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Cícero mal traduzido

A Universidade portuguesa já descobriu o seu Brutus. Chama-se Sócrates. Vestido com a toga de defensor da democracia e da autonomia universitária tem a adaga escondida. Pronta a ser utilizada, enquanto ostenta um sorriso. Quando, sob o manto diáfano dos n

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Quando, sob o manto diáfano dos novos estatutos, se pretende permitir a uma Faculdade sair da Universidade de que faz parte sem que esta tenha uma palavra a dizer sobre o assunto, com base no ajuste directo com o ministro que tutela a área, ou que o reitor passe a ser eleito por um conselho de gestão que emana do próprio Governo, o que é que se pretende? Na Universidade, o Governo quer ter o copyright do bem. Quer substituir a dúvida filosófica pela certeza tecnológica.

Ao ficar com o segredo do elixir que garante a liberdade, o ministro pode escolher as principais universidades que possam ser os "primus inter pares". Cria a globalização universitária, permitindo aos detentores do saber tecnológico e da possibilidade de serem o íman do investimento externo, sobreviverem à fome dos que pouco têm. Os culpados pela sua pobreza passam a ser os que não conseguem inovar-se e lutar no mundo global. Perecerão atormentados pela sua própria culpa.

Como destruição das Universidades não rentáveis, o Governo segue a mesma lógica que aplica aos Hospitais. Chama-se a isto o terror vermelho. Cícero dizia: "numa República, uma regra deve ser observada: a maioria não deve ter o poder predominante". Sócrates nunca leu Cícero. Ou se leu, estava mal traduzido.

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