Opinião
Benefícios ou malefícios fiscais?
É antiga e nada consensual a discussão acerca da eficácia do uso de benefícios e incentivos fiscais (B&IF) enquanto via para, sem perda de equidade, melhorar a eficiência económica e o crescimento.
Segundo alguns autores, podem sistematizar-se a três níveis os justificativos para o uso de B&IF: o primeiro, derivaria da necessidade de internalizar, compensando, externalidades (positivas) geradoras de divergências entre custos e benefícios sociais; o segundo, decorreria do objectivo de alcançar certos fins estratégicos nacionais, por exemplo, no campo da diversificação da produção, do aumento da poupança/investimento, etc; o terceiro resultaria da existência de distorções económicas geradas por outras formas e modalidades de intervenção pública (subsidiação, regulação, etc.).
Contudo, no «mundo imperfeito» em que se decide e aplica a política económica, será útil, a nosso ver, criar ainda uma quarta categoria justificativa do uso de B&IF, que aqui designaremos por motivações de «competitividade e concorrência internacional», que agrupando justificações dos tipos identificados acima, as insere num contexto territorial mais amplo que o tradicional espaço nacional, com especificidade novas: a ocorrência a nível internacional de «efeitos externos» e de imperfeições dos mercados e das políticas.
Isto pode ser particularmente relevante no caso dos países que se defrontam com um duplo desafio: por um lado, e a nível interno, modernizarem e desenvolverem as suas economias; e, por outro lado, a «necessidade» de, para o alcançar, atraírem recursos, know-how, investimento, e «ganharem» mercados externos.
Conforme salienta Bolnick, 2003 (ver Caixa), as vantagens decorrentes do uso de B&IF são habitualmente «exageradas», e os custos frequentemente «subavaliados», pelo que há necessidade de conduzir análises sobre a respectiva eficácia e os benefícios líquidos deles derivados, que também ocorrem! Tal não é, como se sabe, tarefa isenta de dificuldades (também técnicas), pelo que esses estudos nem sempre abundam, privilegiando-se muitas as vezes o cálculo da chamada «despesa fiscal» ou receita fiscal cessante, aproximação parcial, estática, e meramente mecanicista ao fenómeno.
Entre nós, os dados existentes incorrem da mesma limitação (mea culpa, no que me toque...), mas sendo, mesmo assim, elucidativos da dimensão respectiva assumida. Assim, e segundo o Relatório do OE/2005, que em alguns casos adopta um conceito discutível de B&IF (porque não inclui certos abatimentos, mormente em IRS, que têm a natureza híbrida de dedução de um encargo e de um incentivo), o total da «despesa fiscal» atingirá no corrente ano os 1,2 mil milhões de euros, ou seja, 5% da receita dos impostos respectivos, e próximo de 1% do PIB. Pelo que, e ainda que o respectivo montante possa decrescer em anos futuros - efeito das medidas adoptadas pelo Ministro Bagão Félix, e cuja bondade económica foi (é) discutível -, trata-se de valor muito significativo, a exigir análise técnica e económica cuidadosa sobre a respectiva eficácia e correspondentes contrapartidas económicas e sociais.
Essa é seguramente a tarefa de que estão incumbidos os membros da comissão criada para o efeito no Ministério das Finanças, na sequência da Resolução do Conselho de Ministros de Junho passado, e cujas opções e resultados se esperam em breve.
Nota aos leitores e a futuros candidatos a Ministro das Finanças: 4 meses após a «previsão» aqui efectuada, a «maldição do IVA» cumpriu-se outra vez! Eu avisei, Professor...
> USO E EFICÁCIA DOS INCENTIVOS FISCAIS AO INVESTIMENTO | |
A FAVOR | CONTRA |
1 -Aumentam a rendibilida- | 1 -São onerosos do ponto |
de do investimento | de vista da receita fiscal |
cessante | |
2 -Compensam os “benefí- | |
cios externos” decorrentes | 2-Incentivam o uso de pla- |
do investimento | neamento e evasão fiscais |
3 -São instrumentos de fácil | 3 -São consumidores de |
utilização e monitorização | tempo e recursos por par- |
te da Administração fiscal | |
4 -Sinalizam positivamente | |
a abertura da economia ao | 4-Induzem ao aumento da |
sector privado | carga fiscal sobre outros |
sectores e actividades | |
5 -São necessários face à | |
mobilidade internacional do | 5 -Geram distorções eco- |
capital | nómicas, reduzindo a efi- |
ciência | |
6 -São úteis como resposta | |
à concorrência fiscal de ou- | 6 -Criam desigualdade |
tras jurisdições | entre contribuintes e “re- |
sistência fiscal” | |
7 -Compensam limitações | |
em outras áreas de atrac- | 7 -São pouco transparen- |
çãodocapital | tes e o seu controlo é limi- |
tado | |
8 -São indutores de receita | |
fiscal (aumento das bases | 8 -Incentivam práticas de |
tributárias) | corrupção |
9 -Têm vantagens políti- | 9 -Existem instrumentos |
cas quando comparados | mais eficazes para esti- |
com políticas de subsidia- | mular o crescimento e o |
ção directa (despesa | desenvolvimento |
pública) | |
10 -Os resultados da sua | |
10 -Existem experiências | aplicação a nível interna- |
e resultados positivos asso- | cional são pouco conclu- |
ciados ao seu uso | sivos |