Opinião
Eu quero um TGV
Para cada coisa que se faz há sempre muitos argumentos para não se fazer. Dos mais plausíveis aos mais absurdos. É assim a vida. Mas em Portugal gerou-se uma onda contra todo e qualquer empreendimento que escape à vulgar rotina da conjuntura. São...
Para cada coisa que se faz há sempre muitos argumentos para não se fazer. Dos mais plausíveis aos mais absurdos. É assim a vida. Mas em Portugal gerou-se uma onda contra todo e qualquer empreendimento que escape à vulgar rotina da conjuntura. São muitos os que perante qualquer projeto logo encontram mil maneiras de se oporem.
O caso do TGV é paradigmático. O tema tem anos. Foram feitos todos os estudos. Além dos aspetos positivos, e são muitos, existe um compromisso de ligação a Espanha. Está assinado e celebrado. Mesmo assim a negatividade e maledicência nunca descansam. Primeiro foi a polémica das geometrias. Gente que não entende do assunto manifestou-se contra os percursos, sugeriu outros, exigiu a alta velocidade à porta ou nada. O PSD, que hoje é contra o Lisboa-Madrid, desenhou nada menos de 5 linhas de forma a satisfazer clientela e autarcas. Depois, foi a questão das bitolas, das mercadorias, do número de passageiros, do preço do bilhete, da rendibilidade, até se chegar a este argumento dos argumentos que é a falta de dinheiro.
Os portugueses nunca são frugais nos exageros. O maior erro da história de Portugal; um crime de lesa pátria; a fome e a miséria para os nossos filhos e netos. Não se faz a coisa por menos. E, no entanto, estamos a falar de um meio de transporte comum na Europa que só não existe nalguns países desenvolvidos, como é o caso dos nórdicos, por questões ambientais. De facto, um dos poucos argumentos com sentido, mas que por cá não preocupa nenhum maldizente.
A par do avião o TGV é, para já, a única outra maneira rápida de nos ligarmos à Europa. Um dia se inventará qualquer outra coisa ainda melhor - o teletransporte que se vê nas séries de ficção científica seria excelente -, mas de momento é o que temos. O TGV serve para reforçar a mobilidade e fazer a ligação às redes europeias de transportes de alta velocidade. Quanto ao dinheiro, sendo certo que o país tem de poupar em muita coisa, é também evidente que não pode deixar de investir naquilo que gera dinâmica económica e promove a abertura civilizacional. Não fosse assim, tendo em conta o estado sempre precário das nossas finanças, nunca se teria feito nada. Portugal continuaria rural e atrasado.
Dito isto, que é cristalino, vai sendo patente a divisão entre duas perspetivas divergentes sobre o futuro do País. Os fundamentos dessa fratura não devem contudo ser reduzidos à oposição entre conservadores e progressistas, ou direita e esquerda. A questão vai mais fundo. Prende-se com a incapacidade que muitos revelam em se adaptarem e tirar partido da evolução tecnológica das últimas décadas. As suas consequências na organização social, na economia, no mundo do trabalho, no comportamento, na cultura e em praticamente todos os setores de atividade criam uma enorme instabilidade, medo e até revolta naqueles que, por qualquer razão, não são capazes ou não querem evoluir. Daí que a resistência se exprima tanto na direita reacionária quanto na esquerda arcaica. Os discursos são idênticos, só variam na sintaxe.
O ódio ao TGV é o mesmo ódio que nos últimos anos se tem manifestado contra tudo o que seja inovador. O Simplex foi escarnecido, criticado, desvalorizado. Esquecendo que Portugal aparece, nas estatísticas europeias sobre e-government, nos primeiros lugares. Nunca se deu um salto tão grande e tão decisivo. Também o forte investimento nas energias alternativas, onde se passou de país atrasado a destacado, não tem sido reconhecido e, por vezes, é alvo das críticas mais estapafúrdias. Já para não falar do computador Magalhães, objeto preferido da risota dos ignorantes. A iniciativa é uma referência a nível mundial e um modelo seguido por vários países.
Deu-se também um enorme salto na investigação científica. Entre tantos dados basta referir que o número de investigadores se encontra agora acima da média europeia. E, entretanto, Portugal tornou-se num país exportador de tecnologia invertendo a tendência histórica.
Por isso, quem quiser regressar ao tempo das carroças que o faça. Por mim, eu quero um TGV.
Este artigo de opinião foi escrito em conformidade com o novo Acordo Ortográfico.
O caso do TGV é paradigmático. O tema tem anos. Foram feitos todos os estudos. Além dos aspetos positivos, e são muitos, existe um compromisso de ligação a Espanha. Está assinado e celebrado. Mesmo assim a negatividade e maledicência nunca descansam. Primeiro foi a polémica das geometrias. Gente que não entende do assunto manifestou-se contra os percursos, sugeriu outros, exigiu a alta velocidade à porta ou nada. O PSD, que hoje é contra o Lisboa-Madrid, desenhou nada menos de 5 linhas de forma a satisfazer clientela e autarcas. Depois, foi a questão das bitolas, das mercadorias, do número de passageiros, do preço do bilhete, da rendibilidade, até se chegar a este argumento dos argumentos que é a falta de dinheiro.
A par do avião o TGV é, para já, a única outra maneira rápida de nos ligarmos à Europa. Um dia se inventará qualquer outra coisa ainda melhor - o teletransporte que se vê nas séries de ficção científica seria excelente -, mas de momento é o que temos. O TGV serve para reforçar a mobilidade e fazer a ligação às redes europeias de transportes de alta velocidade. Quanto ao dinheiro, sendo certo que o país tem de poupar em muita coisa, é também evidente que não pode deixar de investir naquilo que gera dinâmica económica e promove a abertura civilizacional. Não fosse assim, tendo em conta o estado sempre precário das nossas finanças, nunca se teria feito nada. Portugal continuaria rural e atrasado.
Dito isto, que é cristalino, vai sendo patente a divisão entre duas perspetivas divergentes sobre o futuro do País. Os fundamentos dessa fratura não devem contudo ser reduzidos à oposição entre conservadores e progressistas, ou direita e esquerda. A questão vai mais fundo. Prende-se com a incapacidade que muitos revelam em se adaptarem e tirar partido da evolução tecnológica das últimas décadas. As suas consequências na organização social, na economia, no mundo do trabalho, no comportamento, na cultura e em praticamente todos os setores de atividade criam uma enorme instabilidade, medo e até revolta naqueles que, por qualquer razão, não são capazes ou não querem evoluir. Daí que a resistência se exprima tanto na direita reacionária quanto na esquerda arcaica. Os discursos são idênticos, só variam na sintaxe.
O ódio ao TGV é o mesmo ódio que nos últimos anos se tem manifestado contra tudo o que seja inovador. O Simplex foi escarnecido, criticado, desvalorizado. Esquecendo que Portugal aparece, nas estatísticas europeias sobre e-government, nos primeiros lugares. Nunca se deu um salto tão grande e tão decisivo. Também o forte investimento nas energias alternativas, onde se passou de país atrasado a destacado, não tem sido reconhecido e, por vezes, é alvo das críticas mais estapafúrdias. Já para não falar do computador Magalhães, objeto preferido da risota dos ignorantes. A iniciativa é uma referência a nível mundial e um modelo seguido por vários países.
Deu-se também um enorme salto na investigação científica. Entre tantos dados basta referir que o número de investigadores se encontra agora acima da média europeia. E, entretanto, Portugal tornou-se num país exportador de tecnologia invertendo a tendência histórica.
Por isso, quem quiser regressar ao tempo das carroças que o faça. Por mim, eu quero um TGV.
Este artigo de opinião foi escrito em conformidade com o novo Acordo Ortográfico.
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