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11 de Janeiro de 2007 às 13:59

Calendário Missionário: "Cuidar da Terra!"

Há vários anos que venho lutando pela progressão do Desenvolvimento Sustentável em Portugal. Mas não tem sido fácil e, infelizmente, continuamos muito longe, ...

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Mas não tem sido fácil e, infelizmente, continuamos muito longe, não só da necessária massa crítica de competências nesta (nova) área do conhecimento, quer no sector público quer privado, como da massa crítica de Empresas Promotoras de Sustentabilidade. Mas talvez nem tudo vá assim tão mal neste domínio. De onde veio o exemplo? O presente de Natal que mais apreciei – e de que maneira – foi um simples calendário para 2007 dos Missionários Combonianos, cujo tema central é, e sublinho, "Cuidar da Terra".

Quanto orgulho senti por tal consciencialização da realidade actual, pela coragem e verdadeiro espírito de missão destes Missionários que viram no tema da Sustentabilidade uma oportunidade para enaltecer o Criador, procurando "alertar-nos precisamente para a necessidade de defender o planeta e a vida que ele sustenta, para a urgência de um Desenvolvimento Sustentável".

Tal como estes Missionários tão apropriadamente sublinham, também o trabalho com as empresas me demonstrou, claramente, que "não podemos dominar e dispor da Terra a nosso bel-prazer, saqueando-a e despojando-a até à exaustão". E o Calendário acrescenta que São Paulo "nos fala dos gemidos da criação e dos gemidos do Espírito"!

Continuamos surdos aos gemidos de sofrimento que a estrutura 20:80 do mundo actual vem gerando – com 20% da população a usufruir de 80% dos seus recursos –, com a maior parte do planeta a viver sob o signo da pobreza, da escassez e do desemprego, enquanto na parte restante domina a superprodução, a superabundância e o sobre consumo, e isto com base na canalização continuada de recursos naturais dos países em desenvolvimento para as regiões ricas do planeta. Que equidade social e ecológica há neste comportamento?

Porque não atendemos aos gemidos inerentes ao agravamento das desigualdades e, por exemplo, aos impactes económicos, sociais e ambientais da alteração (antropogénica) do clima? E aos da perda de biodiversidade e destruição do solo, da poluição contínua, e da degradação das funções que a natureza gratuitamente fornece à sociedade, e sem as quais nem concebemos, a prazo, a manutenção da vida, pelo menos tal como a conhecemos hoje? E porque não resolvemos com coragem a questão da enorme quantidade de desperdícios de matéria, energia e água associados aos actuais eco-ineficientes padrões de produção e consumo num planeta finito? Esta situação é agravada por uma população em crescimento que necessita de satisfazer, pelo menos, as suas necessidades básicas, o que implica maior pressão sobre os recursos naturais e a própria capacidade de assimilação da natureza. Esta situação, eticamente insuportável, é criada pelo Homem e, como tal, também ele a pode reverter faseadamente e com todo o seu poder criativo, desde que para isso tenha firme vontade de mudar atitudes e comportamentos para encontrar o equilíbrio entre objectivos de "Cuidar da Natureza", registar maior crescimento económico e conseguir maior equidade social – a tripla linha de base da gestão para a Sustentabilidade.

Havendo muito a fazer neste domínio no contexto cultural do país, talvez fosse útil começar por entender bem, sem fundamentalismos, a inter-relação entre economia e ecologia, e aplicar tal conhecimento à fundamentação das tomadas de decisões políticas, empresariais e do próprio cidadão comum. É que são as leis do Homem que têm de atender às leis da Natureza e não o inverso. Provavelmente, e tal como em outros países, iríamos sentir-nos incentivados a adoptar comportamentos mais solidários para com os mais necessitados e mais respeitadores da capacidade de assimilação dos ecossistemas, as unidades funcionais da Natureza cuja principal função é a manutenção da Vida no Planeta. Há regras e limites que temos de passar a respeitar para que esta utilização seja Sustentável. Por isso, um bem-haja aos Missionários Combonianos.

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