I. INTRODUÇÃO

Todo em metal e plástico, mais pequeno que o meu telemóvel, o meu Datamóvel é a minha Internet de Bolso. Ligo-o ao computador portátil ou ao PDA (11) e aí fico vendo o correio, navegando na web, conversando. Experimento uma infinidade de formas de comunicar e acedo a informação infinita. O meu Datamóvel é o meu "Libro de Arena", portátil e com um número de páginas infinito, recorda-me Borges (2).

1. A comunicação móvel é o desafio tecnológico essencial do futuro próximo. Na sociedade da informação e do conhecimento inclusiva (3) que pretendemos construir a capacidade de multi-territorializar o espaço português com tecnologias móveis e inovadoras, é a agregação fundamental de valor ao nosso espaço nacional.

2. Portugal precisa, como qualquer outro país, de uma infra-estrutura de Banda Larga Móvel que permita uma comunicação de dados entre todos os cidadãos, em qualquer lugar, apostando na diversidade tecnológica e no apoio a projectos que enriqueçam a oferta.

3. Felizmente que responsáveis europeus demonstram uma consciência apurada sobre esta questão que promete ser crucial para o desenvolvimento dos países e territórios. Viviane Reading, Comissária Europeia responsável pela Sociedade da Informação e Média, num discurso proferido em Cannes, a 14 de Fevereiro de 2005, intitulado "Comunicações Móveis: Um motor-chave para fazer de Lisboa um êxito" afirmou:

"O que estamos a assistir é à emergência de serviços que combinam a banda larga com a mobilidade. Quando estes serviços tiverem um grande impacto social, eles produzirão também efeitos económicos significativos, potencialmente transformando o modo como realizamos os negócios." (4).

4. Esta consciência tem de ser interiorizada nas políticas nacionais que promovam a diversidade tecnológica e a inovação no campo das tecnologias de comunicação móvel de dados. Os países que mais cedo compreenderem o alcance deste novo paradigma comunicacional serão os casos de sucesso das próximas duas décadas, embora seja necessário considerar outros factores, como seja, a educação e a capacidade de organização.

II. DATAMÓVEL, o Cibernómada

5. Exigência da mobilidade, ou melhor da cibermobilidade, numa sociedade da informação e do conhecimento, é a existência de um equipamento que nos permita a comunicação de dados sempre "à mão" na expressão de Heidegger (5). Para compreender o significado deste equipamento, a saber: o Datamóvel, referência da sociedade informação móvel em que hoje nos transformámos, é conveniente ter em atenção duas premissas, a saber: a) que a comunicação de dados se vai sobrepondo à comunicação de voz; e que b) a comunicação de voz é cada vez mais dados, em particular de voz sobre IP (VOIP). É, assim, de concluir que a capacidade de comunicação reside cada vez mais na transmissão de dados de e para qualquer lugar, instantaneamente.

6. Neste contexto, um equipamento que nos permita comunicar dados em movimento é o instrumentum por excelência, no sentido Heideggariano da tecnologia (6), em tempos de cibernómadismo. Temos, assim, como expressão do tecno-paradigma actual em que vivemos, o DATAMÓVEL, resultado de querermos em todo-o-lugar e a todo-o-tempo comunicar dados.

7. O DATAMÓVEL é, pelas razões invocadas adrede, uma condição de desenvolvimento cuja operacionalidade se mede por três "números", a saber: Lugar, Banda e Tarifa. Sendo que " O número não é mais um meio de contar, mas de deslocação ..." (7); o número de Lugares abrangidos dá-nos a sua extensão, o número da Banda dá-nos a sua profundidade e o número da Tarifa dá-nos a sua utilidade.

8. Viabilizar um programa tecno-socio-económico desta natureza implica uma política pública de multi-territorialização do espaço com tecnologias diversas, que respondam a estes objectivos, abrindo dessa forma o caminho à inovação, à criatividade e à diversidade da oferta.

III. Multi-territorializar o Espaço Nacional

"As multiplicidades definem-se pelo lado de fora: pela linha abstracta, linha de fuga ou de desterritorialização, seguindo de acordo com ela, elas mudam de natureza ligando-se com as outras."

Gilles Deleuze
Felix Guattary (8)

9. Em Portugal, temos uma emergente actividade na construção da sociedade da informação e do conhecimento móveis com o aparecimento de soluções tecnológicas que resolvem esta necessidade de criar a oferta de datamóveis, nomeadamente: o Wi-Fi, o GSM/GPRS, o 3G e o CDMA 450.

10. Cada uma destas tecnologias constitui-se como um território. Assim, temos o território português do 3G e o território português do CDMA 450 por exemplo. Cada um ocupa o seu lugar no espaço nacional e agrega-lhe valor. É necessário agora ligá-los. Torná-los ligados é dar consistência ao espaço nacional, é tornar Portugal mais qualificado e competitivo, é garantir que temos uma infra-estrutura que assegura a fluidez do ciberespaço português.

11. O espaço português carece de investir na construção de territórios múltiplos e comunicantes. Criar redes de comunicação móvel baseadas em tecnologias diversas e inovadoras é mais do que um catálogo de oferta rico, é a construção de massa crítica capaz de enfrentar os desafios e as exigências de uma sociedade móvel e diversificada.

IV. TELEMODEM (12), um DATAMÓVEL a sério

12. Invocando inovação, merece atenção o novel território CDMA 450, porque ainda é desconhecido do mundo empresarial, dos profissionais liberais e do grande público, porque cobre a generalidade do território nacional e porque tem tarifários motivadores para um uso corrente. Esta tecnologia apresenta-se como uma tecnologia emergente e de grande alcance que poderá contribuir para agregar valor ao espaço nacional. Esta rede ao criar um novo território acrescenta Portugal.

13. Uma rede que cobre a generalidade do espaço nacional, com uma Banda que permite ir até aos 2.4 megabites por segundo e que, com facilidade, nos dá 512 kilobites por segundo oferecendo um tarifário na ordem dos 35 € mês para 2 GB, e tráfego ilimitado da 1h às 7h, o Telemodem Zapp 010 é um verdadeiro Datamóvel. Esta oferta constitui-se como um absolu local (10). É importante considerar que estas são questões de mercado mas também sociais e políticas. Nesta oferta, a extensão dos lugares é generalizada ao território nacional tornando-o mais coeso, a banda é larga e permite aceder a um conjunto alargado de conteúdos e o preço é suficientemente aceitável para ser útil a inúmeras actividades cujo retorno é de longo prazo. Deste modo, a oferta é factor para a mobilização de Portugal, leia-se, Portugal dotado de capacidade em tecnologia de informação e comunicação móvel.

14. A extensão do número de lugares abrangidos é um elemento, transcendente, na medida em que esse número tem o significado de acesso para todos e em todos os lugares. É assim, simultaneamente, duas formas de inclusão, torna coeso o espaço nacional e e-inclui todos.

15. O valor da Banda é o número da qualidade, do acesso ao conteúdo, e da fruição do tempo. O acesso de Banda Larga permite aceder a todo o conteúdo relevante e torna a experiênia interessante e motivante.

16. O preço torna utilizável o útil . Permite investir no longo prazo, alargar o número de actividades com acesso, que desse modo se tornam possíveis e realizáveis. O preço é mais do que a opção, é condição da racionalidade económica e de acesso O preço é, neste contexto, a quantidade de informação que se pode obter por um determinado valor.

V. CONCLUSÃO

17. O DATAMÓVEL é o "in place to be" e é a matéria-movimento. É a "matéria des-estratificada, des-territorializada" (9) na medida em que em todo o lugar tem a mesma função. O Datamóvel dá-nos a ubicuidade necessária à vivência em contacto perpétuo (10). O mundo que carecemos na nossa mão e à "mão" (5) é-nos colocado aí pelo DATAMÓVEL, ferramenta-prima da mobilidade. Por esta razão, termino com um pergunta que representa uma antecipação a um conceito actualizado de info-inclusão que ainda não é, mas que em breve será: e você já tem um?

NOTAS

(1) 1227 -Traité de nomadologie: la machine de guerre, Mille Plateaux, Capitalisme et Schizophrénie 2, Gilles Deleuze e Felix Guattary, Collection «Critique», Les Éditions de Minuit, 1980, página 435.

A citação não é exacta é uma perífrase. O original : "Quant à la machine de guerre en elle-même, elle semble bien irrédutible à l"appareil d"Etat, extérieure à sa soveraineté, préalable à son droit: elle vient d"ailleurs.". É substituída expressão "Máquina de Guerra" por Datamóvel e a expressão "Aparelho de Estado" por Telemóvel.

(2) Jorge Luis Borges, Libro de Arena, Emecé Editores España, S.A, 1997. No Epílogo da Obra, escreve Borges: " «El libro de arena», un volumen de incalculables hojas".

O livro de areia é um livro que tem um número infinito de folhas que nunca acabam pelo que é impossível aceder ao livro todo .

(3) §1, Declaração de Princípios, Cimeira Mundial sobre Sociedade da Informação - CMSI, Fase I, Nações Unidas, Genebra, 12 de Dezembro de 2003.

(4) Viviane Reading, Discurso proferido em Cannes a 14 de Fevereiro de 2005.

A tradução é livre a partir do documento SPEECH/05/90

(5) Martin Heidegger, Ser e Tempo, Parte I, página 148 e seguintes, Tradução de Márcia de Sá, Cavalcante, 3 Edição, Vozes, Petrópolis, RJ, Brasil, 1989

(6) Martin Heidegger, The Question Concerning Technology and Other Essays, Translated and witth an Introduction by William Lovitt, Harper Torchbooks, Harper & Row, Pulishers,1997

(7) Mille Plateaux, Capitalisme et Schizophrénie 2, Gilles Deleuze e Felix Guattary, Collection «Critique», Les Éditions de Minuit, 1980, página 484.

(8) idem, página 15

(9) idem, página 507

(10) idem, página 474

(10) Titulo da Obra editada por James E. Katz and Mark Aakhus, Cambridge University Press, 2002, "Perpetual Contact, Mobile Communication, Private Talk, Public Performance"

(11) PDA - designação corrente para "Personal Digital Assistant" em inglês e "Assistente Pessoal Digital" in: Wikipedia < http://pt.wikipedia.org/wiki/PDA >

(12) Sitío Web: http://www.telemodem.zapp.pt