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12 de Janeiro de 2006 às 13:59

Cinco ou seis candidatos de esquerda

Bem sei que a tradição diz que disputam estas eleições um candidato de direita e quatro (mais um) de esquerda. Mas não pode ser verdade. Quando acabei de ler a entrevista de Cavaco Silva ao Jornal de Negócios concluí: Este homem é de esquerda.

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Logo, confirma-se a tendência saída das legislativas de Fevereiro de 2005. O país virou tanto à esquerda que agora só mesmo quem vem dessa área política tem coragem de se candidatar à Presidência da República.

Pois não é que Cavaco é de opinião que a legislação do trabalho não é um grande obstáculo à competitividade, com excepção, talvez das pequenas e médias empresas. Está explicado o mistério que Mário Soares, também em entrevista a este jornal, não consegue resolver. O facto de muitos empresários apoiarem Cavaco resulta do consabido facto de ser socialmente mais fácil a políticos de esquerda aplicarem medidas de direita.

Pelo que os empresários que estão com Cavaco não cometeram o «erro fatal» de que fala Soares. Eles estão, conscientemente, a apoiar mais um candidato de esquerda.

Desfeito o principal equívoco destas eleições tudo se torna subitamente mais claro. Assim já se percebe porque, para lá das picardias e da agressividade verbal, estão em sintonia em tantas matérias os candidatos do arco de poder. Veja-se por exemplo como entre Cavaco e Soares de novo as diferenças são mínimas na defesa da manutenção dos centros de decisão nacionais das empresas de sectores estratégicos, com a manutenção das «golden shares» até onde for possível segundo Cavaco, que não quer ser «ingénuo» como «alguns economistas»; contra «a estratégia externa para dominar certos sectores», em versão Soares.

Tudo se resume, finalmente, a uma questão de estilo. Soares assume que é pouco «discursivo» e «mais interactivo» e promete mudar as presidências abertas para o mais inovador conceito de proximidade. No essencial, por muito que a sua concepção dos mandatos presidenciais seja de  moderador, vai haver agitação.

Cavaco Silva não podia ser mais preciso na descrição da forma como prevê actuar. Noutra entrevista diz detalhadamente como concebe a acção «preventiva» do Presidente sobre o Governo: primeiro não uma, nem duas... mas três conversas privadas e só depois «alguns alertas públicos» porque há muita coisa que pode ser resolvida «no recato dos gabinetes». E garantidamente «nunca» organizará um Congresso «Portugal que futuro?», naquela que é a resposta mais frontal que lhe ouvimos nos últimos meses. Está-se mesmo a ver porquê.

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