Opinião
Felicidade eterna
Há quem acredite que uma mentira repetida muitas vezes acaba por se transformar em verdade.
É essa a crença que o Governo transformou em religião quando se fala de crise, do FMI ou do euro. Repetiu que não estávamos em crise e a verdade acabou por vir ao de cima. Clamou que não éramos a Grécia ou a Irlanda e a verdade é transparente. Repete que não quer nada com o FMI, mas poucos duvidam do destino do sítio. Há algo elementar na política: é preferível não dizer nada, sorrir ou acenar do que estar sucessivamente a desmentir-se, como se o que foi dito no passado nunca tivesse existido. Para Sócrates e para alguns dos seus ministros a história reescreve-se de acordo com as necessidades do presente. Lenine e Estaline são as suas referências sólidas. Mas, hoje, é difícil apagar pessoas das fotografias e apagar frases bombásticas. O Governo criou a sua Disneylândia e continua a brincar nela. É por isso que convive mal com a sensatez. Pedro Passos Coelho, ao dizer que está preparado para governar com o FMI, apenas disse o óbvio. O próximo ministro das novas verdades de Sócrates, Augusto Santos Silva, acha que isso enfraquece a posição de Portugal. Está obviamente errado. Portugal é irrelevante. A grande batalha sobre o futuro do euro só se travará quando as forças que determinam os mercados estiverem na fronteira de Espanha. Aí a Alemanha terá de decidir, de uma vez por todas, se quer o euro ou não. E isso tem apenas a ver com a sua política interna. É por isso que as palavras de Santos Silva são as de quem vive como um hippie em Katmandu, onde a felicidade é eterna.
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