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20 de Dezembro de 2011 às 23:30

Emigrar?

Para o Padre António Vieira, emigrar era um desígnio nacional. Os portugueses deveriam emigrar para expandir o cristianismo.

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Para o Padre António Vieira, emigrar era um desígnio nacional. Os portugueses deveriam emigrar para expandir o cristianismo. Eça de Queiroz era mais sibilino: "Em Portugal, a emigração não é, como em toda a parte, a transbordação de uma população que sobra; mas a fuga de uma população que sofre". Pedro Passos Coelho inventou uma nova doutrina mobilizadora nacional: emigremos, o último a fugir é galinha!

O primeiro-ministro, que usou a frase errada no momento errado, será no futuro conhecido não como o Lavrador ou o Príncipe Perfeito, mas como o Desmobilizador. Passos Coelho conhece os dados: só no último ano emigraram 40 mil portugueses. No passado, Portugal sempre foi uma fábrica de emigrantes: para o Brasil, para África, para os EUA, para França. Todos em busca de um futuro que aqui nunca atingiriam. Há portugueses a mais? Não: existe é uma elite incapaz de tornar Portugal num país decente. Daí que, ao longo dos séculos, se tenha pedido aos portugueses em excesso para emigrar, de forma educada ou a pontapé.

Os portugueses podem ser cidadãos do mundo, como sonhava Agostinho da Silva, mas também o são porque são infelizes na sua terra. A emigração pode ser a solução. E será para muitos portugueses. Mas a questão não pode ser colocada diletantemente como fez Passos Coelho. Tem de ser enquadrada, dentro de uma política que possa envolver o Estado de forma concertada. De outra forma parece a política do salve-se quem puder. Seja como for, a emigração surge como o evidente falhanço da elite que se mostra incapaz de gerir sensatamente Portugal. Navegar é preciso, viver não é preciso?

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