Opinião
Futebol
Agora que já não temos o espectro do resultado da selecção portuguesa, falemos do Mundial como um negócio que alimenta outros negócios. Acima de qualquer outra coisa, hoje em dia, uma prova como o Mundial de Futebol é um espectáculo que...
Agora que já não temos o espectro do resultado da selecção portuguesa, falemos do Mundial como um negócio que alimenta outros negócios. Acima de qualquer outra coisa, hoje em dia, uma prova como o Mundial de Futebol é um espectáculo que fornece um conteúdo audiovisual precioso - aliás as grandes provas desportivas são conteúdos audiovisuais de excelência. Existem algumas razões para isto. Em primeiro lugar uma transmissão desportiva é o directo por excelência - vive do directo, do instante em que acontece. Por mais graça que tenha ver resumos dos jogos, o interesse é saber qual o resultado no exacto instante final de uma prova. Depois de se saber quem ganhou, rever um jogo é um exercício de nostalgia, não é uma emoção. E, é pelo enorme peso de emoção e de paixão que transporta, que uma grande prova desportiva é tão disputada pelas televisões, e em breve por canais digitais e por aí fora.
Isto é verdade para o futebol, mas é também verdade, como nos Estados Unidos, para o baseball ou para o basketball e - imagine-se - nalguns casos (os grandes torneios), até para o golfe. Nos Estados Unidos há modalidades cujo desenrolar de jogo está quase feito de forma perfeita para televisão - com pausas a tempos certos para emissão de publicidade, com um ritmo que tem picos permanentes. O futebol ainda não é assim, mas se analisarmos o que se tem passado neste Mundial percebe-se que algumas coisas irão ter que mudar. Por exemplo não faz sentido que existam erros de arbitragem em clara contradição com o que os espectadores vêem em casa nas repetições - sobretudo quando há vastas regiões do mundo, na Ásia nomeadamente, onde o futebol começa a ser popular. Os novos telespectadores - seja em idade, seja em adesão à modalidade - terão dificuldade em perceber que podem ver um jogo em alta definição ou em 3D, mas que os resultados do jogo podem ser falseados pela não utilização de meios técnicos pela arbitragem. Não faz sentido que a FIFA esteja atenta às possibilidades de negócio das novidades tecnológicas mas que continue a usar meios de arbitragem da primeira metade do século XX.
A globalização do futebol tem efeitos curiosos. Basta ver como algumas grandes equipas (Inglaterra, França, Itália e até Portugal) foram eliminadas nas primeiras fases do Campeonato. Há uma série de países ainda em competição que seria impensável estarem onde estão há uns anos atrás. Isto tem a ver com a globalização dos jogadores e o caso da selecção portuguesa é bem elucidativo: muitos jogadores já não jogam em clubes portugueses, muitos têm agendas próprias e o conceito de selecção nacional acaba por ser um pouco forçado. Nem que seja do ponto de vista psicológico não deve ser fácil a um português jogar contra a Espanha quando vive em Madrid e é pago por um clube espanhol. Em contrapartida, países com poucas tradições no futebol e poucas grandes estrelas internacionais, têm maior facilidade em montar equipas para as respectivas selecções e em fazê-las jogar de forma mais coerente e eficaz.
O facto de o futebol ter alargado nos últimos 10 anos a sua capacidade de atracção de públicos (como nos Estados Unidos e China), tem consequências directas numa série de áreas que só podem existir porque a televisão leva o jogo a todo o lado: os patrocínios de equipas e de jogadores, os patrocínios oficiais da própria FIFA, a publicidade a marcas ligadas ao desporto, as próprias apostas online. O futebol deixou de ser um negócio apenas da Europa e da América do Sul, passou a ser global, é um conteúdo cada vez mais disputado e um veículo publicitário valioso. Tudo isto só funciona enquanto houver emoção, disputa, resultados e vitórias claras. O futebol não é só um jogo: é espectáculo e a sua gestão tem que ter isto em conta. Lá fora e, também, cá dentro de portas. Só que cá dentro ainda há quem pense que o futebol deve ser encarado como uma negociata, em vez de ser show business.
www.twitter.com/mfalcao
mfalcao@gmail.com
www.aesquinadorio.blogs.sapo.pt
Isto é verdade para o futebol, mas é também verdade, como nos Estados Unidos, para o baseball ou para o basketball e - imagine-se - nalguns casos (os grandes torneios), até para o golfe. Nos Estados Unidos há modalidades cujo desenrolar de jogo está quase feito de forma perfeita para televisão - com pausas a tempos certos para emissão de publicidade, com um ritmo que tem picos permanentes. O futebol ainda não é assim, mas se analisarmos o que se tem passado neste Mundial percebe-se que algumas coisas irão ter que mudar. Por exemplo não faz sentido que existam erros de arbitragem em clara contradição com o que os espectadores vêem em casa nas repetições - sobretudo quando há vastas regiões do mundo, na Ásia nomeadamente, onde o futebol começa a ser popular. Os novos telespectadores - seja em idade, seja em adesão à modalidade - terão dificuldade em perceber que podem ver um jogo em alta definição ou em 3D, mas que os resultados do jogo podem ser falseados pela não utilização de meios técnicos pela arbitragem. Não faz sentido que a FIFA esteja atenta às possibilidades de negócio das novidades tecnológicas mas que continue a usar meios de arbitragem da primeira metade do século XX.
O facto de o futebol ter alargado nos últimos 10 anos a sua capacidade de atracção de públicos (como nos Estados Unidos e China), tem consequências directas numa série de áreas que só podem existir porque a televisão leva o jogo a todo o lado: os patrocínios de equipas e de jogadores, os patrocínios oficiais da própria FIFA, a publicidade a marcas ligadas ao desporto, as próprias apostas online. O futebol deixou de ser um negócio apenas da Europa e da América do Sul, passou a ser global, é um conteúdo cada vez mais disputado e um veículo publicitário valioso. Tudo isto só funciona enquanto houver emoção, disputa, resultados e vitórias claras. O futebol não é só um jogo: é espectáculo e a sua gestão tem que ter isto em conta. Lá fora e, também, cá dentro de portas. Só que cá dentro ainda há quem pense que o futebol deve ser encarado como uma negociata, em vez de ser show business.
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