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Opinião
05 de Agosto de 2005 às 13:59

Decidir bem e depressa!

Terá sucesso quem melhor souber arriscar no momento próprio, perderá quem se deixe bloquear pelo medo de errar e pelas inseguranças características dos que se sentem menos preparados e capazes.

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Liderar para ganhar impõe uma adaptação constante aos diferentes ritmos e condições a que a realidade nos vai sujeitando em toda a sua complexidade e turbulência e decidir bem e depressa, num enquadramento em constante mutação.

Atletas e treinadores, quadros de empresas e suas chefias deparam-se assim dia a dia com a necessidade de ver, interpretar e dar respostas em períodos extremamente curtos, com «tempos de reacção» e de «execução» verdadeiramente ínfimos e com a agravante da acção dos seus concorrentes terem permanentemente como objectivo alterar as circunstâncias e as condições em que decorre a sua acção.

Requerem identificar com a maior antecipação possível as situações (»tempo de percepção») e elaborar e executar de modo igualmente rápido a resposta adequada (»tempo de execução»).

Num pequeno espaço de tempo habitualmente designado como «tempo de reacção», necessitam antecipar quanto possível a solução necessária.

Com a certeza que quanto mais rápidos forem em termos do «tempo de percepção» que levarem a identificar uma determinada situação, mais rápido será também o seu «tempo de reacção».

Antecipar, eis a questão! Como um dos segredos para o sucesso, recolha de informação sistemática, o mais qualitativa possível. Antecipação onde entroncam por fim as estratégias planeadas a curto, médio e longo prazo e correspondentes tácticas destinadas a resolver os problemas que se nos deparam no dia a dia através da aplicação das técnicas necessárias.

Numa equipa de basquetebol por exemplo, perante a estratégia delineada de procurarmos o sucesso por via de uma defesa pressionante, a táctica é defender «homem a homem» em todo o campo através das técnicas respectivas de pressão sobre a bola e as linhas de passe, de ajuda e recuperação defensiva, etc.

Para isso, criamos quadros de contingência onde constam do modo mais exaustivo possível as diferentes hipóteses de solução existentes para cada situação, analisando-as e discutindo-as em seguida com os jogadores no decurso dos treinos. Preparando-os para uma permanente gestão do inesperado e uma fundamental autonomia de intervenção face às muitas opções possíveis em termos das soluções a serem encontradas.

Com base nesse conhecimento e experiência comum, elaboramos então as estratégias necessárias a partir das quais seja possível alcançar os objectivos previamente apontados, definindo para isso as tácticas e técnicas necessárias.

Como é óbvio, segundo um risco previamente assumido, face às muitas variáveis permanentemente introduzidas pelos opositores. Que exigem um processo de tomada de decisão o mais dinâmico e versátil possível, face à oposição sempre presente e à constante alteração das condições em que decorrem as diferentes situações que se nos deparam, tanto a nível desportivo, como empresarial.

Terá sucesso quem melhor souber arriscar no momento próprio, perderá quem se deixe bloquear pelo medo de errar e pelas inseguranças características dos que se sentem menos preparados e capazes. O risco é por isso um factor contextual que influencia de modo determinante o processo de tomada de decisão. Onde o medo de errar tem por vezes um peso extremamente negativo. E se torna fundamental a aprendizagem e o domínio de certo tipo de emoções negativas, tendo em vista a respectiva superação.

O meio social, familiar ou profissional introduzem no processo de tomada de decisão uma carga extremamente significativa. Tal como a competência de pais, treinadores, professores, dirigentes, não só a nível técnico profissional, como principalmente enquanto pessoas dispostas acima de tudo a servir aqueles que estão sob a sua responsabilidade.

Em casa, na escola, no treino, a todos eles se lhes pede uma intervenção pedagógica e formativa de decisiva importância em tudo o que respeita ao processo de tomada de decisão de filhos, atletas, etc. Por fim a competição e a necessidade do aumento gradual do tipo de oposição que defrontamos.

É fundamental sujeitar atletas e treinadores, a um tipo de oposição gradualmente mais forte, habilitando-os por essa via para um processo de tomada de decisão adaptado a uma realidade cada vez mais exigente e turbulenta. Em discussões tidas com colegas de profissão acerca desta questão ao longo dos anos, muitos são de opinião que só devemos avançar para níveis mais elevados de solicitação quando preparados para tal.

O que a experiência me disse sempre foi que a única forma de nos prepararmos para níveis competitivos superiores é vivermo-los e adaptarmo-nos gradualmente às respectivas exigências.

Como já ficou suficientemente clarificado, em tudo o que respeita ao processo de tomada de decisão, crescemos e evoluímos com o aumento gradual da oposição que encontramos e a competição é um decisivo factor estruturante da aprendizagem e do treino.

Reflectir sobre os erros e sugerir como corrigi-los, apresenta-se assim como a forma necessária de procedimento, para evitar que se repitam e se degrade o respectivo processo de aprendizagem em curso no treino. O que identifica o Coaching e o feed back como meios fundamentais de apoio à melhoria de competências no processo de tomada de decisão.

Aliás conforme muito bem confirma a transcrição seguinte, de texto publicado pelo jornalista Rui Dias no Jornal Record de 20/2/2001:

«Johan Cruyff costumava estabelecer um antagonismo entre Romário e Marco Van Basten, partindo do princípio que em miúdos eram ambos jogadores fora de vulgar. A diferença entre um e outro, residia no facto de no Ajax (clube onde fora formado Van Basten), se corrigiam os defeitos e se chamava a atenção do Marco, mesmo que tivesse feito cinco golos».

Nesta afirmação de Johan Cruyff, para além de nela podermos reforçar a tese da importância da acção dos professores e dos treinadores, ressalta ainda um outro aspecto a registar. É evidente a intenção destas palavras quanto à diferença das atitudes e comportamentos de um e outro jogador. Van Basten como modelo de grande jogador, não só no âmbito técnico, mas também no plano social e profissional, Romário como exemplo negativo das atitudes e comportamentos que são devidas a um profissional de desporto.

Um, Marco, porque recebeu em devido tempo o apoio e enquadramento que necessitava para complementar a sua grande valia técnica e táctica. O outro, Romário, porque desenvolveu livremente as suas brilhantes capacidades «aprendendo a jogar, jogando», mas faltou-lhe a intervenção educativa fundamental de treinadores e professores que o servissem, mais do que explorassem tão só a sua valia técnica e táctica.

Reforçando o necessário colectivismo do seu grupo de trabalho através de :

- Todo o tipo de situações que melhorem entre os componentes da equipa, a profundidade de uma inter relação pessoal e colectiva.

- Fazer ressaltar entre os respectivos membros, aquilo que os distingue dos outros grupos, as suas «praxes», as suas tradições, a sua história, etc., consolidando a sua unidade.

- Tornar semelhantes as atitudes e aspirações dos membros da equipa, apontando objectivos para a acção colectiva a desenvolver e regras disciplinares orientadoras da vida colectiva do grupo, extensivas a todos os seus componentes.

- Fomentar exercícios de treino cujo objectivo a alcançar dependa de todos, atribuindo prémios especificamente destinados a distinguir o grupo e não as individualidades.

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