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Michael Boskin - Economista 16 de Setembro de 2016 às 21:30

As diferenças de Clinton e Trump em termos económicos

Os dois candidatos concordam que os gastos em infra-estruturas são elevados. Infelizmente, e apesar de uma parte desses gastos serem responsabilidade do governo federal, nenhum dos candidatos explicou como é que o dinheiro não seria gasto de forma errada na politização ou no clientelismo.

A cerca de dois meses das eleições presidenciais nos Estados Unidos, Hillary Clinton está à frente de Donald Trump por cinco pontos nas sondagens, em termos nacionais e em vários estados importantes e que podem mesmo ser determinantes nestas eleições. Mas nada está ainda decidido, em especial devido aos discursos políticos e ao abanão na equipa de Trump. Isto já para não falar do escândalo dos emails que continua a ser uma praga para a campanha de Clinton, incluindo os emails recentemente divulgados entre os elementos de topo da equipa da Fundação Clinton e membros do Departamento de Estado que estavam sob a alçada de Clinton.

 

Em primeiro lugar, os gastos do Governo. Hillary Clinton é favorável a gastos com o estado social, tais como: expansão das prestações de segurança social (responsabilidades não financiadas que já excedem a dívida nacional), universidades públicas gratuitas e redução das dívidas dos empréstimos a estudantes. É também a favor que seja acrescentado o ponto "opção pública" ao Affordable Care Act (programa de cuidados de saúde acessíveis e de protecção dos pacientes) de 2010, conhecido por Obamacare. Hillary Clinton diz também que vai ampliar as políticas industriais dispendiosas em torno de energias verdes, que favorecem algumas fontes energéticas, e mesmo algumas empresas em detrimento de outras.

 

Por outro lado, Trump diz que vai deixar a Segurança Social tal como está, vai revogar e substituir o Obamacare e fazer com que os gastos do Governo sejam mais eficientes e eficazes (apesar de neste ponto não ser muito específico).

 

Em termos fiscais, Clinton diz que vai fazer com que o sistema fiscal nos Estados Unidos seja mais progressivo, mesmo sendo já o sistema mais progressivo entre as economias desenvolvidas. Especificamente, Clinton quer aumentos no que diz respeito aos impostos sobre as propriedades e sobre os contribuintes que têm os rendimentos mais elevados – o que também afecta as pequenas empresas – e o plafonamento das deduções. Assim, Hillary Clinton mostra uma pequena inclinação para baixar os impostos para as empresas.

 

Trump propõe impostos mais baixos para os particulares e para as empresas norte-americanas. Actualmente, os Estados Unidos têm uma taxa federal de impostos para as empresas de 35%, o valor mais elevado da OCDE. Trump está a propor baixá-la para um valor médio abaixo dos 15%, com os investimentos no primeiro de ano actividade de uma empresa a serem totalmente dedutíveis.

 

Em termos comerciais, Hillary Clinton opõe-se agora ao Acordo Transpacífico, um acordo comercial multinacional negociado pela administração Obama e por outros 11 países do Pacífico. Ao contrário do seu marido, que durante a sua presidência apoiou e assinou vários tratados de comércio livre, Clinton está a aproximar-se da ala mais proteccionista do Partido Democrata.

 

A postura de Clinton em termos de comércio internacional tem pouca coisa de recomendável, mas a de Donald Trump é ainda pior. Entre outras coisas, Trump ameaçou iniciar uma guerra comercial com a China e com o México e adiantou que vai renegociar os tratados comerciais já assinados pelos Estados Unidos. Compreensivelmente, tanto Clinton como Trump estão a dar voz aos trabalhadores de classe média e baixa, uma vez que a globalização os deixou para trás. Ainda assim, a melhor resposta política não é o proteccionismo (que vai prejudicar mais pessoas) mas ajudar de uma forma melhor os trabalhadores deslocalizados.

 

Por fim, Clinton e Trump têm posições diferentes relativamente ao défice orçamental e à dívida pública. A expansão da Segurança Social proposta por Clinton, bem como de outros gastos – como os seus planos para reforçar ainda mais o Obamacare, sem colocar limites aos custos das futuras prestações (segundo as projecções devem aumentar) - fazem pensar que durante a sua presidência o défice vai continuar. Algo que é muito diferente do historial do seu marido: Bill Clinton trabalhou com o Congresso, que era controlado pelos Republicanos, para equilibrar o Orçamento nos últimos anos da sua presidência. 

 

Recentemente, Trump reduziu os custos orçamentais das suas propostas em torno da redução de impostos, de modo a alinhá-las melhor com os objectivos dos legisladores Republicanos. Mesmo que sejam correctamente contabilizados para que representem um aumento das receitas de impostos oriundas do crescimento económico, Trump continua a ter de complementar os seus cortes nos impostos com controlos dos gastos e em especial com cortes nas prestações sociais. Por outro lado, a presidência de Trump pode também ter problemas sérios ao nível da dívida.

 

Os dois candidatos concordam que os gastos com infra-estruturas são elevados. Infelizmente, e apesar de uma parte desses gastos serem responsabilidade do Governo federal, nenhum dos candidatos explicou como é que o dinheiro não seria gasto de forma errada na politização ou no clientelismo. Os Estados Unidos não precisam de repetir o grande programa de estímulos através das infra-estruturas da administração Obama.

 

Dito isto, Hillary Clinton irá dar prioridade à redistribuição ao crescimento económico, enquanto Donald Trump está mais orientado para o crescimento económico. O crescimento económico dos EUA é uma preocupação mundial porque impulsiona o crescimento noutras regiões, através da procura dos consumidores norte-americanos, e o comércio. Mas as duas fontes primárias de crescimento, ganhos de produtividade e contributos do trabalho (tal como o número de horas que cada funcionário trabalha), caíram acentuadamente nos últimos anos. A economia norte-americana cresceu a uma taxa média anual de 3% durante as décadas posteriores à Segunda Guerra Mundial, mas não registou três trimestres consecutivos de crescimento de 3% na última década.

 

Há explicações diferentes para o abrandamento do crescimento da produtividade. Robert Gordon, economista da Universidade de Northwestern, aponta que a inovação tecnológica contribuiu menos para o crescimento económico do que avanços anteriores - como a electricidade, a locomoção, a aviação e os computadores. Lawrence Summers, economista da Universidade de Harvard, aponta para a "estagnação secular", um termo criado pelo economista Alvin Hansen, na década de 1930, para descrever a morna procura de longo prazo e as oportunidades insuficientes para um investimento rentável. Na minha opinião, são as políticas económicas pobres que desencorajam o investimento empresarial, o empreendedorismo e o trabalho.

 

As sondagens indicam que os eleitores indecisos não confiam em nenhum dos candidatos. Para ser eleita e ter verdadeiramente um mandato para adoptar a sua agenda, Hillary Clinton tem de ser mais transparente e honesta sobre os erros do seu passado. E em termos de política económica, deve mover-se para o centro, na direcção de medidas mais focadas no crescimento. E ficar longe das posições de esquerda que adoptou durante a campanha para as primárias contra o senador do Vermont, Bernie Sanders. Por sua vez, Donald Trump vai precisar de mostrar alguma humildade e inclusão e vai ter de estar aberto a conselhos de outras pessoas em questões que lhe falta experiência.

 

Os Republicanos estão numa batalha muito próxima com os Democratas para terem controlo sobre o Senado, mas provavelmente vão manter a maioria na Câmara dos Representantes. Em resultado disto, e em muitas questões políticas, todos os olhos estão em Paul Ryan, presidente da Câmara dos Representantes, que gostaria de ser um contrapeso – e um parceiro ocasional – de Clinton, ou um orientador e parceiro mais regular de Trump. 

 

Michael J. Boskin é professor de Economia na Universidade de Stanford e membro senior da Hoover Institution. Foi Chairman do Conselho de assessors económicos de George H. W. Bush’s Council of Economic Advisers de 1989 a 1993.

 

Copyright: Project Syndicate, 2016.
www.project-syndicate.org

Tradução: Ana Laranjeiro

 

*Este texto foi escrito pelo autor a 2 de Setembro

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