Opinião
E chamam a isto indústria do futebol!
O futebol é, neste momento, em Portugal, uma versão "hardcore" da actividade política. Compreende-se: muitos dos seus actores podem aqui, por razões óbvias, dizer aquilo que pensam (o que normalmente se confunde com um deserto de ideias) e fazer aquilo que, na política, exige um pouco mais de decoro.
E chamam a isto indústria do futebol!
O futebol é, neste momento, em Portugal, uma versão "hardcore" da actividade política. Compreende-se: muitos dos seus actores podem aqui, por razões óbvias, dizer aquilo que pensam (o que normalmente se confunde com um deserto de ideias) e fazer aquilo que, na política, exige um pouco mais de decoro. Compreende-se a dificuldade que há em separar a política do futebol entre nós: muitos dos actores desdobram-se pelas versões "hardcore" e "softcore" das diferentes actividades cívicas. Talvez por isso não surpreenda que o caso que desceu de pára-quedas no Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol tenha tido os resultados conhecidos. Confusos? Não perca o próximo episódio, como se dizia na antiga série americana "Soap". A UEFA está confusa, é certo. Mas a UEFA não reside em Portugal para alívio do sr. Platini. O Governo, pela voz do seu secretário de Estado do Desporto, não está confuso. Claro. Porque o problema "é do futebol" e o Governo "vai receber um relatório". O país fica descansado. Sempre tão expansivo a aparecer nas imagens ao lado dos líderes do futebol indígena e a comentar a saída do sr. Scolari, o sr. Laurentino Dias finge agora que a carroça que está a passar por ele não está a arder. Não é confusão: é a atitude tipicamente nacional. O futebol, hoje, assemelha-se, com demasiada facilidade, a um travesseiro onde todos os seus intérpretes encostam a cabeça à espera de um sonho sem pesadelos. Vive-se ainda a pensar que, por mais crises que se sucedam, haverá sempre um final feliz, à moda dos filmes de Hollywood. Em Portugal ainda se acha que o futebol indígena é um imenso glutão, onde não há lugar para a sujidade. Supõe-se mesmo que quem não alinhe nessa lavagem de roupa branca deveria ter um cadeado na boca. O futebol português não é a aldeia da roupa branca. É a esquina da roupa encardida. O futebol português só conseguirá ser transparente à força. Houve um tempo em que se supôs que a Disneylândia do futebol tinha sido colocada em Portugal: os clubes tinham-se transformado em SADs, alguns tinham ido para a Bolsa, alguns dos melhores jogadores tinham ido jogar para terras distantes, chegaram administradores profissionais aos clubes. Mas, na essência, por detrás do pó de arroz para dar cor à cara, as velhas faces continuaram a ser as mesmas: olhe-se para quem está à frente da FPF e da generalidade dos clubes mais importantes. O que mudou? Zero. Na Liga de Futebol houve algumas mudanças que poderiam vir a contribuir para modernizar o futebol português, mas à sua volta o cerco mantém-se. No meio de tudo isto há algo que escapa: há uns anos avançou-se que o futebol era um grande negócio nacional, que poderia ser criada uma indústria tão ou mais forte que o vinho ou a AutoEuropa, que poderia ser mesmo um "cluster". Quando, em dois anos seguidos, se chega ao início da temporada e ainda não se sabe quais são os clubes que irão disputar a I Liga e a Liga de Honra, estamos conversados. Que indústria é esta? Como é que algumas empresas ainda patrocinam este circo mal montado e pior remendado? Não há-de estar a UEFA confusa! Os únicos que não estão confusos são o sr. Laurentino Dias e o sr. Gilberto Madaíl, responsáveis máximos pela transparência e pela criação de uma actividade empresarial que estimule toda a sociedade. Claro: eles não estão nos seus lugares para discutir os problemas. Estão para ficar com as coroas no momento das glórias. Com um fotógrafo por perto.
Um regresso em força
Há dias tive o prazer de ir à apresentação do Departamento Editorial de Lisboa, da Porto Editora. À sua frente está Manuel Alberto Valente, um dos editores que mais sabe de livros em Portugal, e que tem esse valor acrescentado muito difícil de encontrar no nosso país: um notável equilíbrio entre a lógica de edição e a de mercado. Escolher o melhor e perceber que a edição é um negócio, não é tarefa fácil, numa área que tem as suas diferenças face a muitas actividades empresariais. Porque o talento não são apenas números, mas também não pode deixar de os ser. Ser um fiel da balança, interessado, culto e capaz de descortinar o sucesso que está escondido atrás da linha do horizonte, é um conjunto de predicados que tem Manuel Alberto Valente. Boa sorte!
Vimioso fresco
É um rosé bem ribatejano, feito com base nas castas Touriga Nacional e Syrah, é deve beber-se fresco, é claro. O Conde de Vimioso é um vinho bem agradável que se destina a este tempo quente, quer como aperitivo, quer para acompanhar uma refeição mais ligeira. É um vinho que deve ser bebido agora, para aproveitar melhor o seu aroma, que as castas de que é feito lhe conferem.
Um encontro de culturas
Vêm de duas culturas diferentes: o Jazz e a música "country". Mas isso não os impediu de em Janeiro de 2007 terem ido tocar em conjunto num palco americano. Desse celebrado encontro entre Wynton Marsalis e Willie Nelson, nasceu o disco "Two Men With the Blues". É uma visão estimulante dos cruzamentos musicais (e culturais) de um grande país. Escute-se, por exemplo, duas pequenas obras-primas de emoção: "Bright Lights, Big City" ou "Georgia on My Mind".
O futebol é, neste momento, em Portugal, uma versão "hardcore" da actividade política. Compreende-se: muitos dos seus actores podem aqui, por razões óbvias, dizer aquilo que pensam (o que normalmente se confunde com um deserto de ideias) e fazer aquilo que, na política, exige um pouco mais de decoro. Compreende-se a dificuldade que há em separar a política do futebol entre nós: muitos dos actores desdobram-se pelas versões "hardcore" e "softcore" das diferentes actividades cívicas. Talvez por isso não surpreenda que o caso que desceu de pára-quedas no Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol tenha tido os resultados conhecidos. Confusos? Não perca o próximo episódio, como se dizia na antiga série americana "Soap". A UEFA está confusa, é certo. Mas a UEFA não reside em Portugal para alívio do sr. Platini. O Governo, pela voz do seu secretário de Estado do Desporto, não está confuso. Claro. Porque o problema "é do futebol" e o Governo "vai receber um relatório". O país fica descansado. Sempre tão expansivo a aparecer nas imagens ao lado dos líderes do futebol indígena e a comentar a saída do sr. Scolari, o sr. Laurentino Dias finge agora que a carroça que está a passar por ele não está a arder. Não é confusão: é a atitude tipicamente nacional. O futebol, hoje, assemelha-se, com demasiada facilidade, a um travesseiro onde todos os seus intérpretes encostam a cabeça à espera de um sonho sem pesadelos. Vive-se ainda a pensar que, por mais crises que se sucedam, haverá sempre um final feliz, à moda dos filmes de Hollywood. Em Portugal ainda se acha que o futebol indígena é um imenso glutão, onde não há lugar para a sujidade. Supõe-se mesmo que quem não alinhe nessa lavagem de roupa branca deveria ter um cadeado na boca. O futebol português não é a aldeia da roupa branca. É a esquina da roupa encardida. O futebol português só conseguirá ser transparente à força. Houve um tempo em que se supôs que a Disneylândia do futebol tinha sido colocada em Portugal: os clubes tinham-se transformado em SADs, alguns tinham ido para a Bolsa, alguns dos melhores jogadores tinham ido jogar para terras distantes, chegaram administradores profissionais aos clubes. Mas, na essência, por detrás do pó de arroz para dar cor à cara, as velhas faces continuaram a ser as mesmas: olhe-se para quem está à frente da FPF e da generalidade dos clubes mais importantes. O que mudou? Zero. Na Liga de Futebol houve algumas mudanças que poderiam vir a contribuir para modernizar o futebol português, mas à sua volta o cerco mantém-se. No meio de tudo isto há algo que escapa: há uns anos avançou-se que o futebol era um grande negócio nacional, que poderia ser criada uma indústria tão ou mais forte que o vinho ou a AutoEuropa, que poderia ser mesmo um "cluster". Quando, em dois anos seguidos, se chega ao início da temporada e ainda não se sabe quais são os clubes que irão disputar a I Liga e a Liga de Honra, estamos conversados. Que indústria é esta? Como é que algumas empresas ainda patrocinam este circo mal montado e pior remendado? Não há-de estar a UEFA confusa! Os únicos que não estão confusos são o sr. Laurentino Dias e o sr. Gilberto Madaíl, responsáveis máximos pela transparência e pela criação de uma actividade empresarial que estimule toda a sociedade. Claro: eles não estão nos seus lugares para discutir os problemas. Estão para ficar com as coroas no momento das glórias. Com um fotógrafo por perto.
Um regresso em força
Há dias tive o prazer de ir à apresentação do Departamento Editorial de Lisboa, da Porto Editora. À sua frente está Manuel Alberto Valente, um dos editores que mais sabe de livros em Portugal, e que tem esse valor acrescentado muito difícil de encontrar no nosso país: um notável equilíbrio entre a lógica de edição e a de mercado. Escolher o melhor e perceber que a edição é um negócio, não é tarefa fácil, numa área que tem as suas diferenças face a muitas actividades empresariais. Porque o talento não são apenas números, mas também não pode deixar de os ser. Ser um fiel da balança, interessado, culto e capaz de descortinar o sucesso que está escondido atrás da linha do horizonte, é um conjunto de predicados que tem Manuel Alberto Valente. Boa sorte!
É um rosé bem ribatejano, feito com base nas castas Touriga Nacional e Syrah, é deve beber-se fresco, é claro. O Conde de Vimioso é um vinho bem agradável que se destina a este tempo quente, quer como aperitivo, quer para acompanhar uma refeição mais ligeira. É um vinho que deve ser bebido agora, para aproveitar melhor o seu aroma, que as castas de que é feito lhe conferem.
Um encontro de culturas
Vêm de duas culturas diferentes: o Jazz e a música "country". Mas isso não os impediu de em Janeiro de 2007 terem ido tocar em conjunto num palco americano. Desse celebrado encontro entre Wynton Marsalis e Willie Nelson, nasceu o disco "Two Men With the Blues". É uma visão estimulante dos cruzamentos musicais (e culturais) de um grande país. Escute-se, por exemplo, duas pequenas obras-primas de emoção: "Bright Lights, Big City" ou "Georgia on My Mind".
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