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10 de Setembro de 2008 às 13:00

Energia: conjuntura, estrutura ou ataque?

Em 1973, dois anos após o dólar ter entrado na era das mudanças cambiais, Israel lança a guerra do Yom Kippur. E a OPEP desencadeia o seu primeiro ataque. Boicotou o petróleo aos países que apoiaram Israel.

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Desde 1950, o preço do barril do petróleo tinha-se mantido inferior a 3 dólares, permitindo os "gloriosos anos" da Europa. Com o ataque árabe, o barril quadruplicou de preço. Nos países vítimas, o crescimento estagnou, subiu a inflação e o desemprego.

As principais economias vítimas tomaram medidas intensas de diminuição do consumo de petróleo e de maior eficiência energética. A França lançou-se na energia eléctrica nuclear. O Japão buscou soluções tecnológicas menos glutonas de energia. A Dinamarca concebeu o seu plano eólico.

Portugal foi um dos alvos do ataque (base da Lajes e colónias). Reagiu pondo fim abrupto ao império colonial, fazendo a colectivização da economia. O FMI aplicou-nos duas doses de "aperto de cinto".

A OPEP lança em 1979 o segundo ataque com aumento do custo do petróleo. Com a revolução no Irão, o Iraque é incitado a fazer-lhe a guerra. Ambos baixaram a produção de petróleo. Os preços do barril dispararam abruptamente, para cerca de 40 dólares. A recessão flagelou novamente os povos dos países consumidores.

Alguns países tinham já reforçado as energias alternativas ou procuraram recursos próprios de ouro negro. Empresas e universidades inovaram na eficiência energética e nas energias renováveis, as pessoas passaram a incluir, na sua cultura, comportamentos de defesa pessoal e colectiva contra a ameaça petrolífera. Casas e escritórios passaram a ter melhor isolamento térmico. A bicicleta passou a ser um símbolo de dupla sabedoria. Andar em transportes públicos deixou de ser sinal de baixo estatuto social.

Outros continuaram muito vulneráveis. Desordenamento do território implicando grandes deslocações diárias, com deficientes transportes públicos. Predominam imóveis insustentáveis ou ineficientes. Grossos investimentos públicos e privados incentivam o transporte individual. Em cada oito anos, milhões de viaturas importadas tornam-se sucata. E durante a vida útil devoram energia não renovável, importada, poluidora. Criam stress quotidiano e ruído, queimam produtividade, fazem hecatombes anuais de mortos e de incapacitados. Atacam o clima e o ar.

Os produtores petrolíferos passaram a comprar activos estratégicos nos países desenvolvidos, inclusive nas energias renováveis. E também aplicam o princípio da sustentabilidade. Sustendo a produção, poupam as jazidas para as suas gerações vindouras. E vendem mais caro. As "Big Oil" aumentam os lucros. As "Big Money" especulam. Os governos europeus engordam as receitas dos impostos.

A Rússia, com o arsenal nuclear e a estratégia de ameaça à segurança energética da Europa, ri-se do "fim da História". A China está a inaugurar uma nova central eléctrica a carvão, por semana. A China e a Índia têm "bombas humanas" aptas a devorar petróleo, carvão e alimentos em quantidades gigantescas. Na União Europeia, Javier Solana no seu relatório recente sobre a mudança climática vai falando de "Segurança Internacional".

O terceiro ataque com a arma da energia fóssil, ainda em curso, começou com uma escalada sustentada dos preços ao longo de anos, que passou a subida abrupta, aproveitando a fase de fraqueza do ciclo eleitoral americano, a crise institucional da UE e o aumento da procura global. É também uma resposta à invasão do Iraque e uma manobra dissuasória quanto a eventual ataque ao Irão. Ou à extensão da NATO.

Um crescente número de jazidas tende para o esgotamento. Os preços altos viabilizam novas jazidas, novas energias e tecnologias. Mais do que crise conjuntural, temos mudança estrutural. O barril a três dígitos pode vir a ser o novo paradigma. Cada pessoa, empresa, organização e governo têm de acelerar e aprofundar a mitigação e prevenção dos efeitos. A curto e longo prazo.

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