato deveria aplicar a chamada “curva de Madonna”: reinventar-se cada vez que a popularidade começava a entrar em declínio. Controvérsias à parte, pense-se apenas num pormenor: Madonna tem 49 anos. Apenas menos 10 do que a Nato. E já mudou de imagem tantas vezes que se lhe perdeu a conta. A Nato, como se viu com as declarações de George W. Bush, sobre a entrada da Ucrânia e da Geórgia, parece ainda estar no tempo da Guerra Fria.

Sempre Évora

Por estes dias fui a Évora, recordar prazeres antigos e sentir o ar puro. É uma cidade onde se continua a comer muito bem. Regressei, como não podia deixar de ser, à Adega Típica Quarta-Feira, onde há anos conheci, por mero acaso, o trabalho do enólogo Paulo Laureano. O serviço continua único. A comida excelente – e nada como deixar nas mãos do proprietário a tarefa de escolher o que se come. Depois, para adoçar a boca, fui à nova loja da Boa Boca, comprar uns chocolates de São Tomé e uns biscoitos de azeite simplesmente divinais. O que não deixa de ser curioso é que num país que vai desertificando o seu interior, cidades como Évora respirem com o prazer da vida e apontem para um futuro que se sente está a renovar-se à sua volta. Vou voltar lá muito brevemente.

Mais musica Ladina

Há algumas semanas recomendei aqui a audição do álbum de Yasmin Levy, a revelação do cruzamento de sons sefarditas e do flamenco, através do chapéu mais vasta da cultura Ladina, que tanto peso teve na Península Ibérica. Agora mão amiga trouxe-me de Londres o disco de uma nova cantora da área, Mor Kabasi, “The Beauty and the Sea”. Mais inovadora, ao introduzir outros sons, recolhe muito da memória da cultura da sua gente (a começar pelas letras, muitas delas escritas pela mãe de Mor, Shoshana). Uma incrível surpresa.

Tinto alentejano

Há surpresas que surgem no coração do Alentejo. É o caso do Reguengos Reserva tinto, de 2005, um agradável encontro das castas Aragonês, Trincadeira, Tinta Caiada e Alicante Bouschet. Aroma muito interessante e uma cor cristalina conferem-lhe uma identidade muito própria que os adeptos de uma boa comida alentejana ou de um bom queijo vão apreciar como elo de ligação a uns bons momentos de prazer.

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